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Jovens da Conda querem apoio para iniciar actividades produtivas

Víctor Pedro|Sumbe

Os jovens de diversos estratos sociais, do município da Conda, província do Cuanza-Sul, pedem ao Governo melhores oportunidades para a sua reinserção na actividade produtiva, visando satisfazer as necessidades básicas, apurou o Jornal de Angola através de uma ronda efectuada junto deste segmento social.

26/01/2023  Última atualização 10H58
Uma das saídas encontradas por boa parte da juventude é a prática de moto-táxi para garantir as necessidades básicas © Fotografia por: Victor Pedro | edições novembro

Entre as preocupações manifestadas, os jovens daquela circunscrição municipal pedem a atracção de investidores na região, nos mais variados domínios, para a geração de empregos e garantir os rendimentos necessários para a realização de suas vidas e respectivas famílias.

À reportagem do Jornal de Angola, os jovens manifestaram-se preocupados com o que alegam ser reduzidas oportunidades, a condição de muitas empresas,  e que as poucas que resistem aos factores conjunturais encontram dificuldades para absorver grande parte dos desempregados.

Outro factor que inquieta os jovens prende-se com a "morte” de certos ofícios, como as de pedreiro, canalização, reparação de equipamentos, corte e costura, e outras, que antes garantiam rendimentos a muitas famílias.

Os jovens reconhecem as potencialidades agro-pecuárias da região, mas apontam a falta de incentivos abrangentes, como instrumentos de trabalho, fertilizantes e outros insumos, para dinamizar a produção agrícola, a fim de garantir não apenas a auto-suficiência alimentar, mas também comercializar o excedente.

 

Actividade de moto-táxi

A nossa reportagem procurou ouvir dos jovens a solução imediata para os problemas que atravessam, e os jovens consideraram que a saída encontrada é a prática de moto-táxi, por ser uma actividade que garante dar resposta às suas necessidades básicas, sobretudo no sustento das famílias, e para outros a forma rápida de adquirir dinheiro para custear os estudos.

Apesar dos riscos que correm durante o exercício da actividade de moto-taxista, os jovens foram unânimes em afirmar que vale à pena enfrentar o risco para garantir o sustento da família do que optar pelo caminho do lucro fácil, e muitas vezes enveredar por actos de criminalidade, que acabam sempre por terminar em tragédia ou  prisão.

Fernando Célia Teixeira  é um desses jovens que exerce a actividade moto-taxista, há dois anos, depois de deixar a actividade de pedreiro, "Optei por apostar nessa actividade de moto-taxi por ser permanente em termos de produtividade, apesar de muitas vezes ficarmos sem clientes, mas o dinheiro entra sempre, mesmo quando não há grandes movimentos” disse.

O moto-taxista tem noção de que o Governo local não pode, sozinho, garantir  emprego para todos, mas entende que deve criar políticas públicas que possam atrair empresas nacionais e estrangeiras, que instalem empresas provedoras de serviços e garantam empregos para os jovens.

"É verdade que em qualquer parte do mundo nenhum Governo emprega toda a gente, mas pedimos que haja políticas de atracção de investidores para ganharmos empregos”, disse.

João Baptista exercia a actividade de barbeiro, só não prosseguiu por falta de clientes, por isso, recorreu à actividade de moto-táxi para obter rendimentos mínimos para realizar a vida. "Até há pouco tempo era barbeiro, mas por falta de clientes deixei a actividade para me dedicar ao moto-táxi, por ser a forma de ganhar dinheiro para sustentar as minhas necessidades”, frisou.

A exercer a actividade de moto-taxista há cinco anos, diz que a falta de mais oportunidade de emprego no município da Conda tem contribuído para muitos jovens optarem por actividades de pouca sustentabilidade, como é o caso de moto-táxi, que acarreta vários riscos de saúde, e até da morte por acidentes de viação, em consequência das péssimas condições em que se encontram muitas  estradas do município.  João Baptista, à semelhança da visão de outros entrevistados, apela ao Governo local no sentido de trabalhar na busca de incentivo e estímulos para as empresas que manifestem interesse em instalar-se na província, por acreditar no potencial agro-pecuário e industrial do município.

"Temos no município potencial mineral e solos aráveis para qualquer investimento que possa gerar serviços e empregos para nós jovens, e desta forma se pode reduzir o índice de desemprego no município e na província em geral”, disse.

 

Os riscos da profissão

João Baptista também considerou a actividade de moto-táxi de muitos riscos e exige muita responsabilidade e muitos esforços para terminar a jornada sem sobressaltos. "Durante a jornada laboral somos chamados a ter muita prudência na condução para evitarmos acidentes, criar despesa ao meio ou danos aos clientes”, lembrou.

O nosso interlocutor também alinha no pensamento de que o factor que desencoraja os jovens a aderirem aos trabalhos do campo prende-se com a falta de dinheiro para comprar os insumos e imputs agrícolas, restando a opção de moto-taxista, cuja actividade permite fazer dinheiro com transporte de pessoas e mercadorias para assegurar o sustento da família.

 

Colaboração do trânsito

Já o moto-taxista Culembe Manuel Domingos lamentou a forma como os que exercem a actividade são tratados por parte dos efectivos que regulam o trânsito. "Temos noção do Código de Estrada como Lei, mas em muitas ocasiões somos molestados pelos Reguladores de Trânsito, por isso, pedimos que a Direcção de Viação e Trânsito nos ajude a normalizar a actividade, que para nós passa pelo cumprimento das normas, e da parte da Polícia Nacional a contínua acção pedagógica, num ambiente cordial e de respeito”, frisou.

Abel Calei, outro moto-taxista residente no município da Conda que exerce a actividade há um ano, disse ao Jornal de Angola que adquiriu a sua mota através da venda dos produtos agrícolas, do pouco tempo que esteve envolvido nos trabalhos do campo.

 "Exerço a actividade de moto-táxi, por ser uma actividade de rendimento imediato, mas também não deixo de cultivar a terra, de onde veio o dinheiro  investido  na moto, e quando há folga nos trabalhos do campo, concilio com a actividade de moto-táxi, e assim a vida vai andando”, disse.

O jovem de 22 anos defende a necessidade de as autoridades administrativas criarem espaços para os moto-taxistas, facilitar a legalização dos meios, que pode criar um ambiente que propicie a geração de receitas para os cofres do Estado, através de pagamento de taxas por parte dos moto-taxistas.

"Temos as motas como meio de trabalho para sustentar as nossas famílias, mas também estamos conscientes do dever com o cumprimento ao Código de Estrada”, disse a finalizar.

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