Cultura

Jovens adolescentes aprendem a fabricar instrumentos musicais

Victorino Matias | Dundo

Jornalista

Mais de 60 jovens e adolescentes, com idades compreendidas entre 12 e 21 anos, vão aprender a fabricar instrumentos musicais usados nas canções ancestrais do povo Lunda, no âmbito de um projecto de resgate do património musical Cokwe, que o Museu Regional do Dundo está a realizar, com o financiamento da União Europeia e apoio do Instituto Camões.

21/01/2023  Última atualização 12H06
Musicólogo espanhol vai ministrar curso de fabrico de instrumentos musicais do povo Lunda /Museu do Dundo tem projecto de recuperação do seu acervo © Fotografia por: Benjamin Cândido | Edições Novembro

O coordenador do projecto, David López Sáez, disse, quinta-feira, ao Jornal de Angola, que as aulas arrancam na próxima segunda-feira e os alunos vão ser instruídos em matérias relacionadas a arte de produção dos instrumentos mediante sessões que passarão a ser ministradas numa das salas do Museu do Dundo.

O processo de ensino e aprendizagem, segundo David López Sáez, termina em Fevereiro do próximo ano, data prevista para o encerramento do projecto, criado com a finalidade de transmitir as disciplinas de percussão musical e danças ancestrais.

Durante o período de aulas, os jovens e adolescentes vão aprender a fabricar os instrumentos como tchissanji, que são conhecidos por kakolondondo, muyembe e ngoma (batuques) de xina, kassumbi, kassassuluia, mukhundu, mukupela e mukhwanzo. O também musicólogo de nacionalidade espanhola esclareceu que é por via do ritmo e melodia daqueles instrumentos musicais que os cantores, conseguem compor os seus poemas, resultando numa cadência electrizante, acompanhadas de danças nas cerimónias festivas conhecida por tchianda, incluindo makopo, assim como a maringa.

David López  Sáez destacou que a iniciativa visa essencialmente a valorização dos instrumentos musicais que correm o risco de extinção, daí a necessidade de se ampliar as fontes de produção apostando na preparação do capital humano, a partir da nova geração.

Além do resgate cultural, o projecto tem como objectivo criar rendimento para as pessoas envolvidas, através da comercialização dos instrumentos musicais fabricados, disse.

"O fabrico dos instrumentos vai também servir de fonte de rendimento para as famílias com a sua comercialização. Ou seja, criar sustento através da cultura”, disse, acrescentando que o processo de ensino vai ser assegurado por um grupo de quatro professores.

Denominado "Thambwé” (Leão), o projecto visa a recuperação, valorização e divulgação do património musical Cokwe e ressaltante da importância de que se reveste, a geração mais velha passar o testemunho para os jovens, por via da música e dança para que se perpetue a cultura.

"Não pode existir a dança sem música, assim como, música sem batuques. Por isso é importante que a velha geração ensine os jovens sobre a valorização da cultura”, defendeu.

A escola vai ser constituída por duas turmas em dois períodos, manhã e tarde, com a duração de duas horas de aulas diárias, dando possibilidades para adolescentes e jovens que frequentam escolas convencionais.

A transmissão oral vai ser o principal instrumento e método de ensino a serem usados para emitir conhecimentos sobre a música da região, com maior enfoque no Tchianda. As aulas vão contar, também, com as fontes escritas que se encontram nos livros publicados na década de 1960 pelo Museu Regional do Dundo.

Estas publicações, avançou, escritas maioritariamente por José Redinhas, fazem referência de letras de diversas músicas que foram feitas pelos cantores locais, sobretudo das localidades de Camissombo (município do Lucapa), Lóvua e Capenda-Camulemba.

Acervo recuperado

O musicólogo de nacionalidade espanhola David  López Sáez referiu que durante o projecto de recuperação do acervo museológico, que começou no ano passado, foram restauradas um total de 21 fitas magnéticas contendo 637 músicas ancestrais Cokwe.

As fitas contém colectâneas de músicas que foram transcritas em livros publicados pela antiga Companhia de Diamantes em Angola ( DIAMANG) a partir dos quais, se recuperou duas edições datadas de 1961 e 1967, explicou.

A primeira publicação, revelou, foi encontrada na cidade de Coimbra, em Portugal, onde está grande parte do arquivo principal da DIAMANG, ao passo que a segunda foi localizada no Instituto Nacional de Musicologia, no Reino da Espanha.

O mapeamento das localidades onde residem anciãos que cantam e dançam com competência a música da região da Lunda e os que ainda fabricam os instrumentos de tambores, tendo como o exemplo Ngoma ya xina, marimba predominante na região sul da Lunda-Norte, completam as fontes que permitiram encontrar as bases para o projecto cultural.

A marimba é um dos instrumentos musicais influente na região do povo bangala que maioritariamente habita nos municípios do Xá-Muteba, Capenda Camulemba e Cuango, na Lunda-Norte.

Como o próprio projecto é denominado "Thambwé” (Leão em português), a ideia é resgatar e proteger sob o signo desta figura mitológica do povo Cokwe.

A iniciativa está consubstanciada na recuperação do acervo musical do povo Cokwe que tem a duração de três anos, tendo sido já cumprido o primeiro propósito que tem a ver localização de fazedores da música tradicional.

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