Opinião

Juventude: desafios, oportunidades e conflitos

Adebayo Vunge

Jornalista

Estamos em Maio. Para trás ficou também o Abril, para muitos de nós considerado o mês da juventude, por muito que o 14 de Abril não reúna consensos.

17/05/2021  Última atualização 06H45
Mas em Abril ou não é sempre muito oportuna uma radiografia da nossa força motriz para o desenvolvimento de Angola, estatisticamente o segmento mais expressivo da nossa população. Mais do que o número, a expressão maior tem de ser de qualidade.
Mas o nosso olhar sobre a juventude leva em consideração as oportunidades que o país os proporciona para que possam participar de forma mais incisiva e pragmática na resolução dos problemas, dos seus próprios problemas.

Daqui se depreende que o envolvimento dos jovens na política é incontornável. A nossa própria história tem reflexos disso no passado. Ora na condição de objecto mas principalmente enquanto sujeitos. A perspectiva do objecto obriga-nos a olhar para as políticas públicas direccionadas para a juventude. Costumo advertir que o alegado sonho de casa própria é um equívoco (porque em nenhum lugar é expectável que todos concretizem essa meta, seja porque ela não é normalmente alcançável nesta faixa, seja porque o Estado e o Mercado devem proporcionar soluções para o acesso à habitação condigna).

Sendo hoje a maioria da população angolana, a abordagem aos problemas da juventude tem um impacto relevante nas políticas públicas do país. Quando falamos da juventude estamos a falar da formação cívica e intelectual do Homo Angolensis. Não se pense também, longe de qualquer elitismo bacoco, que todos os jovens devem ser licenciados, situação provocada pelo sistema de remunerações e que propicia licenciaturas deformadas, como denunciou recentemente o Professor Filipe Zau. Quando falamos em juventude estamos a falar de melhorias assinaláveis no sistema de saúde e do planeamento familiar. Quando falamos da juventude, estamos a falar da cultura nacional, do empreendedorismo (não apenas empresarial), da inovação e da participação com espírito de cidadania na resolução dos problemas directos das suas comunidades.

Mas gostaríamos aqui de olhar também ao jovem enquanto, como assevera Aristótles, animal político. E aqui também notamos uma tendência clara de participação dos jovens, seja por via das "jotas partidárias” seja ainda em outros formatos de participação política na governação ou na oposição.

É, pois expectável, depreender que os jovens que entram para a cena política consigam ou possam trazer uma verdadeira distinção no sentido de romperem com o espartilho da nossa sacrossanta disciplina partidária, expondo pelo menos as suas ideias e a sua visão de país e do mundo.
Diversos problemas em Angola são consequências do modelo de administração pública existente.
Instalou-se o rendismo, a burocracia e o patrimonialismo solipsista, cujo lastro são os casos de degradação na política, em que se misturam interesses públicos e privados, devido a questões culturais. À frase "sempre foi assim” esperava-se uma postura diferente dos jovens que deixe de lado a conflitualidade e abrace o diálogo e o compromisso com o bem colectivo. Era suposto que conseguíssemos assistir a premissa segundo a qual o mérito dos jovens é que eles não se prendem a tradições e a modismos. Por estarem numa fase de amadurecimento e de aquisição de experiências, introduziriam práticas e discursos novos, alicerçados na cultura dos mandatos, em associação directa com a da cobrança e da responsabilização dos seus actos.

Mas um tópico que trago também nesta reflexão, sobre o qual não vale a pena assumirmos a postura da avestruz, é o tema difícil e delicado do conflito de gerações, se assim se pode chamar.
Por isso, continuamos a assistir uma dureza para a afirmação social e profissional dos jovens onde os mais velhos querem ver os jovens crescer mas não lhes dão espaço para que isso aconteça, principalmente quando estes não concordam com as suas ideias e não toleram qualquer falhanço que venha destes. E mesmo quando dão espaço, mas notam que a sua desenvoltura é briosa, sentem-se ameaçados e começam a sabota-los com o discurso de que "são muito jovens", como se esta característica fosse um defeito, o que resulta então no escudo de uma "juventude idosa”, com ideias geriátricas em inconsciente autodefesa.

A frescura da nossa juventude não deveria ser considerada um defeito e sim uma virtude que, se bem cultivada, resultaria em inovação com impacto no desenvolvimento. Falo da juventude como poderia estender essa abordagem às mulheres. Sim, erros serão cometidos, mas eles são parte essencial do percurso de crescimento de qualquer pessoa ou sociedade.

Agora, não se pode normalizar a rotulação dos jovens como menos capazes, ingénuos, intempestivos, apressados entre outros epítetos igualmente depreciativos, só porque a sua faixa etária é inferior, especialmente quando a sua performance meritoriamente indica o oposto e, temos exemplos de jovens (e mulheres) que nos alimentam o ego, em vários quadrantes da nossa vida.
A idade não é identidade, tampouco maturidade. E se há dúvidas disso, é só olhar para muitos dos nossos mais velhos, que são também um grande exemplo a não seguir, mesmo com a idade que têm. É claro que a experiência e o conhecimento dos mais velhos são indispensáveis, numa equação onde importa o mérito e a competência.

Termino com um apelo: jovens, unamo-nos! Angola é também nossa, como os nossos pais cumpriram o seu papel, pela independência, pela paz, o desenvolvimento de Angola depende geracionalmente de nós. Uma verdadeira nova Angola.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Opinião