Política

Munícipes de Nancova querem medidas para aproximar serviços às áreas distantes

Nicolau Vasco

A administradora municipal do Nancova, Marta Cacuhu, ouviu dos habitantes da circunscrição sugestões para encurtar as distâncias entre as localidades e levar os serviços públicos mais próximos dos cidadãos.

01/04/2023  Última atualização 08H20
© Fotografia por: Nicolau Vasco| Edições Novembro

Marta Cacuhu disse que as opiniões convergem para a nova Divisão Político-Administrativa (DPA), que deve ir à discussão, porque acreditam vai trazer enormes benefícios àquela localidade, o menos populoso e desenvolvido da província do Cuando Cubango.

Nancova tem uma divisão territorial de 10.310 quilómetros quadrados e uma população estimada em três mil habitantes.

A localidade, a 350 quilómetros da cidade de Menongue, ressente-se da  falta de habitantes e importantes serviços sociais básicos, como estradas, escolas, unidades sanitárias, habitação, fornecimento de energia eléctrica e água potável, agência bancária e estabelecimentos comerciais.

O objectivo é  transformar Nancova numa placa giratória com os demais municípios que fazem fronteira com a vizinha República da Namíbia, nomeadamente, o Dirico, Calai e Cuangar.

 

Programa vistoso

O rei do Nancova, Mateus Tchipipa (Mwene Lito), disse que a implementação da Divisão Político-Administrativa é um programa vistoso para os habitantes da província do Cuando Cubango e, em particular, do seu município que verão muitos problemas resolvidos.

 Sublinhou que, pelo facto de o Cuando Cubango ser a segunda maior província do país com apenas nove municípios, dispõe de um vasto território em que as localidades estão bastante distanciadas uma das outras e apresentam enormes problemas de falta de infra-estruturas, sobretudo, vias de comunicação em condições, habitação, energia, água potável, escolas e unidades sanitárias.

 Mateus Tchipipa realçou que a DPA poderá contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população em função da aproximação dos serviços sociais básicos às localidades recônditas e diminuirá, igualmente, as assimetrias das regiões. Reiterou que permitirá melhor organização das províncias menos habitadas e com grande extensão territorial, a exemplo do Cuando Cubango e Moxico.

 O soberano discorda da ideia de que a DPA seja implementada de forma faseada por se tratar de um benefício conjuntural e ambicioso que deve abranger de uma só vez todas as províncias, municípios e comunas, para se evitar descontentamento e êxodo das populações situadas nas regiões subdesenvolvidas.

 Para o rei do Nancova, a nova Divisão Político-Administrativa será uma mais-valia para o Cuando Cubango, uma vez que se justifica a divisão em duas províncias e a elevação de muitas comunas à categoria de municípios, no sentido de encurtar o distanciamento existente entre as localidades a mais de 100 quilómetros.

 Actualmente, disse que, conforme está a divisão do Cuando Cubango, o Governo enfrenta sérias dificuldades para fazer chegar os serviços públicos às populações dos municípios do interior, com realce para o Rivungo, Dirico, Calai, Cuangar, Mavinga e Nancova, devido à distância e o estado avançado de degradação das vias de acesso.

 Tchipipa destacou que a efectivação da iniciativa trará às populações do Nancova os benefícios que tanto almejam para o seu bem-estar social e a região será uma localidade de trânsito para os municípios a Norte e Sul da província, tanto por via terrestre como fluvial, através rio Cuito que dispõe de um caudal flutuante e desagua no rio Cubango, que sustenta a bacia de Okavango, no município do Dirico, limítrofe com a Namíbia.

 

Dificuldades actuais

 Com uma extensão territorial de 10.310 quilómetros quadrados, a localidade de Nancova está situada no Centro da província do Cuando Cubango. Faz fronteira a Norte com o município do Cuito Cuanavale, a Leste com Mavinga e a Sul com os municípios de Dirico, Calai e Cuangar. É uma das regiões do Cuando Cubango com mais dificuldades para as pessoas se deslocarem.

 O Nancova conta com uma comuna (o Rito), considerada uma região mais desenvolvida em termos de infra-estruturas sociais, que a própria sede municipal, devido à progressão de ravinas que ameaçam engolir diversos edifícios e residências das populações.

A viagem de automóvel de Menongue para o município do Nancova, passando pelo Cuito Cuanavale, dura cerca de 12 horas nos mais de 340 quilómetros. O grande calvário é movido pela inexistência de boas estradas, pontes e com inesperados perigos de ravinas e árvores ao longo da via.

 Dos mais de 350 quilómetros, 189 quilómetros da cidade de Menongue ao Cuito Cuanavale estão asfaltados. O percurso é feito no intervalo de duas horas independentemente do veículo automóvel. Do Cuito Cuanavale ao Nancova, o itinerário de mais de 160 quilómetros é caracterizado por picadas e terreno arenoso que faz com a viagem demore mais de 10 horas.

 A falta de uma ponte sobre o rio Longa, a poucos quilómetros da sede municipal, obriga a que os viajantes com as mercadorias sejam transportados de canoa à outra margem de acesso à sede municipal do Nancova.

 O Jornal de Angola apurou que a complexidade das vias de acesso tem sido, até agora, o principal empecilho para quem deseja deslocar-se de Menongue ou outra localidade à sede municipal do Nancova. Além disso, o viajante enfrenta outros desafios, piores relacionados com as altas temperaturas que, às vezes, rondam os 38 graus Celsius e faz com os motores das viaturas aqueçam e atrasem ainda mais a viagem.

 O soberano Mwene Lito lamentou que os habitantes de Nancova vivam uma realidade bastante desoladora, consubstanciada, principalmente, falta de boas estradas. Isto, explicou, faz com que o município seja o menos desenvolvido e povoado da província do Cuando Cubango.

 Sublinhou que, por causa das más condições das vias de acesso da principal estrada, muitos viajantes optam por um outro percurso mais acessível, mas que têm de percorrer 700 quilómetros da cidade de Menongue até Nancova, passando pelos municípios do Cuangar e Calai, tudo porque a actual trajectória mais curta, de 363, na via do Cuito Cuanavale, está desunida por falta de uma ponte sobre o rio Longa, a poucos quilómetros da sede municipal.

 "A par de alguns municípios mais recônditos, para se deslocar até ao Nancova é obrigatório utilizar apenas viaturas com tracção 4x4 ou 6x6 (Land-Cruiser e Kamazes) adaptáveis, sendo as únicas viaturas mais versáteis e adaptáveis para ultrapassar os vários obstáculos da caminhada”, explicou.

 O soberano mostrou-se esperançado com o anúncio feito, recentemente, pelo governador do Cuando Cubango, José Martins, segundo o qual as autoridades vão, brevemente, construir duas pontes sobre o rio Longa e Npale-Npale, que será uma mais-valia para permitir melhor mobilidade das viaturas e atenuar o sofrimento da população do Nancova.

 José Martins anunciou, também, a retoma das obras de 163 quilómetros entre os municípios do Cuito Cuanavale e do Nancova, cujo início está a depender da conclusão dos trâmites administrativos e jurídicos para a validação da empreitada e a consignação.

 Por isso, Mwene Lito frisou que a falta de, pelo menos, uma agência bancária constitui um dos graves problemas no município, que obriga os funcionários públicos a terem de se deslocar até ao Cuito Cuanavale ou à cidade de Menongue à procura destes serviços.

 "E para quem pretende procurar esses serviços, é obrigado a gastar mais de 40 mil kwanzas. Custos que vão muito aquém das suas receitas salariais. Por isso, a implementação da DPA e de subsídios para os funcionários em localidades cada vez mais recônditas é uma boa medida para aliviar as dificuldades e diminuir o custo de vida”, concluiu.

Falta de agentes económicos

Por estas razões, disse vários agentes económicos e empresas de construção civil se recusam a trabalhar nesta área de jurisdição. A título de exemplo, no ramo comercial, a sede municipal dispõe apenas de uma cantina, que comercializa produtos alimentares da cesta básica e alguns produtos industriais.

 A mesma realidade regista-se na construção civil que, por causa das enormes contrariedades nas vias de acesso, tornam a venda de materiais demasiado cara, condicionando a conclusão de vários projectos. Por este facto, na sede municipal estão visíveis dezenas obras sociais inacabadas e paralisadas há mais de dez anos.

 Mateus Tchipipa apontou como principais obras paralisadas as de construção da Administração Municipal, escolas, unidades sanitárias e mais de 10 casas sociais, que estavam a ser erguidas no âmbito dos 200 fogos habitacionais desde 2013, entre outros projectos.

 "Face a esta degradável situação, gostaríamos que muitas destas obras fossem inseridas no Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), para que sejam concluídas a curto prazo”, disse, acrescentando que as casas sociais vão dar maior dignidade aos funcionários públicos, sobretudo, dos sectores da Saúde e Educação, provenientes na maioria de outras regiões.

 Mwene Lito frisou que a presença de minas é um outro problema que inibe e periga a vida das comunidades. 90 por cento da população sobrevive da prática da agropecuária e não consegue desenvolver as suas actividades, de forma segura, por causa dos engenhos explosivos.

 Solicitou ao Governo a mobilização de uma equipa de desminagem para a remoção dos engenhos explosivos em Nancova, que ainda conta com muitos campos minados, sobretudo, nas zonas antes consideradas posições militares, para dar lugar à implementação de campos agrícolas e a construção de importantes infra-estruturas sociais.


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