Política

João Lourenço testemunha hoje a investidura de Azali Assoumani

Mazarino da Cunha |

Jornalista

O Presidente da República, João Lourenço, testemunha hoje, na cidade de Moroni, capital da União das Comores, a cerimónia de investidura do Chefe de Estado daquele país, Azali Assoumani, reeleito com 62,97 por cento dos votos, nas presidenciais realizadas no passado dia 14 de Janeiro.

26/05/2024  Última atualização 07H18
Presidente João Lourenço vai marcar presença na tomada de posse do líder das Comores © Fotografia por: Contreiras Pipa | Edições Novembro

João Lourenço assiste à tomada de posse do estadista das Comores, no Estádio Polidesportivo de Malouzini, também, enquanto Presidente da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Azali Assoumani, de 65 anos, vai pela quarta vez jurar fidelidade à pátria perante a corte do Supremo Tribunal e fica à frente dos destinos dos comorenses mais cinco anos, depois de ter sido eleito, democraticamente, pela primeira vez, em 2002, reeleito em 2016 e agora, cujo mandato vai até 2029.

O estadista do Partido Convenção para a Renovação das Comores, chegou ao poder pela primeira vez em 1999, depois de ter liderado um golpe de Estado que derrubou o então Presidente Tadjidine Ben Said Massounde.

De acordo com os dados publicados em Janeiro pela Comissão Eleitoral Nacional Independente, depois de Azali Assoumani, em segundo lugar ficou o candidato do partido da oposição Juwa e antigo ministro do Interior, Salim Issa Abdillah, com 20,26 por cento dos votos, em terceiro o candidato Daoudou Abdallah Mohamed, do Partido Laranja, com 5,88 por cento.

Angola e República Islâmica das Ilhas Comores têm excelentes relações de cooperação. O ministro das Relações Exteriores, Téte António, que já se encontra desde ontem à tarde em Moroni, disse que a presença do Presidente João Lourenço na cerimónia de investidura de Azali Assoumani demonstra, por um lado, as excelentes relações entre Angola e as Ilhas Comores e, por outro, enquanto Presidente da SADC tem responsabilidade regional.

A República Islâmica das Ilhas Comores, enquanto membro da SADC, frisou o ministro Téte António, é de toda responsabilidade o Presidente João Lourenço fazer parte da cerimónia de investidura do Chefe de Estado Azali Assoumani, eleito democraticamente.

Téte António frisou, ainda, que Azali Assoumani, enquanto Presidente da União Africana, teve um empenho "muito bom”, sobretudo na relação de aproximação com o Presidente João Lourenço, lembrando que Azali Assoumani esteve várias vezes em Luanda, em reconhecimento do papel que Angola joga na região, em particular, e em especial na pacificação e reconciliação do continente.

No que diz respeito à agenda de hoje do Presidente da República em Moroni, o ministro das Relações Exteriores referiu que em eventos do género ocorrem sempre encontros com o líder anfitrião e também com outros Chefes de Estado presentes.

Quanto ao fortalecimento da cooperação entre os dois países, Téte António disse que a criação de bases sólidas, no que diz respeito às relações diplomáticas, são um dos factores determinantes para que dois países consolidem o que se pretende.

A República de Angola, acrescentou o ministro das Relações Exteriores, tem um embaixador não residente das Ilhas Comores, com residência na Tanzânia, e há toda vontade de fazerem pontes através dos canais diplomáticos para analisar quais os domínios em que as partes podem cooperar, tendo sublinhado o acordo de consultas políticas, que permite abrir um leque de possibilidades.

Téte António referiu que as Ilhas Comores passou por momentos difíceis, durante os quais Angola foi solidária e, por sua vez, enquanto o país atravessava momentos similares, o Governo comorense também manifestou a sua solidariedade, criando um ambiente de reciprocidade.

Relativamente às inconstitucionalidades registadas em alguns países, Téte António disse que a República de Angola vai continuar a encorajar os Estados-membros da União Africana ao regresso à ordem constitucional para aqueles países onde houve golpes de Estado.

No final da conversa com os jornalistas, o ministro das Relações Exteriores disse que a SADC e a África em geral têm grandes desafios pela frente, que passam pela construção de diversas vias de comunicação e infra-estruturas de transporte de energia capazes de permitir a ligação inter-regional, proporcionando a integração da região e simultaneamente o progresso económico que se pretende no continente.

A visão do cidadão e a realidade de Moroni, Mornou, Moroti e Comores são vocábulos que aparentemente têm o mesmo som e grafia, porém divergem no significado e real. O primeiro, Moroni, é a capital da República Islâmica das Ilhas Comores, localizada no Oceano Índico, perto da costa de Moçambique. Moroni é a maior cidade das Ilhas Comores, onde ao amanhecer, ao meio dia e à meia-noite os sons dos salmos das mesquitas cruzam com os das aves que sobrevoam entre as praias do Índico e as montanhas rodeadas de pedras resultantes de erupções vulcânicas.

Apesar de ser uma República onde o cidadão tem o direito de participar no acto de votação, o comorense cristão é proibido de manifestar publicamente a sua crença, privilegiando o islão.


Cidadãos em Moroni evitam declarações sobre política

Construída entre as altas montanhas e a costa acidentada do Oceano Índico, Moroni é também uma velha cidade onde os seus habitantes evitam falar sobre assuntos relacionados à política ou ainda do futuro do país, principalmente os mais jovens, alguns dos quais aperceberam da presença de cidadãos estrangeiros procuraram estar o mais longe possível, para não serem vistos a prestar declarações à imprensa.

Moroni é exemplo de uma capital que contrasta com muitas das demais cidades africanas, começando mesmo por Luanda que quase tudo tem, apesar do alto custo de vida. Moroni é o oposto de Luanda.

Aqui falta quase tudo, menos o silêncio tumular das pessoas no que diz respeito à política, o soar três vezes ao dia dos salmos do Alcorão ou das comunidades de aves que cobrem os céus, completamente nublados.

Em Luanda reclama-se ali e acolá. Moroni é completamente o contrário, porque não há por onde começar. Por exemplo, não existem bancos comerciais e serviços de levantamento electrónico de dinheiro, os vulgos ATM. A única instituição financeira que há é o Banco Central, que além de monitorar as políticas monetárias, cambiais e fiscais vela também pelas transacções do Euro e do Franco Comorense. Exibir uma nota de dólar norte-americano pressupõe ser estrangeiro.

Ibrahin Moussa, proprietário de uma loja de refrigerantes, numa das poucas ruas tortuosas da capital, conta em francês que a vida nas Comores precisa de novos horizontes de cooperação regional e internacional, olhando sobretudo para o futuro da juventude.

Com menos de um milhão de habitantes, frisou o comerciante, Moroni carece de quase todos os serviços necessários para a garantia do progresso social e económico de que tanto almejam os jovens, muitos dos quais pensam deixar o país para encontrar outras oportunidades no estrangeiro.

O comerciante dá o "benefício da dúvida” em relação ao quarto mandato de Azali Assoumani, ressaltando que cerimónias de investidura ocorrem a cada cinco anos nas Ilhas Comores, mas nada muda na vida das famílias, em particular da juventude.

"Vai chegar o dia que Alá proverá uma nova vida aos comorenses”, aclamou o jovem comerciante.

Um outro jovem, por sinal filho de um comerciante moçambicano, em conversa descontraída, à porta de uma residência arrendada por vários cidadãos estrangeiros, disse que a população entrou em desespero devido aos sucessivos adiamentos das promessas de progresso económico e social por parte dos líderes.

Por sua vez, Mohamed Nepula disse não haver razões suficientes para festejar por causa da reeleição e tomada de posse de um líder que em três mandatos "não criou condições de infra-estruturas e jurídicas que proporcionassem o surgimento de novas oportunidades de emprego e de cooperação com os outros povos dentro e fora do continente”.

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