Política

Mais de 200 milhões de mulheres no mundo não usam telemóveis

Mazarino da Cunha |

Jornalista

Mais de 200 milhões de mulheres no mundo não têm telemóveis e há cerca de 250 milhões sem acesso à Internet, revelou, em Luanda, o representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Mesquita Vale.

03/03/2023  Última atualização 08H45
© Fotografia por: Vigas da Purificação | Edições Novembro

Convidado para dissertar, quarta-feira, no Fórum "Mulheres e Jovens Mulheres na Ciência em Angola” sobre  o tema "Importância da Inclusão Digital para a Educação da Mulher e Jovem Mulher na Ciência, Tecnologia e Inovação”, o representante da UNESCO disse que estudos revelam, além da diferença que existe em possuir um telemóvel e o acesso à Internet, haver, ainda, um reduzido número de mulheres que trabalha em serviços tecnológicos e na área de criação de aplicações a nível mundial.

De acordo com o representante da UNESCO, que falava no fórum que decorreu na tenda da Marginal, inaugurada pela Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, a reduzida participação das mulheres nas engenharias e tecnologias de inovação deve-se a factores diversificados, quer internos como externos, que até agora não foram eliminados.

Mesquita Vale referiu que, hoje, a inclusão para as competências digitais já não são opcionais, mas se tornaram, absolutamente, essenciais como ler e escrever, pois elas aspiram de forma directa na redução da pobreza, na qualidade e igualdade de género, do ambiente, bem como na criação de emprego.

A inclusão digital das mulheres, frisou o representante da UNESCO, vai permitir  que elas  utilizem as tecnologias como veículo de mudança em múltiplos impactos, como, por exemplo, culturais, sociais, políticos, económicos, ambientais e, sobretudo, na igualdade de género.

Para concretizar as políticas de empoderamento e da estimulação da auto-confiança por parte das mulheres, ressaltou Mesquita Vale, é necessário trabalhar para a inclusão digital, um factor que vai contribuir para a independência feminina, criação de um novo estatuto social, bem como a capacidade de se expressar em público de forma inovadora.

Segundo o representante da UNESCO no fórum que foi organizado pelos Ministérios do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação e da Educação, a utilização das tecnologias digitais por parte das mulheres é uma forma de trazer resposta aos problemas da sociedade, porque melhora métodos, a maneira de pensar e os serviços.

Mesquita Vale disse que será impossível reflectir sobre desenvolvimento social e económico enquanto existir uma grande parcela da população que não está em condições de participar, plenamente, no processo.

  Ciência e inclusão digital contribuem para o desenvolvimento de competências

O representante da UNESCO em Angola, Mesquita Vale, defendeu a necessidade de um maior interesse por parte das mulheres nas ciências como a Matemática, por ser fundamental para que a inclusão digital seja um facto, visando contribuir no desenvolvimento de competências digitais.

De acordo com os dados da UNESCO, os homens ainda ocupam quatro vezes mais as probabilidades das mulheres em possuir competências digitais avançadas, como, por exemplo, no sector da programação de computadores.

Mesquita Vale esclareceu que cientificamente não há nenhuma diferença biológica ou orgânica que diz que o cérebro da mulher é menos adaptado às situações tecnológicas, inovação ou de outras ciências como a Matemática, Física, Química, entre outras.

Estudos mostram, frisou Mesquita Vale, que apesar das mulheres terem desempenho académico em Matemática e outras ciências superior ao dos homens, a percepção  de auto-confiança por parte das mulheres é sempre menor.

Por exemplo, frisou Mesquita Vale, um estudo feito na Coreia do Sul revelou que meninas com uma performance acima dos homens, numa ordem de 32 por cento, apenas 10 por cento apresentavam-se confiantes naquilo que faziam.

Como forma de eliminar esses factores, que considerou de "exclusão”, o representante da UNESCO apelou aos Governos, pais, professores e à comunidade, em geral, a trabalhar no sentido das mulheres se interessarem pelas ciências tecnológicas, matemáticas e  outras áreas de engenharias.

 

Produção científica

O director nacional de Tecnologias e Inovação do Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, José Alcochete, disse que Angola, em matéria de investigação científica por parte de mulheres, ainda apresenta índices muito baixos em relação a muitos países da região, na ordem de 27 por cento.

José Alcochete referiu que nas áreas de engenharia e tecnologia, Angola apresenta ainda níveis mais baixos com 9.1 por cento. Quanto à produtividade científica, de 2005 a 2014, o país teve 17 publicações científicas, um número que subiu ligeiramente nos últimos anos.

De forma resumida, frisou o director nacional de Tecnologias e Inovação do Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, até 2013, Angola tinha apenas 27 por cento de mulheres que se dedicavam à investigação científica.

 

 Depoimento de mulheres 

A cientista angolana e professora doutora em Engenharia Química Teresa Victor disse ser desafiante uma mulher cuidar de filhos e ao mesmo tempo fazer parte de investigação científica, em que predominantemente são lugares ocupados por homens.

"Tenho fé que muitas mulheres vão poder seguir as áreas de engenharias ou outros similares, sem, no entanto, olharem para as dificuldades internas ou externas. Uma mulher pode e deve conciliar gravidez e ciência”, afirmou a cientista angolana.

Verónica Choconesa, engenheira de perfuração de poços de petróleo e gás, disse que faz parte de uma equipa que está a implementar o projecto de Hidrogénio Verde em Angola, que vai permitir a transição energética para energias renováveis.

"Estamos engajadas em fazer parte do projecto que Angola assinou em Paris (França) para reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) e trazer fontes não poluentes em Angola, com vista a garantir um desenvolvimento sustentável”, disse.

De acordo com a engenheira de perfuração de poços de petróleo e gás, ser mulher é ter três úteros, nomeadamente, o emocional, reprodutor  e do conhecimento, "por isso é que estamos para gerar projectos que dão vida e sustentabilidade”.

Organizado pelos Ministérios do Ensino Superior, Ciência Tecnologia e Inovação e o da Educação, o fórum analisou também temas como "Progressos alcançados nos últimos anos no domínio da promoção da mulher e da jovem mulher na Ciência, Tecnologia e Inovação e Igualdade de Género, bem como testemunhos de mulheres cientistas como Teresa Matoso Victor, Verónica Choconesa, Samira Ezidine, entre outras personalidades do campo da Ciência, Pesquisa e Inovação.

Participaram no evento as ministras do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria Bragança, da Educação, Luísa Grilo, da Juventude e Desportos, Palmira Barbosa, o governador de Luanda, Manuel Homem, e deputados à Assembleia Nacional.

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