Opinião

Manifestações de dias consagrados

Manuel Rui

Escritor

Manifestações são actos realizados pelo povo de uma nação em defesa de uma causa, reivindicações políticas, crises económicas, como o caso da inclusão social. Pelos temas dos protestos há governos que não permitem admitir esse tipo de acção.

16/03/2023  Última atualização 06H45

Manifestações sempre existiram mesmo na antiga Roma. Na modernidade industrial, podemos apontar, em 1886, 500.000 trabalhadores, no dia 1 de Maio, fazem uma grande manifestação que levou a uma greve geral nos USA.

Não passaram três anos, em 1891, o Congresso Operário Internacional, convocou em França uma manifestação anual, em homenagem às lutas sindicais de Chicago. O 1º de Maio foi sendo no Dia do Trabalhador com manifestações em todo o mundo, mesmo no salazarismo, em Portugal, não obstante a carga policial, o 1º de Maio realizava-se com a principal coragem da luta clandestina do Partido Comunista Português.

Graças ao primeiro de Maio os trabalhadores conseguiram as oito horas de trabalho e os heróis que tombaram passaram a ser os mártires de Chicago e a Segunda Internacional Socialista, ocorrida em Paris em Junho de 1889, criou o Dia Mundial do Trabalho no 1º de Maio de cada ano. O 1º de Maio representa um marco histórico da organização sindical na luta da classe trabalhadora mundial frente à exploração e à opressão promovida por patrões, governos e poder judicial.

O poeta Vladimir Miaskovski escreveu Meu Maio que eu aprendi a dizer de cor com meu saudoso amigo, Seiça Neves.

                               MEU MAIO

                               (Eis um extrato)

                               A todos

                              Que saíram às ruas

                               De corpo-máquina cansado

                                              (…)

                               Eu sou operário

                               Este Maio é meu!

                               Eu sou camponês

                               Este é o meu mês.

                                               (…)

Tudo isto vem a propósito que no governo de transição, aqui, o MPLA propôs a celebração popular do 1º de Maio. Era a primeira vez depois do jugo colonial. E o Conselho de Ministros votou contra sob a batuta do alto comissário, um hipocondríaco sempre a fumar e a desfalar, uma nota, chegou a Portugal e num nojento calhamaço atira-se a mim que havia estudado na União Soviética para preparar sublevações, o animal sabia que eu ainda não conhecia a URSS e que conheci primeiro Nova York que Moscovo, mas assim se fizeram livros difamatórios. Mas voltando ao assunto, saí disparado do conselho e fui directamente falar com Agostinho Neto. "Vá de imediato procurar o Alberto Van-Dúnem (O Beto) para ele organizar uma boa manifestação pacífica, fale também com o Resende das Comissões de Bairro.”

E foi um 1º de Maio que nunca vou esquecer. Disse o poema na Rádio e deu protestos no Conselho, falavam, falavam, e o MPLA nada. E o alto comissário para mim: "senhor ministro da informação, tem alguma coisa a dizer? Nada, estava a dormir.”

"Eu não admito! Não admite o quê? Onde é que está escrito que não se pode dormir? No 24 de Abril?”

O Saidy Mingas cutucava-me com o pé, eu tinha uma máquina de dar à corda e ela começava a gargalhar dentro da minha pasta, o Diógenes saía à gargalhada, não aguentava quase em convulsões.

Onde eu queria chegar é que depois da nossa independência foram feitos desfiles do 1º de Maio, sob a batuta da Unta e meu mestre Luvualo com quem aprendi a viajar em missões diplomáticas. Foram celebrações com muitas cores, bandeiras, dançarinas e dançarinos, grupos de trabalhadores, escritores, artistas plásticos, músicos, éramos "um só povo uma só nação.”

O 1º de Maio tem a sua génese na luta da "força de trabalho” explorada (a mais-valia) pelo capital. É uma contextualização que inclui as duas guerras mundiais, a União Soviética e a Longa Marcha de Mao Tse Tung. E três livros, O Manifesto Comunista, O Livro Vermelho de Mao Tse Tung e o Mein Kampf de Hitler.

A União Soviética foi quem mais apoiou os movimentos de libertação de África, aqui, por falta de espaço, não nos vamos deter em altos e baixos. Quando, já entre mil e um destroços causados pelo eixo (Hitler e seus aliados, incluindo o Japão e seu imperador), a América, com um exército diferente e menos litúrgico veio salvar a Europa, depois o desembarque na Normandia mas lá, no oriente, os aviões suicidas com os kamikaze atiravam-se para incendiar os grandes vasos de guerra americanos até que os americanos lançaram duas bombas atómicas. De Hiroxima, meu amor sabemos que o ministro das Relações Exteriores do Japão foi, de abas de grilo, calça de fantasia, colarinhos à bife e cartola, até um vaso de guerra americano apresentar formalmente a rendição.

A América fez o plano Marshal de quilápi para restaurar a Europa.

Depois e depois e depois, veio a globalização. No léxico saiu trabalho e capital. Ficou empregadores e empregados, patrões que ainda vão ganhar o céu por darem, de favor, emprego aos empregados e o 1º de Maio foi à vida…

Mas tem outras datas cerimoniais no calendário, o dia da mãe, o dia do pai, o dia mundial da paz, etc., e nós, não sei o que se passa, perdemos a alegria de sairmos à rua juntos para cantar como se a alegria fosse só o carnaval mascarado de sonhos. Porquê?

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