Cultura

Monumentos e sítios são parte do desenvolvimento da região

Fernando Neto | Mbanza Kongo

Jornalista

Os habitantes da cidade de Mbanza Kongo, Património Mundial da Humanidade, desde 2017, têm beneficiado de recomendações fundamentais para a compreensão da importância dos monumentos e sítios e consequente preservação e divulgação, avançou, ontem, ao Jornal de Angola, André Nlandu.

18/04/2023  Última atualização 08H48
© Fotografia por: Garcia Mayatoko | Edições Novembro

O membro do Comité de Gestão do Centro Histórico de Mbanza Kongo, especialista em salvaguarda do património africano nas opções de Bibliotecas e Arquivos, disse, à margem do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, que hoje se celebra em todo o mundo, que a sensibilização visa inculcar na população os valores do Património Cultural.

"A interacção da população local com os diversos monumentos e sítios da região melhorou significativamente. No passado quando se falava da necessidade de conservação do Kulumbimbi, do Museu dos Reis, da mística árvore Yala Nkuwu e outros atributos históricos, muitos não entendiam a razão, porque desconheciam a importância desses sítios históricos nas suas vidas, na comunidade local e no mundo”, frisou André Nlandu.

A efectivação do processo de apropriação, disse, passa pelo conhecimento que os munícipes devem ter sobre os atributos histórico-culturais que fazem parte da memória colectiva e são factores de coesão social, como também devem contribuir para o desenvolvimento económico da região.

"A medida que as pessoas tomam conhecimento da importância dos monumentos e sítios, aumenta cada vez mais a sua interacção com os mesmos, assim passam a valorizar e ajudam a preservá-los como uma herança e oportunidade para melhorar as suas condições de vida”, sublinhou.

Em termos de conservação, salienta que a melhoria das condições destes sítios históricos está alinhada à perspectiva do relançamento da economia local, razão que sustenta a defesa da necessidade de existir iniciativas, tanto públicas como privadas, para se aproveitar melhor as potencialidades no ramo do turismo histórico e religioso que Mbanza Kongo apresenta, através da criação de pacotes turísticos atractivos para nacionais e estrangeiros.

"Mbanza Kongo ganhou bastante visibilidade desde a sua inscrição na lista do Património Mundial da Humanidade, agora deve-se atrair investimentos para se criarem condições que favoreçam a estadia e a mobilidade dos visitantes nacionais e estrangeiros”, explica.

 

Monumentos são parte do desenvolvimento da região

André Nlandu disse que, após a elevação de Mbanza Kongo a Património, em 2017, foram marcados passos significativos no processo de conservação dos monumentos e sítios locais, no sentido de torná-los parte do desenvolvimento sustentável da região, cujo sucesso depende do contributo de cada órgão e de cada cidadão.

"Devemos lembrar que o Património histórico-cultural constitui um dos elementos que garante um desenvolvimento duradouro e sustentável, por isso, devemos olhar para ele como uma força para a execução das tarefas em prol da garantia do bem-estar, combate à pobreza e melhoria da qualidade de vida da população”, acrescentou.

Para tal, o especialista em salvaguarda do património africano nas opções de bibliotecas e arquivos, afirmou que o património material (monumentos e sítios, danças e gastronomia) e imaterial (língua kikongo, ritos e rituais, mitos e crenças), precisa ser potenciado para que turisticamente concorram na atracção de receitas, de modo a contribuírem para a melhoria do futuro da comunidade local.

 

Zaire e os seus monumentos e sítios

Dos atributos que sustentam o património histórico-cultural de Mbanza Kongo, destaca-se as ruínas do "Kulumbimbi”, a primeira Sé Catedral da Igreja Católica construída a Sul do Equador, bem como o Cemitério dos Reis do Kongo, o Museu dos Reis do Kongo e as 12 fontes.

O "Kulumbimbi” , tido como o postal de visita da cidade de Mbanza Kongo, apesar das fissuras tem estrutura física em bom estado e o espaço adjacente tem beneficiado de intervenções paliativas para melhorar a sua apresentação pública. Porém, a estrutura física precisa de trabalhos de restauro para conferir-lhe maior segurança e estabilidade. Situação que requer estudo de viabilidade aturado para colocar em equilíbrio várias áreas do conhecimento, não apenas a área da engenharia.

O Cemitério dos Reis do Kongo, situado na área adjacente às ruínas do Kulumbimbi, têm beneficiado anualmente de pequenos trabalhos de manutenção, em função das águas das chuvas que causam fissuras e mancham a pintura das campas. O cemitério apresenta-se como um espaço sagrado que está devidamente conservado e protegido.

O Museu dos Reis do Kongo, construído com material local em 1901, foi um dos palácios dos últimos soberanos do Reino do Kongo, nomeadamente Pedro VIII, do clã Nemiala, que reinou de Setembro a Novembro de 1962. Este sucedeu a António III do clã Kivuzi (1955-1957) e Pedro VII, também do clã Kivuzi (1922-1955).

Segundo André Nlandu, o referido museu ainda enfrenta vários desafios, como a efectivação do seu estatuto orgânico, recentemente aprovado, para que possa ter autonomia administrativa e financeira. Na área adjacente ao museu está o Lumbu, Tribunal Consuetudinário, uma continuidade do poder jurídico do Rei, exercido actualmente pelo Núcleo das Autoridades Tradicionais de Mbanza Kongo.

A secular e mítica árvore Yala Nkuwu, representa para a comunidade de Mbanza Kongo um local sagrado, onde o Rei recebia os visitantes, promulgava as leis e realizava os julgamentos. Funcionava como Tribunal do Reino do Kongo e é anterior à chegada dos portugueses.

O Tadi Diabukikua também é um dos sítios arqueológicos do Centro Histórico de Mbanza Kongo, onde se encontra o alicerce de um grande edifício, que se especula que seja o primeiro palácio Nekongo, mas existem outros estudos que apontam que tenha sido um convento. Este sítio histórico foi descoberto durante os trabalhos de prospecção e escavação arqueológica que a cidade beneficiou no âmbito da sua candidatura a Património Mundial.

 O Mpindi a Tadi é o local onde se tratava de forma tradicional os corpos dos defuntos reis para poder conservá-los até à realização das exéquias. Na altura, sem os meios de transporte modernos, tinha de se aguardar longos períodos até chegarem a Mbanza Kongo todas as entidades que faziam parte do Reino do Kongo, algumas vindas da República Democrática do Congo, Congo Brazzaville e Gabão.

Mbanza Kongo possui ainda o Sungilu, local onde eram embalsamados os corpos dos Reis, e agrega-se o sítio arqueológico de Álvaro Buta, os cemitérios dos freis capuchinhos e o Túmulo da dona Mpolo, enterrada viva pelo seu filho, o rei Mvemba Nzinga, no século XVI, por insistir no uso do tratamento tradicional.


As 12 fontes de água

O soberano "Nimi a  Lukeni”, fundou o Reino do Kongo, por volta dos anos 1380-1420 numa área circundada por "12 Fontes de Água, nomeadamente Santa, Kilundu, Ntetembua, Kinlaza”, Bundu, Cinza, Madungu, Mbende, Massangalavua, Mbangu, Ntuamenga e Bulunga.

Segundo o especialista André Nlandu, as referidas fontes têm um peso histórico relevante quando se fala do Reino do Kongo, mas que requerem de um trabalho de requalificação, porque no período de chuvas, tem havido dificuldades de acesso.

"Neste período de chuvas, encontramos dificuldades para chegar às 12 fontes, por falta de estruturas de acesso que permitam a circulação de turistas e citadinos, estes últimos acarretam água naquelas fontes. O Centro Histórico realizou pequenas intervenções nas fontes Kilundu, Santa, Ntetembua e Kinlaza para evitar a poluição, melhorar as condições da captação dos tanques de lavar roupa e das escadas de acesso”, acrescentou.

Para além do Centro Histórico de Mbanza Kongo, no Zaire existem outros patrimónios histórico-culturais de destaque no município do Soyo, como Ponta do Padrão, local onde Diogo Cão teve os primeiros contactos com os povos do Reino do Kongo, a Missão Católica do Mpinda,  local do primeiro baptismo na região da África Subsaariana, bem como o Vela Kia Simbi, o sítio usado pelas autoridades tradicionais locais para rituais, assim como a Pedra de Feitiço, também no Soyo. Destaca-se também o Palácio do Nóqui e as grutas do Nzau Evua, em Mbanza Kongo.

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