Cultura

Kabengele Munanga distinguido com título de Professor Emérito da USP

O antropólogo congolês-brasileiro Kabengele Munanga foi distinguido, sexta-feira, com o título de Professor Emérito pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).

04/06/2023  Última atualização 09H09
© Fotografia por: Kindala Manuel | Edições Novembro

Kabengele Munanga nasceu em Bakwa Kalonji, no antigo Zaire, actualmente República Democrática do Congo (RDC), em 1940. Está no Brasil desde 1975.

Ao longo desses anos, o Professor Munanga debruçou-se aos estudos sobre antropologia de África e da população afro-brasileira e nas questões raciais. O intelectual contribuiu, de forma significativa, na discussão sobre raça e para derrubar o mito da democracia racial.

Foi no país de origem que o Professor Munenga iniciou os seus estudos em antropologia, ao fazer a licenciatura em Antropologia Social e Cultural na Universidade Oficial do Congo (1964-1969). Depois, ganhou uma bolsa de estudos do Governo belga para fazer o doutoramento na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, onde permanece de 1969 a 1971. Nesse período, foi pesquisador no Museu Real da África Central em Tervuren (Bruxelas), onde se especializou em Estudos das Artes Tradicionais Africanas.

Em 1971, o antropólogo regressou ao país de origem para fazer um trabalho de campo, mas foi impedido pela ditadura do então Presidente Mobutu Sese Seko (1930-1997).

A convite do então director do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo (USP), o Professor Munenga vai ao Brasil, em 1975, e consegue, assim, concluir o doutoramento em Ciências Humanas (área de concentração em Antropologia Social).

O antropólogo ingressou como docente na USP em 1980, tornando-se o primeiro Professor negro da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. O agora Professor Emérito da Universidade de São Paulo foi Professor visitante na Escola de Sociologia e Política na Universidade de São Paulo (1977), na Universidade Cândido Mendes(1977), na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal (1979-1980), na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique(1999), Professor Associado na Universidade de Montreal, Canadá (2005-2010), onde ministrou seminários além de orientar projectos de mestrado e teses de doutoramento na Faculdade da Ciência das Religiões.

 Fez a maior parte de sua carreira académica como Professor efectivo na Universidade de São Paulo, de 1980-2012, de onde se aposentou como Professor Titular, actuando principalmente nas áreas de Antropologia de África e da População Afro-brasileira, com enfoque nos seguintes temas:racismo, políticas e discursos antirracistas, negritude, identidade negra versus identidade nacional, multiculturalismo e educação das relações étnico-raciais. Lançou o livro "Superando o racismo na escola”, que foi o primeiro a introduzir a questão racial nos temas transversais dos parâmetros curriculares do Brasil, livro cujas primeira e segunda edições foram prefaciadas, respectivamente, pelo ministro da Educação Nacional Paulo Renato e pelo então Presidente da República do Brasil Fenando Henrique Cardoso. 

Ocupou os cargos de Director do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (1983-1989), Vice-Director do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (2002-2006) e Director do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo (2006-2010). É autor de mais de 150 publicações entre livros, capítulos de livros e artigos científicos. Recebeu vários prémios e títulos honoríficos, entre os quais a Comenda da Ordem do Mérito Cultural, pela Presidência da República Federativa do Brasil (2002), Grau de Oficial da Ordem do Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores, Palácio do Itamaraty(2013), Prémio Benedito Galvão, da Ordem dos Advogados do Estado de São Paulo (2012), Troféu Raça Negra, pelo Afro-Brás e Faculdade Zumbi dos Palmares (2011), Homenagem como Decano em Estudos Antropológicos, pelo Departamento de Antropologia da USP (2008), Homenagem da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (ADUSP), em 2012, entre outros. Foi um dos protagonistas intelectuais negros no debate nacional em defesa das quotas e políticas afirmativas para a entrada de negros em Universidades do Brasil.

Em Setembro de 2016 recebeu o título de cidadania baiana pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia. Foi também professor visitante sénior da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), através de uma bolsa da CAPES. Em 29 de Junho de 2018 recebeu o Prémio de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo.

Em Maio de 2023, a convite do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, através da Edições Novembro, o Professor Kabengele Munanga esteve em Angola, onde proferiu, a 19 de Maio, uma palestra, por ocasião do Dia de África, que se assinala a 25 de Maio. Com a antiga ministra da Cultura Rosa Cruz e Silva como moderadora e na presença de figuras como a do ministro Mário Oliveira, dos nacionalistas Roberto de Almeida e Bornito de Sousa, o antropólogo e investigador brasileiro de origem congolesa Kabengele Munanga falou das "Origens africanas do Brasil contemporâneo: histórias, línguas, culturas e civilizações”.

Durante a conferência admitiu que a imagem de África está a mudar no Brasil, depois da implementação, nas últimas décadas, de medidas como a obrigatoriedade do ensino da História de África no ensino fundamental.

 

Antropólogo congolês-brasileiro Kabengele Munanga

Foi distinguido, sexta-feira, com o título de Professor Emérito pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP)

1971

O antropólogo regressou ao país de origem para fazer um trabalho de campo, mas foi impedido pela ditadura do então Presidente Mobutu Sese Seko (1930-1997)

1980

O antropólogo ingressou como docente na USP em 1980, tornando-se o primeiro Professor negro da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

 

2023

Em Maio de 2023, a convite do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, através da Edições Novembro, o Professor Kabengele Munanga esteve em Angola, onde proferiu, a 19 de Maio, uma palestra, por ocasião do Dia de África

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