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Motorizadas “monopolizam” actividade de táxi na cidade de Ondjiva

Domingos Calucipa | Ondjiva

Jornalista

Motorizadas de duas e de três rodas passaram a ser os principais meios de transportação de passageiros e mercadorias na cidade de Ondjiva, a capital da província do Cunene, nos últimos tempos, com a degradação e saída da corrida dos turismos de marca Toyota Corolla azuis e brancos.

16/01/2023  Última atualização 06H05
Moto-táxis constituem alternativas aos táxis convencionais na sede provincial do Cunene © Fotografia por: DR

Com a proibição de importação de veículos ligeiros com mais de três anos de uso, através do Decreto Presidencial 62/14, de 12 de Março, que regulamenta a importação, comércio e assistência técnica de equipamentos rodoviários, aliviada em 2018 com o Decreto 161/18, de 5 de Julho, que alargou os anos de uso para seis, bem como o agravamento das taxas aduaneiras, muitos não têm encontrado alternativas senão optar pela compra de motorizadas para transporte próprio ou para actividade de táxi, conforme apurou o Jornal de Angola.

Adquiridas em qualquer lugar do país, numa das áreas do comércio normalmente dominada por cidadãos chineses, vietnamitas e indianos, as motorizadas na cidade de Ondjiva substituíram quase na totalidade os táxis convencionais.

  São denominados kupapatas (voadores, do umbundu para português) em algumas localidades do país e moto-taxistas ou motoqueiros para muitos, expressões que forçosamente entraram para o vocabulário dos angolanos nos últimos anos, particularmente em Ondjiva, onde o tempo tirou de serviço os Toyota Corolla. Chegam a Ondjiva de distintos pontos, como Lubango, Caluquembe e Quipungo (Huíla) e de outras províncias, como Huambo e Bié. Para eles, a capital da província do Cunene é tida, hoje, como o "el-dourado" no que ganhar dinheiro com motorizadas diz respeito.

É na ocasião onde está o aproveitar, como diz um velho ditado.

Carregam passageiros, por vezes dois, três ou mesmo quatro na motorizada, além de mercadorias, onde a corrida custa entre 150 e 300 kwanzas dentro da cidade, que pode subir para 1.000 ou mais no período da noite ou em função do percurso.

O meio tornou-se o transporte comum do dia-a-dia para os alunos na ida e regresso da escola, para os funcionários de e para o local de trabalho, o transporte de doentes para o hospital, as deslocações para as compras nos mercados ou para a igreja, transformando-se em alternativa às viaturas em crescente retirada da actividade de táxi, uma ocupação que se tornou bastante lucrativa para os donos das motorizadas.

   Raimundo Khole, um jovem moto-taxista proveniente do município da Matala, Huíla, disse que por dia tem conseguido facturar em média cinco mil kwanzas com a sua motorizada, numa actividade que inicia desde às seis horas e só termina perto das 21 horas.

A província do Cunene, a exemplo de outras, recebeu autocarros que foram distribuídos às empresas de transporte, que estão apenas a se dedicar às vias longas, ao lado dos Hiaces, azul e branco, com preferência às linhas Ondjiva-Namacunde-Santa Clara, Ondjiva-Xangongo ou Ondjiva-Lubango.

 

Um figurino incomum

 Considerada como uma nova realidade, "a quantidade de motorizadas ao serviço de moto-táxi no casco urbano da cidade de Ondjiva está não só a criar alguma perturbação no ordenamento do trânsito, como está também a tirar a estética” à urbe, ao se tornar o meio de transporte mais usado pelos munícipes, observou o sociólogo Garcia de Jesus Ndahepele.

   Para o sociólogo, não obstante o serviço de moto-táxi na cidade ser a fonte de sustento de muitos jovens, o certo é que esses meios não oferecem qualquer segurança aos passageiros, sobretudo a crianças, mulheres grávidas e idosos que, nas suas deslocações para a es-cola, hospital ou outro lugar, não encontram alternativas de transporte.

   Disse que ao proliferarem pela cidade, na sua maioria sem o mínimo de conhecimento do Código de Estrada e sobre motorizadas identificadas com matrículas, os moto-taxistas dão alguma "sensação de desordem”, apesar de prestarem um trabalho útil.

"A nova realidade de transportes públicos da cidade é deveras preocupante. É um fenómeno de motorizadas no casco urbano. Quase que já não se vê um único carro azul e branco nas ruas a fazer táxi, o meio no país tido até então como o convencional”, constatou Garcia Ndahepele.

O sociólogo notou que, numa altura em que o país elegeu o turismo como uma das grandes apostas, rumo à diversificação da economia, a ausência de táxis na cidade pode ser um factor inibidor à actividade turística. "Os turistas assim inibem-se, porque noutros países da região não é assim, não usam motos, por isso não podemos ser diferentes”, assinalou.

 

Moto-taxistas sensibilizados

Ante essa nova realidade, deu-se início, há dias, uma campanha de sensibilização aos moto-taxistas, na sua maioria a exercerem a actividade ilegalmente, sobre a necessidade de aderirem às escolas de condução para adquirir a carta ou a licença de condução, documentos que os habilita a circular na via.

   A iniciativa, que teve começo no Cuanhama, que tem como sede a cidade de Ondjiva, e vai estender-se aos restantes cinco municípios, é do Gabinete Provincial dos Transportes, Tráfego e Mobilidade Urbana, em parceria com a Polícia Nacional, tendo em atenção o Decreto Presidencial 23/22, de 30 de Maio, que legaliza o exercício da actividade de moto-táxi.

Segundo a directora do Gabinete Provincial dos Transportes, Tráfego e Mobilidade Urbana do Cunene, Geraldina Paredes, o trabalho iniciado visa sensibilizar os moto-taxistas, no sentido de respeitarem aquilo que são as normas de condução na via pública e a aderirem às escolas de condução nas localidades onde estas existem.

A responsável disse que as administrações municipais vão criar salas específicas de formação para moto-taxistas, ao mesmo tempo que o Gabinete está a manter contacto com as Escolas de Condução, no sentido de estas passarem a dar formação que tenha duração mínima de cinco meses. Geraldina Paredes,que  admitiu que as motorizadas são o meio de transporte mais usado hoje pela população na província, disse haver toda a necessidade de disciplinar a circulação desses meios, sobretudo nos centros urbanos, onde no dia-a-dia se verifica manobras perigosas e vários acidentes por desconhecimento das regras na via.

  "O novo regime jurídico veio acautelar o exercício dessa actividade, com o início da sua implementação dentro de tempos haverá sanções para aqueles que não cumprirem com a norma vigente”, alertou a responsável dos Transportes no Cunene.

Contudo, a directora disse que o Gabinete tem estado a manter contacto com alguns empresários do ramo que pretendem implementar os serviços de táxi urbano na cidade de Ondjiva. "Temos em carteira conversações com três empresas, que estão neste momento num processo de organização das condições de espaço”, assegurou.

 

Vítimas nas estradas

Pelo menos 87 acidentes de viação, envolvendo motorizadas, foram registados durante o terceiro trimestre deste ano na província do Cunene, que tiveram como resultado nove mortos e 103 feridos.

   De acordo com o chefe do Departamento de Trânsito e Segurança Rodoviária do Comando Provincial da Polícia Nacional do Cunene, o superintendente-chefe Salvador dos Santos, no último trimestre houve diminuição de mortes, quando comparado com o anterior que assinalou 16 óbitos, enquanto o número de feridos subiu de 86 para 103.

   Salvador dos Santos observou que não obstante a redução dos acidentes de viação envolvendo motorizadas durante o terceiro trimestre deste ano, "ainda sentimos que temos muito que fazer para reduzir a sinistralidade rodoviária”.

  Aquele oficial superior da Polícia Nacional disse que o número de acidentes na província envolvendo motorizadas é justificado com a ausência de táxis convencionais de passageiros, o que faz com que os moto-taxistas ganhem lugar, sobretudo na cidade de Ondjiva.

"É o transporte que a cidade oferece neste momento. Só que não são seguras  porque boa parte dos moto-taxistas não está habilitada, desconhece as regras de trânsito e seus regulamentos”, concluiu Salvador dos Santos.

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