Opinião

Más práticas

Nos últimos dias, temos assistido a um conjunto de práticas relacionadas com a vandalização de bens públicos, o roubo de equipamentos sociais e a destruição do pouco que eventualmente ainda restava em muitas localidades.

12/02/2021  Última atualização 08H05
Ao lado destas práticas encontram-se outras ligadas à falta do sentido de compromisso e responsabilidade na hora do pagamento do consumo de água, da luz, apenas para citar estes serviços. Temos de evoluir do actual quadro em que a narrativa segundo a qual "não se paga porque o serviço não melhora" deve dar lugar à ideia simples de que o serviço só melhora se todos pagarem regularmente. 

As más práticas, maior parte delas criminosas, somam e seguem a uma proporção que já deveriam  merecer respostas consentâneas para as desencorajar. A apreensão, feita há dias, de cinco contentores com cobre, no Porto de Luanda, prestes a serem embarcados para o estrangeiro,  numa acção em que se encontram presumivelmente implicados agentes da Polícia Nacional,  funcionários portuários e da AGT, representa, seguramente, apenas a ponta do Iceberg do que diz respeito ao crime organizado. 

Na semana passada, assistimos a apresentação de camiões com mais de duas centenas de travessas das linhas férreas cujo roubo, além da incúria e indiferença para com as consequências, constitui claramente um crime grave. Não estaríamos a exagerar se, relativamente ao que assistimos com o roubo, furto e destruição de bens públicos, disséssemos simplesmente que nos encontramos perante verdadeiros actos de sabotagem. Tratam-se de actos que dificilmente se explicam somente com o  estado de pobreza extrema, desemprego e ausência de meios de subsistência. Não se pode compreender que inclusive tampas metálicas dos esgotos, toda a espécie de cabos e material ferroso diversificado comecem a atiçar a cobiça das pessoas interessadas em pesar em troca de dinheiro. 

Todos estes actos, muitos deles protagonizados à luz do dia, não raras vezes com a conivência de pessoas ligadas, directa ou indirectamente, às actividades de onde são furtadas ou roubadas tais materiais, precisam urgentemente de respostas adequadas. Não podemos viver a reclamar sobre  a falta de água quando, algumas vezes,  assistimos à vandalização ou desvio das condutas de água, sem que sejamos devidamente corajosos para denunciar. 

Muitos círculos, envolvendo organizações da sociedade civil, políticos e pessoas singulares,  não perdem tempo a "culpar" as instituições do Estado pela falta de postes de iluminação pública em algumas artérias das cidades angolanas, dos bairros periféricos à volta das sedes provinciais. Mas quando confrontadas com a realidade relacionada com a vandalização, furto, roubo e destruição de tais bens, muitas vezes protagonizados por pessoas próximas nas comunidades, dificilmente se ouvem e raramente se vêem gestos de autocrítica, denúncia ou queixas junto das entidades competentes. 

Hoje, em muitas localidades, da periferia ao casco urbano, o pagamento voluntário do consumo de água e luz, mesmo por parte das famílias com algum rendimento, constitui um desafio monumental e basta olharmos para os números da dívida que as empresas fornecedoras de tais serviços anunciam com regularidade. Precisamos de reflectir e agir. 

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