O ministro da Cultura, Filipe Zau, defendeu, terça feira, em Luanda, a importância de se continuar a reflectir sobre a “Política Linguística e o Uso de Línguas Africanas no Ensino Superior”, para a preservação e valorização do património imaterial nacional.
Filipe Zau disse ser necessário estabelecer-se uma cooperação entre a língua portuguesa e as africanas, de modo a que possam ser utilizadas não só para as canções e os aspectos culturais, mas também para o próprio desenvolvimento social. "Se comunicarmos melhor numa determinada língua, compreenderemos melhor os fenómenos do país”, disse.
O ministro da Cultura chamou a atenção para a competência linguística falada no ambiente familiar e, por outra, o que é falado na escola, duas realidades completamente distintas.
Por seu turno, o director-geral do Instituto de Línguas Nacionais, José Domingos Pedro, explicou que o colóquio teve como objectivoprincipal a discussão pública e a recolha de contribuições para a elaboração de uma política linguística, tendo em conta a situação plurilingue do país.
Criação
de novos vocábulos
A linguista e escritora Domingas Monte, que falou sobre a "Reinvenção Linguística na Literatura” de Boaventura Cardoso, disse que estão incorporados termos utilizados no quotidiano, a criação de novos vocábulos, a partir da união de palavras das línguas nacionais ao português.
Segundo a docente, a linguagem que transita do erudito ao popular, subverte categorias gramaticais que vão do arcaísmo ao neologismo, produzindo metáforas insólitas e permite criar uma nova forma de lexicalização.
Domingas Monte explicou que as transgressões das categorias gramaticais ou os processos de formação de palavras, tais como a utilização de sufixos e prefixos, bem como a invenção de um léxico particular, é imprescindível um profundo conhecimento da língua portuguesa e das nacionais utilizadas.
Língua e a importância na gestão das sociedades
O docente e mestre em Língua Portuguesa Benjamim Fernando, que dissertou sobre o tema "A Língua Enquanto Instrumento - Mor da Partilha do Saber”, resumiu a importância da língua como um instrumento de administração, cujo fundamento consiste em planear, organizar, direccionar e controlar pessoas e recursos, para se alcançar metas definidas.
Para planear, organizar e direccionar, sustentou, é determinante o uso de um instrumento de comunicação. "Se a língua é o instrumento determinante para que sejam alcançadas as metas definidas por uma empresa, por organizações públicas, privadas, mistas, sobretudo por um Estado, então pode deduzir-se o papel da língua no desenvolvimento das sociedades humanas”.
Benjamim Fernando defendeu ser fundamental que um Governo tenha políticas linguísticas "muito bem definidas e coerentes”, para que haja eficiência e eficácia na gestão das sociedades. Recordou que o país é plurilingue e com base no Censo de 2014, mostrou que as percentagens de falantes, por casa, são as seguintes: Português 71%, Umbundu 23%, Kikongo 10%, Kimbundu 8%, Cokwe 7%, Nyaneka 3%, Ngangela 3%, Oshiwambo 2%, Muhumbi 2% e Luvale 1%.
No entanto, disse, no país fundado há 48 anos, depois de ter sido "Província” e "Estado” do império português, coabitam línguas estruturalmente diferentes, em que se encontra o português de matriz Indo-Europeia (administração do Estado) e de origem românica, as de matriz Bantu, como o Umbundu, Kikongo, Kimbundu, Cokwe, Ngangela, Oshiwambo, Helelo e as línguas de matriz Não-Bantu, como o IKung, San e Vatwa.
A partir dos dados do Censo, constatou-se que 71% dos habitantes falam o português em casa, pressupondo que 29% não o falam. Argumentou que, estatisticamente, cerca de 8 milhões de angolanos, em 2014, não falavam o português, que é a única língua de escolarização e da Administração Pública. Certamente, disse, entre os outros cerca de 18 milhões que "falam o português em casa”, haverá uma grande percentagem que não a têm como língua materna.
Para o docente, sendo o processo educativo aos cidadãos aquele que comprovadamente permite aos Estados planear e organizar, o que deve acontecer é a sua eficiência e eficácia, sendo responsabilidade das elites políticas desafiar os linguistas, antropólogos, historiadores, geógrafos, juristas e outros cientistas sociais para que se reflicta em torno de uma política linguística angolana.
A convivência dos idiomasnacionais e
estrangeiros
O docente e mestre em Língua Portuguesa Daniel Sassuco, que abordou o tema "Plurilinguismo em Angola uma Responsabilidade e uma Responsabilização”, disse que o país é, certamente, por natureza multilingue. O docente realçou que mesmo sem a presença da língua portuguesa, as línguas Bantu e as Khoisan coabitam e interagem mutuamente no território nacional. Daí, sustentou, a multiplicidade de línguas, actualmente com a interacção entre as línguas Indo-europeias e asiáticas que fortalecem ainda mais o multilinguismo, do qual se reclama uma gestão adequada e um olhar atento equilibrados.
De acordo com Daniel Sassuco, o plurilinguismo é, por sua vez, a competência linguística comunicativa de uma pessoa utili- zar duas ou mais línguas na sua inter-relação social. Nesse caso, disse, considerando o país multilingue, é sensato que os cidadãos sejam plurilingues.
Para
o docente e linguista Albano Cafuna, as "línguas angolanas de origem africana e
tradição oral”, como em qualquer país africano, são constituídas pelos seus
povos. A implantação geográfica, designados como etnias, existe muito antes da
ocupação colonial. "Precisamos reter que em termos globais, a esmagadora
maioria da população angolana é de origem Bantu, um pequeno grupo khoisan e a
existência de uma população branca que nasceu em Angola e optou por ficar
depois da Independência”.
Amilda
Tibéria e Alice André
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