O 25 de Abril de 1974, quinta-feira, apanhou de surpresa as sociedades branca e negra de Luanda e também o presidente do MPLA, Agostinho Neto, que se encontrava em Otawa, no Canadá. Como a informação era precária e prevalecia a comunicação social alinhada com a ideologia colonial, o boca-a-boca, que fez escola desde o levantamento do 4 de Fevereiro de 1961, instalou-se.
Agostinho Neto mostrou-se
curioso e desconfiado e no dia seguinte envia um telegrama para Brazzaville,
para Lúcio Lara, a solicitar informações mais precisas, e a 27 o Comité
Director do MPLA informa publicamente sobre os acontecimentos em Lisboa, na
sequência da publicação de um panfleto do Partido Comunista Português. No dia
30 de Abril, é conhecido em Luanda um Manifesto da Comissão Cívica Democrática
de apoio à Junta de Salvação Nacional portuguesa, subscrito por Albertino
Almeida, Alfredo Bobela-Mota, Eduardo Saraiva, Maria do Carmo Medina, Mário
Sousa Dias, Zeferino Cruz e Eugénio Ferreira. E no dia 1 de Maio, a partir de
Lusaka, capital da Zâmbia, onde o MPLA tinha uma das suas sedes, o Comité
Director do MPLA toma posição, publicando "A propósito da tomada do poder
em Portugal por uma Junta Militar."
Quanto a Holden Roberto,
presidente da FNLA, só falaria através dos microfones da rádio Angola Livre, a
partir de Kinshasa, no dia 3 de Maio, mas não se refere aos presos do MPLA que
conservava na base de Kinkuzu e que o MPLA denunciou dias antes.
Desta vez não eram os
"terroristas" de há 13 anos, eram militares portugueses na
"Metrópole". A população de Luanda, segundo o censo de 1960, era
constituída por 224.540 pessoas, das quais cerca de 70% eram africanos, 24,7%
brancos e 6,1% "euro-africanos", e em 1974 não seriam muitos mais. Os
estratos não eram homogéneos, na comunidade branca também existiam classes
sociais, com pessoas muito ricas e pessoas pobres, mas constituía uma zona de
autodefesa para preservação do que "não podia nem devia" ser tocado,
o "poder branco".
As notícias chegavam pelas
ondas curtas de 11 e 13 metros da Emissora Nacional de Lisboa e, muito a custo,
por chamadas telefónicas que nesse tempo não eram directas, sendo necessário
marcar hora nos CTT.
Havia medo e estupefacção
nas ruas. Nos bairros africanos, onde não chegava a informação excepto pela
rádio oficial, imperava a desconfiança, vinham à mente de muita gente,
recordações antigas, prisões, mortes, incêndios.
De Lisboa, chegavam
"mujimbos", um "movimento de capitães" apeara Marcello
caetano e punha fim à ditadura de dezenas de anos, falava-se de Spínola, a quem
muitos colonos agora chamavam "traidor", de Otelo Saraiva de Carvalho
que tinha parentes em Luanda, e pouco mais.
Os movimentos de libertação
nacional, esses, pareciam ser entidades longínquas, estavam fora do país, mas
havia colonos que receavam um novo 4 de Fevereiro ou um novo 15 de Março. O
ambiente era de expectativa em todas as comunidades e entre os "pequenos
colonos", os mais pobres, os que teriam mais a perder se houvesse uma
alteração do poder.
Enquanto em Lisboa o
processo decorria sem retorno, em Luanda começam espontaneamente formas de
organização informal de pequenos colonos que diziam em surdina não tolerar a
entrega de Angola aos terroristas por traidores de Lisboa.
Nos campos de prisioneiros
de Angola e do Tarrafal (Ilha de Santiago) em Cabo Verde reinava a perplexidade
e os seus directores exigiam saber mais antes de procederem à libertação dos
mais de 100 presos.
Mas o processo era
irreversível e já Marcello, Caetano, Primeiro-Ministro português, rumava para o
Brasil, em situação de exílio. Se a comunidade branca, em geral, entrava em
estado de depressão, uma minoria activou acções a culminar latentes crispações
entre as duas comunidades antagónicas de Angola.
João Pedro Benge, um
enfermeiro de 39 anos, é assassinado num bar, junto da Cidadela Desportiva, por
um colono. Foi morto com um tiro à queima-roupa. O funeral contou com milhares
de pessoas de todos os estratos da sociedade e foi descrito, num relatório para
Lisboa, como uma "autêntica manifestação política” a favor da Independência de
Angola.
A população africana, agora
ancorada pelos acontecimentos, inquieta-se. Ao funeral de Pedro Benge comparecem
dezenas de milhares de pessoas de todos os sectores, numa indicação clara de
que a situação na colónia tinha de mudar, não podendo ficar paralisada a
correlação de forças entre os 300 mil brancos e os quase 7 milhões de negros.
No início de Julho, uma "extrema direita" de colonos começa a ganhar corpo em Luanda, a Frente de Resistência Angolana (FRA), de Pompílio da Cruz, e no mês seguinte, a 24 de Agosto, esta organização declara que não hesitaria em desencadear um golpe de força para evitar "a entrega de Angola” aos "extremistas de tendência comunista do MPLA”.
Um acordo entre o MPLA e a
FNLA para o estabelecimento de uma frente comum para negociar com Portugal é
anunciado no dia 28 de Julho de 1974, domingo, mas a sua concretização não
chega a ver a luz do dia, na sequência de incidentes de 15 de Julho que fizeram
12 mortos e 60 feridos e do dia seguinte que deixaram 16 mortos e 63 feridos.
Devido ao agravamento da
situação, assim como à própria recusa de Silvério Marques em trabalhar com o
MFA, o ramo local do Movimento envia, a 17 de Julho, um ultimato a Lisboa
exigindo a substituição do governador-geral por alguém aceite pelo MFA local no
prazo de 72 horas, findo o qual "o MFA em Angola assume a obrigação da
tomada das medidas adequadas face à gravidade do actual momento em Angola e à
sua previsível evolução". Dois dias depois, chega a Luanda uma comissão de
inquérito ao mesmo tempo que o governador-geral é chamado de urgência a
Portugal.
A 24 de Julho, é promulgada a Lei 6/74, que estabelece Juntas
Governativas para Angola e Moçambique, para as quais transitavam os poderes dos
governadores-gerais, sendo Rosa Coutinho nomeado presidente da Junta
Governativa de Angola, chegando no dia seguinte a Luanda, onde dissolve o
governo provisório de Silvério Marques e se reúne com o MFA local. A Junta
Governativa, presidida por Rosa Coutinho, contaria com representantes dos três
ramos das Forças Armadas Portuguesas, as mesmas personalidades escolhidas pelo
MFA de Angola para liderar os três ramos após o planeado golpe (especificamente
Silva Cardoso para a Força Aérea, Altino de Magalhães para o Exército e Leonel
Cardoso para a Marinha), assim como um elemento que representaria o MFA local,
que seria o major José Emílio da Silva.
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