Cultura

Males da guerra e conquistas da paz reflectidos no novo livro de contos de Soberano Kanyanga

Katiana Silva

Jornalista

A nova obra do escritor Soberano Kanyanga, intitulada "Kitotas: recuos e avanços", faz um apelo à juventude a preservar as boas práticas, com grande ênfase para a manutenção da paz. O escritor espera que a obra influencie positivamente os jovens, desejando que suscite reflexões e comentários, cujas histórias podem contrariar a postura extremista que tem vindo a notar da parte de alguns jovens nascidos depois da paz, assinalada em 2002.

31/05/2023  Última atualização 07H22
Escritor Soberano Kanyanga exibe um dos exemplares do livro sobre as peripécias que viveu em tempo de guerra © Fotografia por: Vigas da Purificação | Edições Novembro

"Produzi este livro para que a juventude leia e re-flicta, porque a guerra não comeu capim, mas, sim pessoas. São memórias vividas num tempo de guerra, mas também trago outros episódios bons vividos em tempos de paz. É essa reflexão que eu quero que os jovens façam, e calhou bem que o livro fosse apresentado a muitos jovens, para que eles conheçam os caminhos que trilhamos ate chegarmos aqui e se sintam desafiados a trilhar um caminho melhor, repleto de concórdia na defesa das conquistas conseguidas ate agora com muito sangue e muitas lágrimas”, justificou. 

Segundo Soberano Kanyanga, o livro é uma viagem de memórias, cujo teor das histórias tem sido parte do debate académico, por ter marcado a vida de milhões de angolanos durante décadas.

O livro "Kitotas: recuos e avanços" foi lançado na passada sexta-feira, em Luanda, e teve o prefácio e apresentação do historiador João Pedro Lourenço, que apontou ser uma obra interessante, por levar o leitor para lugares de memória. O historiador considerou o período de guerra e os momentos de paz como lugares de memória para os angolanos. Na sua análise do título da obra, João Pedro Lourenço estabelece a analogia entre a guerra, recuo, paz e avanço.

"Qualquer pessoa da minha geração consegue se rever nela, a partir das suas experiencias pessoais, mas também dar a possibilidade aos jovens de ter uma noção daquilo que foi a guerra. A obra é escrita no estilo literário, de uma forma simples que permite a leitura da sua riqueza de palavras, combinando expressões das línguas nacionais e da língua portuguesa. Para um historiador, essa obra é um testemunho que serve para analisar os factos”, comentou. 

Por outro lado, o historiador pontua que o livro de Soberano Kanyanga é um exemplo que serve para incentivar outras pessoas a escreverem as suas experiências de vida, quer seja no estilo literário, quer seja no estilo mais auto-biográfico. João Pedro Lourenço considerou Soberano Kanyanga como um dos escritores cujas obras reflectem a passagem de testemunho de gerações passadas, que tiveram tornaram as vivências da vida em Angola como a maior fonte de inspiração. 

O jovem Ludmilson Pedro, estudante do 3º ano do Curso Superior de Economia pela Faculdade Metodista de Angola, esteve presente na sessão de apresentação e assinatura de autógrafos, tendo garantido ter aprendido muito com os pronunciamentos do escritor e do apresentador da obra. O jovem salientou que ouviu lições sobre a guerra vivida pelo povo angolano que nunca foram partilhadas pelos seus parentes. 


O novo livro da carreira

"Kitotas: recuos e avanços" é a nova obra de Soberano Kanyanga, pseudónimo de Luciano António Canhanga, nascido em 1974 na aldeia de Mbangu de Kuteka, comuna de Munenga, município do Libolo. É filho do casal de camponeses Fernando Dambi e Maria Canhanga.  

O escritor conta que o seu primeiro contacto com a literatura foi em 1982, por via de um primo de nome Arnaldo Carlos, que lhe deu o livro "Os Discursos do Mestre Tamoda”, de Uanhenga Xitu. Foi a partir dessa data que passou a ler conteúdos que não fossem apenas os manuais de leitura obrigatória na escola. À medida que o autor crescia, foi adquirindo várias leituras, com destaque para as revistas e jornais.

A transição de mero leitor para escritor começa em 1994/1995, e dessa fase embrionária ainda guarda consigo vários apontamentos com textos que à época pretensamente classificaficava como contos, mas que hoje, com o rigor e experiência adquirida, reconhece não serem. "Entretanto, foi o ponto de partida. Foi preciso começar e exercitar continuamente até tornar a pena correcta, e foi o que aconteceu”, sublinha. 

O seu primeiro desafio de escrever um livro foi em 2010, intitulado "O Sonho de Kaúia”, O que narra a história de um jovem de origem humilde que promete ao pai iletrado, antes deste falecer, que seria jornalista. Em 2011, lança a obra "Manongo-Nongo", que retrata a história de uma festa motivada pelo nascimento de um novo membro da família, precisamente para dar uma especial atenção à criança. Entre outras já publicadas, destaca-se igualmente a obra "O Relógio do Velho Trinta”.

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