Cultura

Interesse da preservação e conservação dos arquivos para a História

Encerrou-se, oficialmente, a homenagem ao Herói Nacional, Dr. Agostinho Neto, no âmbito das comemorações do centenário desta figura, na segunda-feira, 9 de Janeiro de 2023.

05/02/2023  Última atualização 05H40
© Fotografia por: DR

As comunicações apresentadas pelos vários especialistas durante todas as actividades programadaspela comissão do "Especial FENACULT 2022” – Vida e Obras do Dr. A. Agostinho Neto, assim como as várias exposições feitas, mostraram a importância dos ensinamentos do Dr. Agostinho Neto e do valor arquivístico das obras do mesmo herói. Por isso, o presente artigo vem encerrar, à nossa maneira, acrescentando o que deve ser a conclusão lógica de todos os trabalhos feitos; mostrando que há interesse em preservar e conservar os arquivos de Agostinho Neto, para a história de Angola e de África, em geral.

É documento, a unidade de registo de informações, qualquer que seja o suporte ou formato. O valor de um documento pode ser: administrativo, fiscal, informativo, legal, arquivístico/histórico, probatório, primário ou secundário. (Dicionário Brasileiro de Terminologia arquivística, pp. 169-172).Afinal, o que se deve conservar para o futuro, e por que os arquivos do Dr. António Agostinho Neto? Com o tema: "Interesse da Preservação e Conservacão dos Arquivos para a História: os Arquivos do Dr. António Agostinho Neto”, pretendemos mostrar que a documentação do Dr. Agostinho Neto tem, para além do valor arquivístico, o maior interesse cultural e informativo, para as comunidades angolanas e estrangeiras. Através dos Arquivos de A. Neto, ou seja, documentos administrativos, discursos, fotografias, recortes de jornais, etc., as pessoas podem compreender a trajectória que culminou com o capítulo importantíssimo da independência de Angola, em 1975, a criação da 1ª República, assim como os vários projectos internos, desde a formação de quadros, a reconstrução nacional, o fomento da agricultura, a alfabetização, a unidade entre os povos de Angola e de África e as relações de cooperação com o resto do mundo, de 1975 a 1979.

Com os arquivos de A. Neto, revivemos os momentos decisivos da proclamação da Independência Nacional e a tomada de posse do 1º Governo da República Popular de Angola – RPA, etc., etc. Com este título, queremos também conscientizar as populações, acerca das responsabilidades individuais e sociais, quanto à questão da preservação e conservação do acervo documental, bem patrimonial colectivo. Como definimos os conceitos: arquivo, interesse arquivístico, preservação e conservação?

São Arquivos, o conjunto de documentos, produzidos e recebidos por determinada entidade, física ou jurídica, pública ou privada, ao longo das actividades legais, e que no seu todo constitui o suporte onde está registada a informação. Os arquivos contêm informações relevantes sobre: vida económica e administrativa, a vida política ou relações diplomáticas, a vida privada das pessoas, etc., pois, assuntos de interesse, com valor histórico-cultural e científico, indispensáveis para a reconstituição da memória colectiva, e para a actuação das instituições e comunidades.

Os arquivos constituem um património único e insubstituível. É Interesse Arquivístico ou Histórico, o valor de um documento, tendo em conta a sua contribuição no conhecimento da história, que determina a sua conservação definitiva. É o seu Valor Secundário, ou seja, a quantidade e qualidade de um documento de arquivo, apreciado em função das informações de valor científico e histórico que contém e do motivo da sua produção(Direction des Archives de France; op. Cit., pp. 23 e 36). A partir do interesse dos arquivos, determina-se o valor secundário, tanto para a entidade produtora, como para outros usuários: investigadores, professores, estudantes, população intelectual em geral. O valor dos documentos, dos arquivos em particular é a razão principal da procura/do interesse dos fundos documentais, pelas populações.

É Preservação,a prevenção da deterioração e danos em documentos, por meio de adequado controle ambiental e/ou tratamento físico e/ou químico. (Arquivo Nacional do Brasil); op. Cit., p. 135).

É Conservação, a promoção da preservação e da restauração dos documentos(Idem, p. 53). Conservar os documentos é procurar travar a acção do processo de degradação, dando-lhes o tratamento correcto. Conservar é manter vivo/intacto, um património, uma memória.

Sendo os documentos um registo cultural de uma determinada época e lugar, pois, muito significativos para a humanidade, os registos efectuados devem ser conservados,para as gerações vindouras. Estamos a falar de documentos, na generalidade. É Documento, tudo que pode nos fornecer informação (ofício, livro, revista, fotografia, filme, estátua, vestígios arqueológicos, utensílios de uso corrente, etc., até roupa), pois, tudo o que pode ser fonte de conhecimento ao homem. Arquivisticamente, conserva-se permanentemente tudo que tem potencialidade de servir para pesquisa e informação.

Por que os arquivos do Dr. António Agostinho Neto, ou seja, quem foi António Agostinho Neto?

Como político, começou por determinar a forma de organização da sociedade angolana, antes de alargar as relações diplomáticas de Angola com outros países estrangeiros, priorizando os países anticoloniais. Ao falecer, a 10 de Setembro de 1979, apenas cerca de quatro anos à frente dos destinos do povo angolano, o Dr. Agostinho Neto deixou uma nação com grande esperança para o futuro.   É a dimensão sociocultural, ideológica, filosófica e política de Agostinho Neto, que nós, contemporâneos ainda vivos, devemos transmitir às gerações vindouras. A única forma de o fazer é conservar os arquivos deixados pelo protagonista, e não só. Aliás, os arquivos constituem um património para toda a humanidade. Pois, vejamos:

- Hoje, para conhecermos parte da nossa história, nós africanos devemos ir para a Europa, onde os arquivos da época colonial sobre os territórios do continente estão guardados. Para evitarmos que esta situação permaneça, devemos preservar e conservar, devidamente, os nossos arquivos.

-Os arquivos constituem um testemunho directo, sem os quais não estaríamos informados acerca de alguns acontecimentos que ocorreram no mundo, no caso dos vários extermínios/genocídios, de forma deliberada, de um povo, por razões étnicas, militares, religiosas ou culturais. (Genocídios de 1945, de Josef Stalin, contra alemães, em Gulags, na União Soviética; de 1939 a 1945, dos nazistas, contra os judeus, eslavos, romenos, sérvios, etc., na Europa; de 1915 a 1923, contra os arménios, assírios, gregos e curdos, na Turquia; de 1904 a 1907, contra os Helelos, pelos colonos Alemães, no Sul de Angola; da década de 1890, contra as populações do Congo Belga, pelo Rei Leopoldo II; do século 13, do líder mongol Gengis Khan, contra a Coreia, China, Rússia e Afeganistão (Ásia), até Leste da Europa, etc.).

- Se não cuidarmos dos nossos arquivos, hoje, como é que as gerações vindouras, saberão, daqui a dois mil anos, que em Angola houve guerra civil, de 1975 a 2002?

- Se os soberanos do antigo Reino do Mali, não tivessem conservado cerca de 500.000 manuscritos judeus, trazidos pelos Árabes, na época de Jihad, emTombouctou (Mali), hoje não teríamos informação sobre o funcionamento das sociedades da época, que as chancelarias de Sokoto reconstruíram.

Os arquivos constituem um instrumento fundamental para a preservação e valorização do património histórico-cultural de uma nação. Promover e incentivar o estudo e a investigação científica da obra do Dr. Agostinho Neto, passa pela preservação e conservação dos arquivos do mesmo protagonista. Conquanto, a problemática permanece, quanto ao desafio das condições essenciais para assegurar o processo de preservação e conservação, para assim, facilitar a investigação, pelos especialistas, professores, estudantes e população intelectual, em geral. A gestão dos arquivos é uma necessidade imperativa.

Honoré Mbunga

 

BIBLIOGRAFIA GERAL

- ARQUIVO NACIONAL DE ANGOLA; Actas do Colóquio Internacional sobre a Vida e Obra do Dr. António Agostinho Neto, Luanda, Arquivo Nacional de Angola/Ministério da Cultura, 2014.

- ARQUIVO NACIONAL (Brasil); Dicionário Brasileiro de Terminologia arquivística, Rio de Janeiro, 2005.

- Catálogo da Exposição Itinerante Fotográfica sobre a Vida e Obra do Dr. António Agostinho Neto, Luanda, Comissão Organizadora do Colóquio Internacional/Ministério da Cultura, 2009.

-DIRECTION DES ARCHIVES DE FRANCE ; Dictionnaire de terminologie archivistique. Paris, DAF, 2002.

- LARANJEIRA, Pires e ROCHA, ANA T.(Org.); A Noção de Ser: Textos escolhidos sobre a Poesia de Agostinho Neto, Luanda, Fundação Dr. António Agostinho Neto, 2014.

- -----; "O Valor da poesia de Agostinho Neto para as novas gerações”. In:Actas do Colóquio Internacional sobre a Vida e Obra do Dr. António Agostinho Neto, Luanda, Arquivo Nacional de Angola/Ministério da Cultura, 2014, pp. 213-219.

- MABEKO-TALI, Jean-Michel; "Entender o Nacionalismo de Agostinho Neto no Contexto mundial dos anos cinquenta”. In: Actas do Colóquio Internacional sobre a Vida e Obra do Dr. António Agostinho Neto, Luanda, Arquivo Nacional de Angola/Ministério da Cultura, 2014, pp. 119-137.

- MBAH, Jean Martial; "Itinerário e Trajectória política de Agostinho Neto: Da Luta Anticolonial até a Independência de Angola” In:Actas do Colóquio Internacional sobre a Vida e Obra do Dr. António Agostinho Neto, Luanda, Arquivo Nacional de Angola/Ministério da Cultura, 2014, pp.57-77.

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/os-10-maiores-genocidios-da-historia, consultado a 3 de Junho de 2022.




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