Opinião

Maratona do IGAPE

Luciano Rocha

Jornalista

Angola é, para quem a sente e vê, com olhos de ver e coração de sentir, terra estranha, misto de amor e raiva, esperança e desesperação, carinho e desafecto, afugenta e agarra, repele e abraça.

25/05/2023  Última atualização 06H05

Angola é assim e mais. Extravasa sentimentos infindos, de que são exemplos  os horizontes que a rodeiam - ou cercam? ou sufocam em kandandos sem fim? -, terra de milhentos sons, outras tantas falas e pronúncias, cores intermináveis matizadas com tons muitos, junto, outrossim, com cheiros e sabores tantos que embebedam em tristezas e alegrias, quase matam, fazem conhecer a morte e ressuscitam.

Angola é assim, desde longes construídos de muitos tempos e outros tantos futuros  sonhados, invariavelmente melhores, por serem, eles próprios, comandantes de vida que fazem, continuam a fazer, ainda hoje, esperançar.

Angola é assim. Permanente e eternamente apontada como terra de um futuro sonhado que teima em não encontrar  porto seguro para abordar. Por estarem todos, nem um escapa, vigiados, dia e noite, por saqueadores de quimeras. Num ápice - nem  relâmpago anunciador de  desgraças - feitas pesadelos que cerceiam amanhãs dos que fizeram e fazem por merecê-las. Por isso esgrimem, tentando seguir as pegadas dos que ousaram desbravar horizontes tidos, até então, como insondáveis, chamados Liberdade. Sem amos, nem servis.

Esta terra chamada Angola foi sonhada assim e, como tal, há-de, um dia, ser concretizada sobre caboucos abertos por várias gerações. Mesmo quando a uns parece que não, apesar de, esporadicamente, haver sinais esperançosos a indicar caminhos novos.

Na turbulência de zonas urbanas mas, igualmente, na quietude dos kimbos aqueles sinais sucedem. É a Terra Mãe a despertar uns e outros para aqueles sinais, mesmo que subtis, mas alentados

O Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE) deu, recentemente, um desses indícios, que, espera-se, seja apito de partida de super-maratona de obstáculos, com meta sem fim à vista. Vence quem não desistir: de um lado, representantes da lisura, do outro, do embuste. Atente-se, desde já, à conjuntura da competição ser longa e eivada de obstáculos com os quais somente uma das partes está familiarizada , por fazer deles o quotidiano dourado ou fingir que sim . Ao contrário, aqueles que fazem parte dos guardadores de interesses do povo, estão em desvantagem, pois não conhecem tão bem como os adversários curvas,  contra-curvas e ziguezagues dos tortuosos descaminhos de transportadores de vaidades sem suores de trabalho.  Sobrevivem apenas à custa do amiguismo, erário, compadrio, nepotismo, troca de favores, enfim,  rebaldarias. Que desaguam invariavelmente em mediocridades, incompetências, vaidades bacocas que os caracteriza.

A recuperação, no total, de 11 viaturas  a quadros da administração municipal  e de um distrito urbano, ambos de Luanda, entregues ao respectivo governo provincial, deseja-se ter sido tão-só a primeira de várias operações análogas, estendam-se  ao país inteiro e a todos os sectores. De preferência sem actos públicos para anunciar o que peca por tardio, como se de um feito histórico se tratasse, desconhecida do angolano comum, novidade de fazer  arregalar os olhos e "abrir a boca para a nuca”.

Até pelo número de viaturas apreendidas - quantas mais, nas mesmas circunstâncias, ficaram em mãos nas quais não deviam estar? -, a operação do IGAPE podia ser divulgada aos jornalistas em recatado encontro pelos responsáveis da operação. A realização de conferências de imprensa por  tudo e por nada, quando um simples comunicado, mais rápido de emitir do que nunca graças às novas tecnologia era suficiente. Evitavam-se perdas de tempo e reduzia-se a vulgarização.  Parafraseando, o Presidente João Lourenço, é tempo - mais do que nunca - de falar menos e trabalhar mais.

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