O romance “Memórias de uma Kuvale”, de Ulembi, pseudónimo literário de Aníbal João Ribeiro Simões, vencedor do Prémio Literário Sagrada Esperança 2022, edição especial, foi lançado, ontem, em Luanda.
O livro foi lançado em cerimónia de apresentação e assinatura de autógrafos, realizada no auditório da Universidade Piaget, e está disponível na editora Mayamba para os amantes de literatura e de história.
O secretário-geral da União dos Escritores Angolanos (UEA), David Capelenguela, realçou, na apresentação, que o livro indica para o espaço literário angolano elementos culturais que compõem os costumes e tradições dos aspectos do quotidiano dos povos do Sul de Angola.
Segundo David Capelenguela, no romance há uma experiência singular, própria e de construção cultural e nacional que o autor procura fortalecer a identificação da nação angolana, auferindo-lhe um sentido mais autêntico, movimentando a tradição e a memória do seu povo, transferindo as vozes do enredo todas as que formaram esta tradição.
"Não é apenas uma opção temática do autor, mas a forma de processar a construção da identidade nacional”, disse o também escritor e secretário-geral da UEA, para acrescentar que desde o título ao seu conteúdo a obra é reveladora e de grande dimensão.
Para David Capelenguela, a surpresa está na forma como a descrição é conjugada e dialoga entre o meio rural e urbano, como os acontecimentos são apresentados, sendo que o autor em muitas passagens reinventa, abordando temas também da sociedade angolana relativos ao povo, ao conservadorismo e à sexualidade feminina.
Segundo o autor, o livro valoriza a cultura nacional, na perspectiva de resgatar os valores das comunidades angolanas, através da criação ficcionada do grupo étnico kuvale, do Namibe.
O escritor Ulembi disse que procurou abordar, através da recriação estético-literária, os constrangimentos do dia-a-dia de uma mulher kuvale numa realidade diferente, como é a capital luandense, por formas a criar debates visando a valorização dos usos e costumes de cada região do país. É um relato, na primeira pessoa, do sofrimento dessas mulheres e da sua capacidade de resistir às situações mais adversas”, disse.
Ulembi referiu que o romance tem um cariz histórico-cultural, presentes num conjunto de factos narrados desde o tempo colonial até à actualidade, como os usos e costumes.
O autor revelou, por outro lado, que o livro resultou de pesquisas nas comunidades na província do Namibe na sequência de entrevistas a mulheres kuvale em Luanda. "Permitiram-me conhecer os usos e costumes destes com alguma profundidade sobre as crenças e a importância do gado que é o elemento central daquelas comunidades”, explicou.
O livro tem 276 páginas e cinco capítulos, é um retrato vivo do impacto das práticas costumeiras negativas, da aridez do solo, da falta de água e da morte do gado nas mulheres que habitam no deserto do Namibe.
A trama decorre na aldeia de Humbia, na Bibala, na década dos anos 60, e traz como personagem Pepela, uma jovem casada na mais tenra idade, que se torna um pesado fardo para a comunidade, sobretudo aos olhos do marido, devido às dificuldades em procriar.
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