O linguista angolano Itamar Cossi defendeu, na quinta-feira, durante a primeira tertúlia do ciclo do mês de Abril da rubrica Conversas da Academia à Quinta-Feira, o valor que deve ser dado aos grandes contadores de estórias, pela sua particualr importância na preservação da literatura oral. Ao abordar a oralidade, o conferencista mencionou com todo o destaque os contadores de estórias, respectivamente os nganga (curandeiros e adivinhos) e os nobres, sem esquecer a figura do mais velho (e da mais velha), presentes na transmissão de conhecimentos entre as gerações.
No habitual debate promovido pela Academia Angolana de Letras, nesta edição, o linguista Itamar Cossi falou sobre a "Oratura angolana em narrativas contemporâneas femininas a partir da perspectiva decolonial”. O evento, realizado online, contou com as presenças de académicos de Angola, Argentina, Bélgica, Brasil e de Portugal.
Ao definir o conceito de oralidade, Itamar Cossi referiu que está relacionada com o passado, com tradições e com a ancestralidade, incluindo sons, voz, ritmos, elementos visuais e elementos gestuais. Reforçou que a oratura inclui também jogos de repetição de palavras e provérbios.
O linguista realçou que a tradição oral é considerada a base unificadora de elementos que compõem a força vital das narrativas femininas angolanas contemporâneas, sendo também a energia primordial para a manutenção da colectividade, com inclusão das línguas nacionais, de ritos ditos populares e fontes orais.
Investigador da Universidade de Buenos Aires, Itamar Cossi acrescentou que a memória colectiva recompõe e reconstitui o passado, abrindo outras possibilidades discursivas que são decoloniais, pois são vertentes que se afastam dos modelos coloniais.
Quanto a autoras, o conferencista da semana mencionou os nomes de Antónia Domingos, Celestina Fernandes, Cremilda de Lima, Marta Santos, Ngonguita Diogo, Paula Russa, Rosária Silva, Sandra Poulson, Sara Fialho e Sónia Gomes.
Itamar Cossi sublinhou também a presença dos anciões nos rituais de xinguilamento, tendo terminado a sua intervenção assegurando que, na literatura, gosta de analisar a mulher como a própria Angola, como se de Angola se tratasse.
Sob moderação da linguista Maria Helena Miguel, o conferencista começou por referir a grande força feminina, presente no processo de derramamento de sangue pela libertação de Angola do jugo colonial. Dentre outras, citou os nomes de Teresa Afonso, Irene Cohen, Lucrécia Paim e Deolinda Rodrigues.
Carmen Secco é a próxima oradora
A próxima Conversa da Academia à Quinta-Feira está agendada para o dia 11 de Abril, a partir das 19 horas. Sob moderação da linguista Maria Helena Miguel, a renomada crítica literária brasileira Carmen Tindó Secco abordará o tema "Mulheres de Angola na literatura e noutras artes”. Como tem sido hábito, a participação via Zoom será livre.
Carmen Tindó Secco faz parte do crescente e heterogéneo leque de académicos que por este mundo se têm interessado pelo estudo e ensino das literaturas africanas em língua portuguesa. Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco é Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), profunda conhecedora das Literaturas Africanas em Português, bem como da brasileira. A professora concedeu recentemente uma entrevista ao Jornal de Angola, publicada em Março, na qual a estudiosa brasileira fala da sua paixão pelas letras africanas em português, das relações de intertextualidade com a literatura brasileira e traça um panorama das literaturas de Angola, Moçambique e Cabo Verde.
Carmen Tindó Secco revelou nesta entrevista que a relação directa com as literaturas africanas de língua portuguesa começa em 1986, durante uma viagem a Cuba, pois nessa época trabalhava com o Professor Darcy Ribeiro. Em Havana, havia encontrado e comprado alguns livros de autores angolanos, obras publicadas pelo Governo cubano. Porém, quando, em 1993, foi publicado o edital para o concurso para as Literaturas Africanas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, resolveu concorrer à única vaga, tendo em vista haver percebido que, a par das muitas diferenças existentes entre a Literatura Brasileira e as Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, poderia estabelecer importantes interlocuções com autores africanos de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Brasil, entre os quais Luandino Vieira e Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Jorge Barbosa da Geração Pasárgada, de Cabo Verde, Eduardo White, de Moçambique, e Carlos Drummond Andrade, entre outros. "Foi assim, as Literaturas Africanas me tomaram por inteiro e a elas me dediquei desde 1986 e, como docente da UFRJ, a partir de 1993”, sustentou.
Tem mestrado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1976), Doutorada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e pós-Doutorada pela Universidade Federal Fluminense, com estágio na Universidade Politécnica de Moçambique (2009-2010).
Seja o primeiro a comentar esta notícia!
Faça login para introduzir o seu comentário.
LoginO coreógrafo Pedro Vieira Dias “Mestre Petchú”, um dos grandes impulsionadores da dança kizomba no mundo, disse, domingo, em entrevista ao Jornal de Angola, que este estilo de dança tem estado a ganhar novamente o seu posto nos grandes festivais pelo mundo.
O governador Provincial de Luanda e coordenador do grupo de trabalho do processo de reforço da toponímia na província, Manuel Homem, apelou, esta segunda-feira, maior celeridade no processo de implementação de novos topónimos nas povoações, bairros, ruas e avenidas da capital.