Cultura

Linguista destaca o papel dos contadores de estórias

O linguista angolano Itamar Cossi defendeu, na quinta-feira, durante a primeira tertúlia do ciclo do mês de Abril da rubrica Conversas da Academia à Quinta-Feira, o valor que deve ser dado aos grandes contadores de estórias, pela sua particualr importância na preservação da literatura oral. Ao abordar a oralidade, o conferencista mencionou com todo o destaque os contadores de estórias, respectivamente os nganga (curandeiros e adivinhos) e os nobres, sem esquecer a figura do mais velho (e da mais velha), presentes na transmissão de conhecimentos entre as gerações.

06/04/2024  Última atualização 12H55
O especialista considerou a tradição oral como fonte das narrativas de escritoras contemporâneas © Fotografia por: DR

No habitual debate promovido pela Academia Angolana de Letras, nesta edição, o linguista Itamar Cossi falou sobre a "Oratura angolana em narrativas contemporâneas femininas a partir da perspectiva decolonial”. O evento, realizado online, contou com as presenças de académicos de Angola, Argentina, Bélgica, Brasil e de Portugal.

Ao definir o conceito de oralidade, Itamar Cossi referiu que está relacionada com o passado, com tradições e com a ancestralidade, incluindo sons, voz, ritmos, elementos visuais e elementos gestuais. Reforçou que a oratura inclui também jogos de repetição de palavras e provérbios.

O linguista realçou que a tradição oral é considerada a base unificadora de elementos que compõem a força vital das narrativas femininas angolanas contemporâneas, sendo também a energia primordial para a manutenção da colectividade, com inclusão das línguas nacionais, de ritos ditos populares e fontes orais.

Investigador da Universidade de Buenos Aires, Itamar Cossi acrescentou que a memória colectiva recompõe e reconstitui o passado, abrindo outras possibilidades discursivas que são decoloniais, pois são vertentes que se afastam dos modelos coloniais.

Quanto a autoras, o conferencista da semana mencionou os nomes de Antónia Domingos, Celestina Fernandes, Cremilda de Lima, Marta Santos, Ngonguita Diogo, Paula Russa, Rosária Silva, Sandra Poulson, Sara Fialho e Sónia Gomes.

Itamar Cossi sublinhou também a presença dos anciões nos rituais de xinguilamento, tendo terminado a sua intervenção assegurando que, na literatura, gosta de analisar a mulher como a própria Angola, como se de Angola se tratasse.

Sob moderação da linguista Maria Helena Miguel, o conferencista começou por referir a grande força feminina, presente no processo de derramamento de sangue pela libertação de Angola do jugo colonial. Dentre outras, citou os nomes de Teresa Afonso, Irene Cohen, Lucrécia Paim e Deolinda Rodrigues.

Carmen Secco é a próxima oradora

A próxima Conversa da Academia à Quinta-Feira está agendada para o dia 11 de Abril, a partir das 19 horas. Sob moderação da linguista Maria Helena Miguel, a renomada crítica literária brasileira Carmen Tindó Secco abordará o tema "Mulheres de Angola na literatura e noutras artes”. Como tem sido hábito, a participação via Zoom será livre.

Carmen Tindó Secco faz parte do crescente e heterogéneo leque de académicos que por este mundo se têm interessado pelo estudo e ensino das literaturas africanas em língua portuguesa. Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco é Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), profunda conhecedora das Literaturas Africanas em Português, bem como da brasileira. A professora concedeu recentemente uma entrevista ao Jornal de Angola, publicada em Março, na qual a estudiosa brasileira fala da sua paixão pelas letras africanas em português, das relações de intertextualidade com a literatura brasileira e traça um panorama das literaturas de Angola, Moçambique e Cabo Verde.

Carmen Tindó Secco revelou nesta entrevista que a relação directa com as literaturas africanas de língua portuguesa começa em 1986, durante uma viagem a Cuba, pois nessa época trabalhava com o Professor Darcy Ribeiro. Em Havana, havia encontrado e comprado alguns livros de autores angolanos, obras publicadas pelo Governo cubano. Porém, quando, em 1993, foi publicado o edital para o concurso para as Literaturas Africanas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, resolveu concorrer à única vaga, tendo em vista haver percebido que, a par das muitas diferenças existentes entre a Literatura Brasileira e as Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, poderia estabelecer importantes interlocuções com autores africanos de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Brasil, entre os quais Luandino Vieira e Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Jorge Barbosa da Geração Pasárgada, de Cabo Verde, Eduardo White, de Moçambique, e Carlos Drummond Andrade, entre outros. "Foi assim, as Literaturas Africanas me tomaram por inteiro e a elas me dediquei desde 1986 e, como docente da UFRJ, a partir de 1993”, sustentou. 

Tem mestrado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1976), Doutorada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e pós-Doutorada pela Universidade Federal Fluminense, com estágio na Universidade Politécnica de Moçambique (2009-2010).

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