Sociedade

“Milton da Robaldina” é jornalista e estudante universitário

Rui Ramos

Jornalista

António Dumbo Sacuvaia nasceu em 17 de Março de 1986, no bairro da Camaninã, município de Benguela. Aos 14 anos, em 2000, vai para Luanda, sozinho, com o propósito de obter melhores condições de vida para si e para a família.

21/02/2021  Última atualização 13H06
António Sacuvaia esteve 5 anos no programa “Angola Rural” © Fotografia por: DR
"A influência de alguns amigos de infância, que vinham a Luanda e regressavam com roupas novas e bicicletas (BMX) estimulou-me na decisão de conhecer Luanda, mesmo sabendo que não tinha ninguém com quem pudesse contar na capital”.
 António Dumbo Sacuvaia retira, então, sofás de casa da avó, no bairro 70, onde cresceu, vende-os e usa o dinheiro para a viagem.
António Dumbo Sacuvaia vai até ao mercado da Caponte, onde apanha um táxi para o Lobito. "Não conhecia o Porto do Lobito, mas fui perguntando e acabei por lá chegar”.

Com um saco onde tinha apenas 2 calções, 2 camisas, Bilhete de Identidade, 7 bananas, 3 pães e um cantil de kissângua, compra o bilhete de passagem de barco (Catronga-Pequeno porte), e parte do Lobito quando eram 19 horas, numa viagem turbulenta, com as chuvas a abaterem-se contra o barco, até chegar ao Kikombo, Cuanza-Sul, onde, em virtude da guerra, se tinha de apanhar o autocarro para Luanda. Eram 5h da manhã, quando chegaram à berma da praia do Kikombo,

Com o objectivo de fazer poupança até chegar a Luanda, pede ao cobrador do autocarro que cobrasse apenas metade do valor da viagem, para que lhe ficasse algum valor no bolso, uma vez que não tinha noção para onde ia. "Era sozinho que eu andava”.

 Partiram do Kikombo às 13h e chegaram a Luanda de madrugada.O destino dos autocarros era o Roque Santeiro. "Foi lá onde pernoitámos até amanhecer”.
 No dia seguinte, já acordado, anda pelo Sambizanga à procura de algum conhecido, mas não encontra ninguém. Sem dinheiro para pagar o parque onde por noite se cobrava para se pernoitar, decide recorrer às barracas do Roque, onde conhece alguns jovens a quem pede para ficar naquela noite.

"A viver nas barracas do Roque Santeiro por não conhecer a casa de nenhum familiar . Em troca de abrigo e comida, juntei-me aos jovens que lavavam pratos da senhora Maria, que nos dava matabicho e almoço. Foi assim, durante 11 meses”.
Por influência dos que viviam nas barracas, aprende a fumar cangonha (liamba) e a usar libanga. "Era uma obrigação do chefe de um grupo de jovens que viviam nas barracas daquele mercado chamado ‘Bala 10’”.

Meses depois, torna-se num Jovem viciado em fumar liamba e usar drogas, situação que só consegue deixar quase dois anos depois de ter sido acolhido por madres do Dom Bosco. "Com as madres, passei por um processo de ressocializacão, mudei o rumo da vida, deixando o mundo das drogas." Depois de ter saído das madres, torna-se vendedor ambulante. Nessa altura, já tinha encontrado vários amigos de Benguela, que o ajudaram a entrar no mundo da "zunga”.

"Passei a viver com os meus amigos de Benguela numa casa de passagem, na Tia Ana, no Sambizanga, ao lado do mercado do Pombinha, onde à noite comprávamos as nossas refeições em sacos plásticos”. No Sambizanga, ainda como ambulante, entra para um centro de formação profissional onde faz o curso de Inglês, por influência de um jovem de nome Romeu, o "Dr. Romeu”

Em 2007, consegue o primeiro emprego, na zona da Samba, numa empresa onde trabalhou como lavador de carros durante 2 anos.
"Em 2008, matriculei-me num colégio em Viana, na zona da Robaldina, na oitava classe”. Nesse ano, é convidado pelo jornalista Ernesto Samaria, a fazer parte como assistente do programa Hora Máxima da Rádio Despertar, e foi como assistente do programa e com o apoio de Samaria que sentiu vontade de entrar no mundo da comunicação social.

"Comecei como assistente, e com o tempo fui evoluindo. Fiz algumas formações básicas, até que, em 2009, comecei a meter voz naquela Rádio”. Em 2013 foi convidado a juntar-se à equipa que produzia o programa "Angola Rural”, na Televisão Pública de Angola, durante 5 anos. "Comecei na área de Pesquisa, depois passei a repórter, e depois juntei-me à equipa como repórter-redactor”.
Com a ajuda do jornalista Gustavo Silva, aprende a redigir notícias e a escrever melhor. "Uma pessoa de trato fácil, de quem serei grato a vida toda”.

 Desde 2017, trabalha como editor no jornal on-line "Correio da Kianda”. "Vivo em Luanda há quase 20 anos, sem família, a minha vida em Luanda foi feita quase sozinho, mas graças a Deus, consegui passar por vários muros de dificuldades”. A maior parte dos amigos que conheceu no Sambizanga acabaram por tornar-se mulas e vendedores de droga e morreram, em consequência do consumo, e outros devido à ligação ao mundo da criminalidade.Actualmente frequenta o 3º ano do curso de Direito numa instituição de ensino superior em Luanda. "Já fumei, já me droguei e já roubei. Mas tudo isso ficou para trás. Sou uma pessoa renascida, de espírito novo”.

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