Sociedade

Mais de 400 bebés já “mamaram” no Banco de Leite

Edna Mussalo

Jornalista

A preocupação com os recém-nascidos, a amamentação e as várias situações que levam o bebé a não receber o leite da própria mãe conduziram a especialista em pediatria Elisa Gaspar a idealizar a criação de um banco de leite em Angola.

08/03/2021  Última atualização 09H50
Mães e gestantes são aconselhadas a optarem pelo aleitamento materno por considerar fundamental para a saúde dos bebés © Fotografia por: Fotos Cedidas
Elisa Gaspar, movida pelo espírito maternal e por um vasto conhecimento sobre saúde materno-infantil, descortinou a necessidade de uma instituição, ou um projecto, que visasse a protecção e o bem-estar do recém-nascido.
"A oferta de leite humano na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) era impossível, porque não tínhamos em funcionamento um banco de leite”, disse, apontando um dos motivos para a criação do Banco de Leite Humano (BLH) no país.
A pediatra, que falou ao Jornal de Angola por ocasião do 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, destacou que o Banco de Leite Humano "é uma instituição sem fins lucrativos, responsável pela orientação, execução, selecção, classificação, processamento, controlo clínico, qualidade e distribuição do leite materno”.

Segundo a pediatra, o BLH desenvolve actividades que garantem o acesso da população alvo, promove e incentiva o aleitamento materno no seio de mães e gestantes. Elisa Gaspar explica que o BLH colhe o leite de mães que vão à maternidade ter o bebé e de outras, que simplesmente o doam. Para o efeito, acrescentou, cumpre-se com o registo das doadoras e o controlo de propriedades bacteriológicas, logo após a colheita, e a conservação das reservas.
A especialista sublinha que mais de 400 bebés já foram beneficiados pelo BLH, "que tem como grande missão assistir recém-nascidos prematuros imunologicamente deficientes, com perturbações gástricas de origem variada, alérgicos a outro tipo de leite, de forma a contribuir para a redução da desnutrição e da mortalidade infantil no país”.

Como funciona …

Segundo Elisa Gaspar, a selecção das doadoras pode começar no pré-natal, quando as gestantes acorrem à Maternidade Lucrécia Paim, em Luanda. Comprovadamente sadias, são, então, motivadas a doar o seu leite. De acordo com a especialista, são consideradas inaptas à doação as mães com moléstias infecto-contagiosas, usuárias de drogas ou em tratamento em quimioterapia, radioterapia, desnutrição ou outros motivos.
O Banco de Leite Humano é composto por uma equipa de multiprofissionais, que trabalha para dar um controlo de qualidade ao leite humano e à causa da amamentação. Elisa Gaspar referiu que o leite é submetido a um rigoroso controlo, durante o qual são avaliadas as condições de conservação em que se encontra, verificados o tipo e a condição da embalagem.

"É importante a pasteurização ou liofilização do leite. Após a pasteurização, o leite deve ser congelado, resfriado ou encaminhado para a unidade de liofilização” disse. "Leofilização” é o pro-
cesso de retirada da parte líquida do leite (água), para converter em sólido, o que pode levar o leite a ser conservado, congelado por um ano.
A médica pediatra frisou que o leite é acondicionado em frascos esterilizados, onde são rotuladas informações, como o número do registo da doadora. O produto pode ser pré-armazenado sob congelação ou refrigerado a cinco graus celsius, por, no máxi-mo, cinco dias. O BLH tem, entretanto, enfrentado dificuldades na aquisição dos reagentes para o controlo da qualidade do produto e falta de recursos humanos. Elisa Gaspar referiu que, com a pandemia da Covid-19, houve uma baixa de dadoras e de recolha de leite humano.

Opção certa
Elisa Gaspar aconselha as mães e gestantes a optarem pelo aleitamento materno, por considerar fundamental para a saúde dos bebés e para a construção de uma sociedade sadia.  
"O aleitamento materno é uma prática fundamental para a promoção da saúde das crianças, pois fornece, do ponto de vista nutricional, o que há de melhor em macronutrientes, nos aspectos quantitativos e qualitativos”, aconselhou.

Para a pediatra, os efeitos benéficos na criança podem ser subdivididos no curto, médio e longo prazos e reflectem-se nos aspectos da nutrição e crescimento pôndero-estatural, bem como na redução da mortalidade infantil, morbidade por diarreia, redução da morbidade por infecção respiratória, alergias e redução de doenças crónicas não transmissíveis na vida adulta.
Elisa Gaspar lembra que o aleitamento materno melhora o desenvolvimento intelectual e o relacionamento interpessoal, assim como o desenvolvimento da cavidade bucal. Cita ainda os benefícios que o acto de amamentar pode trazer à mulher, que vão desde a protecção contra o cancro de mama, do ovário, perda de peso e contra a diabetes melitos e gestacional. Elisa Gaspar realça que a alimentação do bebé deve ser exclusivamente de leite materno, até aos 6 meses,  e que só nesse momento se deverá iniciar a introdução de novos alimentos, acompanhados pelo aleitamento materno até aos dois anos.

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