Cultura

Kudijimbe transporta vivências da “Batalha de Cabinda” em livro

O livro “Batalha de Cabinda: Um Contributo para a História de Angola”, da autoria do escritor Kudijimbe, que conta a história da intenção do regime colonial português tomar a província de Cabinda por via do conflito armado, é apresentado, sexta-feira, à tarde, no Museu Nacional de História Militar, em Luanda.

01/02/2023  Última atualização 08H25
© Fotografia por: Luís Damião | Edições Novembro

Em declarações, ontem, ao Jornal de Angola, o escritor Kudijimbe explicou que começou a escrever as memórias há bastante tempo, desde os anos 80 quando juntamente com outros jovens oriundos das zonas urbanas e suburbanas de Luanda, proclamaram no dia 5 de Julho de 1980, na União dos Escritores Angolanos (UEA), a Brigada Jovem de Literatura (BJL).

Relativamente à Batalha de Cabinda, disse, a ideia começou no início da Covid-19, onde algumas pessoas lançaram-lhe o desafio para escrever às memórias da sua participação na Batalha de Cabinda. O escritor explicou ter aceite o desafio porque há muito que gostaria de partilhar as vivências enquanto participante activo dos conflitos.

Kudijimbe frisou que no livro os leitores vão poder recordar histórias que marcaram a vida dos angolanos numa época difícil que foi determinante para manter Cabinda íntegra com o resto do país.

"Participei nessa Batalha com outros jovens do meu tempo, que aconteceu há 47 anos. Mesmo assim ainda me lembro dos momentos difíceis e cruciais que passámos e guardo até hoje algumas ideias na memória que me ajudou a arrumar as coisas no papel para reconstruir esse passado histórico que foi determinante para a soberania nacional”.

No livro, ressaltou, procura apresentar histórias que aconteceram num determinado período em Cabinda e que marcaram o passado histórico do país, sobre uma guerra desigual onde o exército zairense, invasor, apoiado por tropas da FNLA, FLEC e também, por destacamentos de mercenários belgas, franceses e portugueses descontentes da PIDE/DGS pretendiam tomar Cabinda em 48 horas como se pretendia, mas viram os intentos fracassados devido a bravura das tropas da Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), que eram constituídas por forças guerrilheiras entre as quais, na maioria nunca tinha combatido. "Falo também nesse livro da chegada dos cubanos a Cabinda em Setembro de 1975, a pedido do Presidente Agostinho Neto, da FLEC, da cobiça pela riqueza de Cabinda por forças estrangeiras, a chegada do Comandante Zacarias José Pinto "Bolingó”, como chefe do Estado Maior da Segunda Região Militar, proveniente da Frente Leste.”

De acordo com o escritor, no livro procura, igualmente, abordar o desempenho e bravura do Comandante Max Merengue que teve a responsabilidade de dirigir a frente do "Ntó” e derrotar o inimigo numa só sentada. "Falo de outros, entretanto, como a preparação da defesa do aeroporto, porto, o Tchizo e arredores que estava na responsabilidade do comandante Margoso. Enfim!...”

Kudijimbe referiu que o livro é composto por vários subtítulos e todos têm a sua relevância porque estão interligados e qualquer uma das histórias completa outra. Por exemplo, disse, a chegada dos instrutores cubanos em Setembro de 1975 foi determinante. " Éramos uma força guerrilheira e precisávamos de transformar as FAPLA em força regular e os cubanos que já estavam abalizados nessa matéria ou seja conhecedor da arte militar e sem delongas criaram a escola do Dinge (antigo quartel colonial) e prepararam a tropa de forma intensiva, porque o tempo era curto e o inimigo a qualquer altura poderia invadir Cabinda transmitindo-nos conhecimentos sólidos de um exército regular que culminou com a criação de dois batalhões, baterias de artilharia de campanha, artilharia antiaérea, tropas de reconhecimento, das comunicações, engenharia e outras especialidades que aconteceu em tempo recorde para defender a cidade e arredores.”

Finalmente, aferiu, que com a chegada dos cubanos, também, trouxe consigo a logística que foi importante para a derrota do inimigo numa só sentada. "Nenhum exército do mundo vai para uma guerra sem logística. Se assim o fizer será derrotado com facilidade e os seus militares capturados. Todos nós sabemos a importância da logística na guerra contemporânea, por isso, antes de ir para uma guerra veja como está a logística.”

Na época, disse, tinha 20 anos e assumiu o cargo de chefe do primeiro pelotão da Bateria de Artilharia Antiaérea e tinha como função proteger o posto de comando da frente de combate. "Na guerra tudo é possível, por isso, deve-se estar preparado para nunca ser surpreendido”.

Disse que aborda no livro, igualmente, o sentido estratégico do Presidente Neto que foi um grande visionário quando decidiu pedir apoio a Cuba. "Acabávamos de sair duma guerra de guerrilha que durou 14 anos contra o exército português. O inimigo não nos deu tempo para criarmos o nosso exército quando nos apercebemos o país estava a ser invadido quer pelo Sul (exército sul africano), como pelo Norte (exército zairense, FNLA e mercenários). O Presidente Neto não teve outra alternativa senão pedir ajuda ao povo cubano que foi correspondido imediatamente pelo Presidente Fidel de Castro que mobilizou os reservistas para África a fim de ajudarem as FAPLA a combaterem os invasores”, recorda.

Nessa altura o país, disse, encontrava-se numa situação muito complicada da história porque o inimigo tinha como objectivo sabotar a independência de Angola. Com essa atitude, recorda, Agostinho Neto foi estratega porque conseguiu frustrar o plano inimigo que consistia primeiro em tomar Cabinda e depois em Luanda.

Kudijimbe explicou que escolheu a professora Fátima Fernandes para prefaciar o livro, por ter experiência e ser conhecedora da matéria. "Na minha perspectiva prefaciar e apresentar um livro também é uma especialidade e as pessoas devem ter conhecimentos para o fazer. Notei, quando apresentou o meu livro ‘Também lutaram por Angola’, na Universidade Lusíadas. Gostei a forma como detalhou a conversa que me impressionou bastante porque não esperava e naquele dia ela me convenceu, retive o nome para outros trabalhos literários. Quando conclui o livro pedi-lhe, novamente, para prefaciar e depois apresentar o livro.”

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