Política

Mulheres querem ser vistas como parte integrante no processo da Paz e Democracia

Nilza Massango

As mulheres que participaram no 1º Fórum Internacional da Mulher para Paz e Democracia concluíram, sexta-feira, que para a paz e democracia é preciso que o exercício se faça de forma conjunta, onde a figura feminina deve ser vista como parte integrante do processo.

27/05/2023  Última atualização 09H35
© Fotografia por: Edições Novembro

Ao discursar no encerramento do referido fórum, que juntou centenas de mulheres de vários países e estratos sociais, a ministra de Estado para Área Social, Dalva Ringote, falou da necessidade de se alterar o paradigma do diálogo para a paz e democracia, visto que a mulher alcançou outros patamares, que no caso de Angola acontece há alguns anos, com maior ênfase em 2017,  com a aposta do Presidente da República, João Lourenço, às causas das mulheres.

Segundo Dalva Ringote Allen, as contribuições apresentadas durante os dois dias de debate representam a preocupação que a mulher, enquanto cidadã do mundo, enfrenta sobre conflitos, segurança  alimentar e ambiental, assim como a necessidade de se aprofundar os mecanismos de  concertação, articulação política, económica  e social entre mulheres e homens.

"O que nós discutimos aqui neste fórum, com todas as visões e perspectivas, ficou claro de que a paz, a democracia, educação e saúde devem emergir da família, por continuar a ser o núcleo fundamental para a construção de sociedades dignas, inclusivas e sustentáveis”, defendeu, acrescentando que os debates mostraram, também, que as mulheres podem correr riscos, reinventar e buscar os seus caminhos, percorrendo sem medo, encontrar desafios, reconhecê-los e ultrapassá-los com disciplina e foco.

A ministra de Estado disse acreditar que  a realização do Fórum, que juntou  centenas de mulheres de várias partes do mundo, línguas e diferentes estratos sociais, aconteceu, principalmente,  porque existe um compromisso firme do Governo de Angola em continuar a trabalhar para garantir que a mulher, em particular a angolana, continue a ocupar lugares cimeiros no contexto nacional, regional e internacional.

Dalva Ringote Allen destacou a intervenção feita pela Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, assim como os cinco painéis de discussão, que foram ricos em abordagens e pontos de vista  diferentes. "Esperamos que o próximo fórum possa trazer maiores discussões e questões mais diversificadas”, salientou.

Fez ainda referência às duas aulas magnas, com a participação do professor Papa Abdoulaye Seck, ex-ministro da Agricultura e Equipamento Rural e embaixador do Senegal na Itália, que dissertou sobre a segurança alimentar, um tema estratégico para África, e que não pode ser uma equação trazida de fora, mas feita em atenção aos seus valores, recursos, condição, para se poder potenciar o continente.

Sobre a aula magna com a conselheira do Secretário-Geral das Nações Unidas para África,  Cristina Duarte, na qual participaram estudantes universitários, referiu que foi a quebra do paradigma do financiamento para África.

Na aula magna, Cristina Duarte falou sobre o financiamento do desenvolvimento em África, que clama por uma mudança de paradigma, e sobre o papel motor dos recursos domésticos.

O  1º Fórum Internacional da Mulher para Paz e Democracia também foi  um mo-mento de exposição de arte,  com destaque para a africana, de mulheres jovens que acederam ao convite e fizeram parte do evento. Foi também um instante de música, que animou o ambiente, com a actuação das artistas Ângela Ferrão, Selda e Afrikanita.

Dalva Ringote Allen agradeceu as participações, almejando um novo encontro com a realização da Bienal de Luanda, que vai decorrer de 20 a 24 de Novembro deste ano.

A Bienal de Luanda é o Fórum Panafricano com o objectivo de promover a paz, cultura, democracia e reconciliação. A sua realização, segundo a ministra de Estado para a Área Social, é de uma perspectiva bilateral, que só acontece mediante concertação com a União Africana e as Nações Unidas, por via da UNESCO.

Participaram no evento cerca de 1200  convidados, dos quais 545 mulheres  na sessão de abertura.

Depois do encerramento do Fórum, os participantes, incluindo a antiga Presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, visitaram, no período da tarde, o Memorial Dr. António Agostinho Neto, onde numa visita guiada ficaram a saber mais sobre a vida, obra e legado do Primeiro Presidente de Angola.

Ellen Johnson, acompanhada pela ministra de Estado para Área Social, Dalva Ringote, entrou no sarcófago de Agostinho Neto e assinou o livro de dedicatórias do museu. Em poucas linhas, Ellen Johnson, ao revisitar o lugar, fez referência de boas lembranças com o país, numa das suas visitas a Angola.

  Segurança Alimentar e Alterações Climáticas

A comissária da União Africana para Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável, Josefa Sacko, que falava no painel sobre "Os Desafios da Segurança Alimentar e Alterações Climáticas no Continente Africano”,  garantiu que África, tendo 60 por cento de terras aráveis não cultivadas, uma vantagem sobre outras regiões, não pode estar no estado de insegurança alimentar.

Josefa Sacko salientou que as questões de segurança alimentar e alterações climáticas devem estar na mesa de todos os debates, para se perceber as reais causas da insegurança alimentar em África.

A dirigente africana acrescentou que os factores que levam à insuficiência alimentar do continente estão ligados aos conflitos, às questões económicas, ao surgimento da pandemia da Covid-19, bem como à guerra entre  a Ucrânia e Rússia.

A comissária da União Africana para Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável, Josefa Sacko, disse que as regiões mais afectadas pelo impacto das alterações climáticas é a África Subsaariana, isso na zona da SADC.

Em África, realçou, as acções de adaptação devem ser a prioridade do continente, tendo lembrado a sua participação na COP 21, em 2015, onde se falou da Agenda das Alterações Climáticas, e frisado que os países africanos utilizam apenas dois por cento do seu orçamento para as actividades climáticas.

A título de exemplo, Sacko falou de Angola, que realizou o programa de meditação das alterações climáticas, criando o Canal do CAFU.

 

Aposta na Agricultura

No mesmo painel, o ex-ministro da Agricultura e Equipamento Rural e embaixador do Senegal na Itália, Papa Abdoulaye Seck, contou a experiência do seu país sobre as alterações climáticas e factos  da vida das populações e das mulheres, em particular  na segurança alimentar, com a criação do sistema próprio para garantir melhores condições.

Papa Seck destacou as potencialidades do nosso continente, mas com uma população jovem com grande debilidade no sector da Agricultura e a insuficiente tecnologia. A produção de arroz em África, por exemplo, afirmou ser cada vez mais como um produto estratégico.

O antigo ministro da Agricultura e Equipamento Rural e embaixador do Senegal na Itália garantiu que África pode ser auto-suficiente em termos de arroz, se houver maior aposta na produção agrícola, permitindo desta forma exportar 100 milhões de toneladas por ano.

"Existe um paradoxo muito grave pelo facto do continente ter um potencial agrícola muito forte, que infelizmente não é explorado. Temos um continente com muitos pesquisadores e se pretendemos im-

portar devemos fazer as coisas com uso da inovação tecnológica”, adiantou Seck .

Papa Seck, fez saber que as mudanças climáticas não devem ser consideradas como fatalidade, mas sobretudo como uma equação, que deve ser entendida por meios científicos. "Para resolver a equação é necessário que haja um elemento importante que é a pesquisa cientifica”.

A conselheira do Secretário-Geral da ONU para África, Cristina Duarte, que fez uma abordagem desafiadora em torno daquilo que é a realidade da segurança alimentar em África, que está muito abaixo do desejado, defende que as Nações africanas devem conseguir economias produtivas para a mudança do paradigma.

África, ressaltou, representa cerca de 17 por cento da população mundial, mas o continente africano representa somente três por cento em termos de consumo energético, um por cento do consumo de energia para indústria e o sector agrícola só tem a diferença de dois por cento.

A directora-adjunta da Organização das Nações Unidas para  Alimentação e Agricultura (FAO), Maria Semedo, reconheceu a evolução de Angola na produção agrícola, desde 2014, tendo apontado a transformação dos campos de guerra para terras de produção de alimentos.

Maria Semedo disse que a desminagem das terras permitiu  produzir, criar riqueza e alimentar as populações nas zonas rurais. " Este é um exemplo claro que com visão e investimento, a paz pode trazer segurança alimentar”, referiu.

Sobre a situação da segurança alimentar em África, avançou que existe ainda um número elevado de pessoas que sofrem com a fome e com a insegurança alimentar.

A directora-adjunta da FAO assegurou que, se as organizações africanas investirem no sector da Agricultura, o continente vai conseguir abastecer o mundo, visto que as alterações climáticas estão a reduzir. Deste modo, acrescentou que as dificuldades estão a ser solucionadas para que a África venha a conhecer melhorias em todos os sectores.

Mulher na consolidação da paz e prevenção de conflitos

Ao intervir no painel sobre "O Papel da Mulher na Consolidação da Paz e Prevenção de Conflitos”, a enviada especial do Secretário-Geral da ONU para a RDC e chefe da  MONUSCO, Bintou Keita, disse ser mais complicado lidar com os desafios nos lugares sem paz, e fazer com que o papel da mulher  seja reconhecido  como contribuição para a resolução de conflitos.

Acredita que é através da Educação, que é importante, que se muda a mentalidade, porque são as mulheres  que acabam por transmitir aos homens os valores desde tenra idade. Por isso, disse ser necessária responsabilidade sobre o que vai ser transmitido para as próximas gerações.

Bintou Keita defende que a aposta deve incidir, também, na escolha de uma governação política e social, de forma a corrigir a discriminação, marginalização e exclusão.

"O papel das mulheres na criação da paz e resolução de conflitos tem a ver com todos os temas debatidos desde o inicio do fórum, bem como as suas barreiras”, disse.

  Um fórum incerido na Bienal de Luanda

O I Fórum Internacional da Mulher para Paz e Democracia decorreu sob o lema "Inovação Tecnológica como Ferramenta para o Alcance da Segurança Alimentar e Combate à Seca no continente africano”. O mesmo inseriu-se no âmbito da Bienal de Luanda - O Fórum Pan-Africano para a Cultura da Paz e Não-Violência, uma iniciativa conjunta do Governo angolano, UNESCO e da União Africana, com o objectivo de promover a paz, prevenir a violência, fomentar a resolução pacífica de conflitos e o incentivo ao intercâmbio cultural em África e o diálogo intra-geracional.

Um dos objectivos centrou-se na reflexão da paz e democracia no continente africano e na reafirmação do compromisso político com a igualdade de género, empoderamento da mulher e meninas.

No âmbito da realização do referido fórum, a Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, recebeu, em audiência, a ex-Presidente da Libéria e Prémio Nobel da Paz 2011, Ellen Johnson Sirleaf, a enviada especial para Mulher, Paz e Segurança da União Africana, Bineta Diop, e a representante especial do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para a República Democrática do Congo (RDC), Bintou Keita.

No encontro, Ellen Johnson, a primeira mulher eleita para dirigir a Libéria, felicitou Esperança da Costa por ter  alcançado, como mulher,  o mais alto nível, sendo Vice-Presidente da República de Angola.

Angola, a nível da composição  do Parlamento, conta com cerca de 49 por cento de mulheres, 40 por cento no Governo, e em alguns órgãos partidários, como o MPLA, com uma  participação de 51 por cento, um número acima da presença masculina, o que demonstra um factor positivo de impulso para que a mulher possa, efectivamente, assegurar e dar o seu contributo para a paz e democracia em África.

Ainda do ponto de vista dos órgãos de soberania, o país tem no Governo, como Vice-Presidente, uma mulher, assim como no Parlamento e mulheres nos órgãos judiciais.

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