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Madeira de Moçambique exportada para a China

Milhares de toneladas de madeira de Moçambique foram transportados ilegalmente para a China nos últimos anos pelo grupo Maersk, revelou, este sábado, uma investigação feita por jornalistas moçambicanos e dinamarqueses.

19/03/2023  Última atualização 08H55
© Fotografia por: DR

"A empresa transportou madeira ilegal de Moçambique para a China várias vezes entre 2019 e 2021”, escrevem o dinamarquês Danwatch e o Zitamar News, com redacção em Maputo e Londres, referindo transportes que somaram milhares de toneladas.

Segundo a Lusa, a consulta de documentos permitiu confirmar várias cargas, como uma em quatro de Fevereiro de 2020, quando um porta-contentores propriedade do gigante dinamarquês chegou ao porto de Ningbo, na China, tendo a bordo 255 toneladas de madeira ilegal proveniente da Beira, em Moçambique. "Mais especificamente, troncos inteiros e não transformados da espécie de árvore tropical castanho-avermelhada Nkula, que só é encontrada em alguns países africanos e estima-se que esteja perto da extinção”, refere-se na reportagem.

Em Janeiro de 2020 dois outros navios da Maersk chegaram ao mesmo porto na China com 4.000 toneladas de madeira ilegal vinda de Moçambique, mais um dos dados de importações chinesas que a Danwatch e o Zitamar News obtiveram através do C4ADS, organismo dos Estados Unidos que faz recolha de dados focado no comércio ilícito e na segurança global. Há ainda registos em 2019 e 2021, sendo estas e outras cargas de Nkula, Mondzo e Chanato, todas variedades de madeira valiosas e na lista de espécies nativas das autoridades moçambicanas.

A gigante dinamarquesa, que não negou ter feito esse transporte, não está expressamente a violar a lei, explicam os autores do artigo depois de consultar a lei moçambicana e especialistas na área, mas denunciam uma prática que o grupo diz condenar e que o faz contornando a lei. A Maersk reconhece que tem a responsabilidade de garantir que a carga nos navios seja legal, mas resguarda-se na análise de que cabe às autoridades aprovar um produto para exportação.

Isto porque a lei de Moçambique para as exportações de madeira apenas diz que não é permitida a exportação de madeira não processada de espécies nativas, mas a proibição não faz referência a transporte ou logística.


  Polícia impede marcha  de Homenagem a Azagaia

A Polícia moçambicana dispersou ontem de manhã com gás lacrimogénio uma marcha em Maputo de homenagem ao 'rapper' de intervenção social Azagaia, que morreu há uma semana vítima de doença. Segundo a Lusa, centenas de pessoas começaram a concentrar-se às primeiras horas da manhã, mas foram impedidas de marchar na capital moçambicana.

Na terça-feira, o funeral em Maputo juntou milhares de pessoas, mas o cortejo foi bloqueado por blindados e Polícia fortemente armada num ponto do percurso que passaria em frente à residência oficial do Presidente da República. Houve momentos de tensão e chegou a ser disparado gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, que teve de recorrer a uma via alternativa.

A Polícia deteve pelo menos três pessoas na cidade da Beira, Centro de Moçambique, após confrontos com participantes numa marcha de homenagem ao rapper Azagaia idêntica à da capital, apesar de na sexta-feira ter garantido que tinha autorização para se realizar. Fonte policial, sob anonimato, disse ontem aos jornalistas que, entretanto, foram recebidas ordens para a marcha não se realizar.

Face ao bloqueio, os ânimos exaltaram-se e houve confrontos com agressões físicas, sem disparos, que resultaram na detenção de, pelo menos, três participantes, disse fonte da organização. Os restantes grupos que iam integrar a marcha já não saíram do ponto de encontro, no cruzamento da Munhava, à entrada da Beira, de onde iriam descer para a praça 03 de Fevereiro, na Ponta Gea, zona nobre da cidade.

Com mais de 20 anos de carreira, o 'rapper' ficou célebre pela crítica aberta à governação em Moçambique e por dar voz aos problemas da população, de tal forma que em 2008 chegou a ser questionado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

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