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Josué Ngola, com nome artístico Zazul Ngola, nasceu na aldeia do Kipungu, Cuanza-Sul, a 29 de Abril de 1999, há 24 anos. Filho de Jaime Ngola e de Lauriana Eduardo, é o último dos sete filhos que “sobraram” da linhagem dos Ngola. Ao menos é assim que se apresenta. “Sou artista visual e plástico, porque tudo o que sou e tenho cabe num desenho”, acrescenta.
Geralmente, Josué Ngola se considera "escritor, compositor, cancionista, cantor guitarrista, activista social, estudante de cultura africana, que ama fazer fotografias artísticas e criador de performances, colagens e preocupo-me muito com as questões ligadas ao ambiente.”
Quando questionado sobre o gosto pelas artes, responde que veio do interior e a paixão pela arte começou quando nasceu. "Gostava de ficar horas a observar a maior obra de arte que conheço: a Natureza e os seus detalhes, desde o pôr-do-sol até ao beija-flor.”
"Estudei numa escolinha na minha pequena aldeia do Kipungu, não por muito tempo. Tive os primeiros contactos com os lápis de cor numa igreja, depois fui transferido para Kilemba, uma outra escola que ficava longe do meu bairro. Lembro-me de ter passado inúmeras dificuldades para poder chegar à escola. Tinha de atravessar uma ponte remendada e, como se não bastasse, enfrentar o temporal, e fazer uma constante travessia pela mata. Devia ter 6 anos, tudo para aprender o ABC e ajudar a minha mãe, de quase 50 anos, a decifrar algumas frases desconhecidas”, relembra.
Josué Ngola contou que estava muito distraído e tinha um mundo próprio, diz-nos, um rapaz tímido, de poucas palavras, "corajoso e tenebroso”. "Estas eram algumas das máscaras que eu usava.
Muito jovem viajei para Luanda, onde vim estudar e juntar-se à família. Tinha 7 anos. A minha irmã escreveu-me para ingressar num colégio chamado Renascer. Na altura pensei: Vou renascer das cinzas e viver”.
Depois dessa fase, começaram, então, os rabiscos, os esboços, as manchas no papel. "A minha irmã nem sempre comprava lápis de cor e folhas para eu desenhar, pois só conseguia dinheiro, com o árduo trabalho da venda de fardos. Por isso, eu desenhava nas últimas páginas do caderno da escola. Mas gostava mesmo era de um bom desafio de desenho, porém por detrás da casa, costumava jogar o famoso "Mamã mandou”, com os primos e sobrinhos. Passávamos a maior parte do tempo rabiscando no chão, com vontade e ansiedade de superarmos uns aos outros, mas éramos todos bons no desenho. Lucas, Ismael, Kito, Inácio, Adelson e Jesus foram os amigos e familiares que muito me influenciaram a desenhar”.
Na escola, revelou, não era bom aluno. Ao invés de fazer cópias para melhorar a grafia e a leitura, retratava as figuras do livro. "Um dia, a professora olhou para os desenhos e ficou admirada. Foi então que comecei a ganhar notoriedade na sala e na escola inteira, desenhando os exemplos que serviam de base e interpretação visual”.
Por causa disso, sofri "bullying” e cheguei a ser agredido a ponto de desmaiar. "Sentia muitas saudades da minha mãe, que havia deixado na Gabela. Comecei a sentir medo de voltar à escola”, contou.
Em 2014, recorda, perdeu a mãe. "Comecei a perder o controlo daquilo que achava que me fazia tão bem. Fiquei abalado. A morte dela deixou um vazio que até hoje ninguém consegue preencher. Só depois de algum tempo voltei a ter a possibilidade de me religar às raízes, ao divino, o sublime e magistral, a arte, que sempre foi o meu lugar de origem e de coragem nos momentos de desamor e incompreensão”, disse.
A fuga da ignorância através da formação
Para fugir da ignorância e da incompreensão da vida e do mundo passou a estudar. "Atirei-me à Especialidade de Artes Visuais Plásticas/Pedagogia, no Complexo das Escolas de Arte de Angola – CEARTE, em 2017/2018. Estudar arte era uma busca da minha identidade e descoberta como ser humano e artista. Ainda hoje estou nesse processo de aceitação e redescoberta”.
Na altura, vivia longe do Instituto Politécnico de Arte, por isso tinha de se levantar de manhã cedo para ir à escola. "As finanças apertavam e a minha irmã não tinha valores para o transporte e quando tinha eu guardava para comprar materiais para usar nas aulas”, prossegue, acrescentando que teve de resistir com um sorriso, para afugentar as energias negativas.
Os
mestres
Ao longo dos anos dedicados às artes, Josué Ngola conheceu vários mestres, entre eles Filipe Vidal, Pedro Lino, mestre Abraão, António Camuto, Manuel Ventura, mestre Gonga e Nzola. "Foram âncoras e barcos para uma viagem ao outro lado de mim. Visitei galerias e exposições, conheci artistas como Nástio Mosquito (um artista que me inspira)...”
De todo o manancial de conhecimentos que adquiri, o que me marcou foi a capacidade que cada um desses artistas tem para lidar com o talento e o ego, pois apesar da fama que tinham, tratavam-me como amigo e irmão .Em 2019/2020, relembra, realizei uma exposição experimental na minha comunidade, com o tema "Cores e Letras”, com materiais de reciclagem. Na época, apresentei alguns poemas e canções de autoria própria. Depois, participou em oficinas de escrita criativa no Centro Cultural Brasileiro em Luanda.
Actualmente é professor de EVP e Educação Laboral, no colégio Resiliência de Betânia. Integrou a exposição colectiva e Individual "Cores e Letra”, na Casa da Juventude da Fubu, em 2019, e na Feira do Empreendedorismo, na Casa da Juventude da Fubu, em 2020. Este ano expôs o trabalho "Emponderamento feminino”, no Bairro Antigos Guerreiros.
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