Economia

Investimentos relançam Planalto de Camabatela

Leonel Kassana

Jornalista

No triângulo de ligação entre as províncias do Uíge, Malanje e Cuanza-Norte, um projecto agro-pecuário, montado a pensar na redução das importações e fomento da produção nacional, encontra-se em situação de abandono.

18/03/2021  Última atualização 10H28
Região do Tari na criação de animais e cultivo de cereais © Fotografia por: Quintiliano dos Santos | Novo Jornal
Trata-se da Fazenda Capeca, no conhecido Planalto de Camabatela, um gigante sem pés, que solta suspiros de lamento ao ver a caravana que está a "Andar o país”. Com estruturas destruídas, a fazenda,um investimento que ultrapassa os 15 milhões de dólares, prevê o aumento do efectivo pecuário de gado bovino em confinamento.Um projecto de suinicultura pode atingir, já nos próximos dois anos, uma facturação de 12 milhões de dólares.

Além do Uíge e Cuanza-Norte, o  grupo Fazenda Capeca está na liderança de um projecto que se estende também para as províncias do Huambo e Cunene e que tem o apoio directo do BICAgro, através do qual fez investimentos no transporte de energia eléctrica, com a  implementação de uma linha de média tensão de mais de vinte quilómetros.
O investimento feito nesta fazenda, desde o início deste ano, permitiu dinamizar um matadouro preparado para o abate de 80 mil porcos por ano, devendo, no entanto, receber animais de outros pecuaristas.

Não havendo em Camabatela um matadouro e bovinos em quantidade suficiente para o abate, a Fazenda Capeca dicidiu investir na suinicultura como meio mais rápido de produção, já que cada porca produz em média 24 crias por ano, segundo esclareceu um dos responsáveis da unidade.
Com esses investimentos, Capeca é já considerado o maior empregador da região, com mais de 150 postos de trabalho directos gerados, algo muito significativo, a olhar para os elavados índices de desemprego no Planalto de Camabatela. A localidade precisa de novos empreendedores, pois tem condições climáticas excepcionais para a prática da agro-pecuária.

No empreendimento, segundo dados obtidos no local, foram completamente reabilitadas as antigas infra-estruturas, construídas novas instalações para os animais, semeados pastos melhorados e recuperados pastos nativos. Foram ainda recuperados açudes de água, tractores, alfaias e máquinas pesadas, dando forma a um parque que tem tudo para tornar o investimento sustentável.

Inúmeros pivots garantem a implementação de uma agricultura com visão de futuro,  que se traduz no início da sementeira de milho, soja e sorgo, matérias-primas essenciais para a produção de ração para o confinamento de bovinos, produção industrial de suínos e do gado adquirido, essencialmente, da Namíbia.
Contudo, a região está ainda longe de ser explorada.
São milhares de hectares com pastos favoráveis e que permitem a criação de todo  o tipo de animais.

Das 600 cabeças de gado bovino, do lote que veio do Chade, adquiridas pela Fazenda Capeca, quase metade já morreu , o que é atribuído a dificuldades de adaptação.
É uma situação que preocupa desde as grandes unidades aos pequenos criadores, muitos dos quais questionam as condições criadas em Camabatela para garantir a rápida adaptação dos animais.
"O gado do Chade é para esquecer", sublinham os responsáveis da Fazenda Capeca, agastados com o cenário criado pela inadaptação dos animais.


A vez dos cereais
Na região da Quibala, província do Cuanza-Sul, está a  Fazenda Santo António.
Instalada na localidade do Tari, Santo António está a tornar o Cuanza-Sul num pólo de produção de cereias, capaz de rivalizar com as tradicionais provinciais produtoras, fundamentalmente, no Centro e Sul de Angola. O investimento atingiu já cerca de 100 milhões de dólares, dos quais sessenta e cinco por cento de fundos próprios (65 milhões), gerando emprego a quinhentas e setenta pessoas.

Neste verdadeiro gigante agrícola fala-se de milho produzido com recursos a pivots e a sementeira anual de três mil e oitocentos hectares em regadio e outros mil de culturas como milho, soja e sorgo. Os números fornecidos pela gestão do empreendimento dizem bem da dimensão deste projecto. São 18 mil  toneladas de milho, seis mil de soja e duas mil de sorgo. Conforme explicou o gerente da Fazenda, José Alexandre, há no espaço capacidade instalada para o armazenamento de seis mil toneladas de cereais, sempre em rotação.

A fábrica de ração gera 15 mil toneladas de fuba e duas mil consomem diariamente parte da produção agrícola. Na unidade industrial está a finalizar-se um investimento de uma extrusora de soja capaz de processar duas toneladas por hora, uma parte da qual transformada em bagaço de soja para a fábrica de rações.

Em Santo António, tal como na Capeca, há novos investimentos na área pecuária, que se consubstanciam em cerca de seis mil vacas e 1.200 bovinos em confinamento, uma estratégia para colocar no mercado angolano carne de qualidade e de padrão superior. 28 pavilhões de frango de corte estão a ser erguidos na unidade. Contas feitas, o mercado pode receber, anualmente, cinco milhões e quinhentos mil frangos desta unidade agro-industrial.

Com o "Andar  o país, pelos caminhos da Agricultura e do Desenvolvimento”, projecto da Rádio Luanda Antena Comercial (LAC), foi possível constatar a aposta da fazenda no turismo, um novo investimento que permitiu já a criação de duzentos e cinquenta animais selvagens importados há dois anos da Namíbia, sendo que parte já nasceu localmente.

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