A ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
Kaissara é um poço de revelações quase inesgotável, como a seguir verão ao longo desta conversa, em que aponta os caminhos para um futuro mais consequente da modalidade; avalia o presente das políticas adoptadas sobre a massificação e formação. Mostra-se convicto de que o país pode, sim, continuar a ser a maior potência africana do Hóquei em Patins
Professor universitário e pesquisador sobre as questões do ensino bilingue em Angola, Ezequiel Bernardo é um acérrimo defensor da introdução das línguas nacionais nas escolas do meio rural, não como disciplina específica mas como veículo para o ensino de todas as disciplinas. Essa defesa assenta nas pesquisas de campo que tem feito em ambiente rural em várias regiões do país
Qual
é o tema da sua tese de doutoramento? O que o fez optar pelo Brasil?
Optei
pelo Brasil por ser um país de expressão portuguesa e por ter muito a ver com o
tipo de estudo que faço, que é uma perspectiva da Sociolinguística crítica,
tendo em conta também a questão sociolinguística angolana. Já tinha feito o
mestrado em sociolinguística no Brasil, financiado pelo Governo brasileiro,
propriamente em políticas sociolinguísticas para o ensino bilingue em Angola.
Sim, tendo em conta a escassez de bolsas e de apoios institucionais no país, resolvi estudar por conta própria.
Isso
significa um sacrifício enorme, pessoal e familiar, tendo em conta que a sua
ocupação profissional é a docência...
É um
sacrifício, pois tenho de contrair dívidas. Como tenho um propósito a cumprir,
acabo por sacrificar a família, mas para um bem comum, um bem social, tendo em
conta o contexto do ensino em Angola.
O
tema da sua tese de doutoramento qual é, concretamente?
"Entre comprar cadernos e comer, o que é mais
urgente? Cartografia sobre o monolinguismo e ensino e ideologias em contextos
multilingues angolanos”.
O
que foi que o levou à escolha desse tema?
Primeiramente,
sou um pesquisador que versa muito pela questão do ensino em contexto rural,
que é uma área muito marginalizada em termos de pesquisa em Angola. Ao
desenvolver o meu estudo de mestrado percebi algumas lacunas cujo estudo podia dar sequência no
doutoramento. Resolvi seguir a perspectiva já levantada no estudo do mestrado,
tendo em conta o abandono escolar massivo nas escolas rurais e a vivência que tem a ver com as
políticas públicas para o contexto rural. Por isso a minha ocupação era e é
compreender como é que a escola rural funciona e como é que nós poderíamos
facilitar ou então adequar o ensino nas
escolas rurais tendo em conta o cenário contextual, ou seja, tendo em conta o
termos um cenário mais contextual e não a norma estabelecida por Luanda. Temos
de romper o paradigma da homegeneização. Temos uma escola homogénea e
precisamos compreender que o contexto rural tem as suas especificidades.
Quais
são, concretamente, as especificidades a que se refere?
Nas
áreas rurais, existe um período de preparação dos solos, um de plantação e
outro de colheita. Nesses períodos os alunos ausentam-se da escola. Se se
ausentam da escola para poderem ajudar os pais na subsistência da família, não
é possível que as políticas educativas continuem homogéneas. É preciso que as
políticas educativas sejam contextuais, de modo a responderem a essas
realidades. Deve haver calendários lectivos específicos para esses contextos.
Quer dizer que há um problema nas políticas educativas públicas, que não
responde às necessidades do país. Nós observamos que quando chega a época de
recolha de frutos silvestres os alunos abandonam a escola. Não podemos
continuar nesse tipo de cenário. Se se criasse um mecanismo no sentido dos
alunos nesses contextos rurais não irem à escola, haveria uma pausa escolar
porque estarão engajados nesse tipo de actividade, que é de subsistência. Aí
sim, os alunos iriam à escola. Não adianta impormos um calendário escolar e os
alunos não estarem na escola. Assim não estaremos a promover o ensino nesse
contexto.
São
recorrentes as notícias do abandono escolar nas comunidades pastoris, em que as
crianças têm de fazer o pastoreio do gado, às vezes em situação de
transumância. Aí a lógica do abandono escolar é a mesma?
Como
nós não compreendemos esse cenário, às vezes saímos a fazer determinados
julgamentos que nem sequer se adequam ao contexto, porque o desconhecemos. Esse
é um dos locais em que podemos compreender que o que se põe aí não é só a
vontade deles abandonarem a escola. Primeiro é que os pais e os filhos falam
uma língua que a escola não ensina, os alunos falam as línguas nacionais e a
escola vem impor-lhes a língua portuguesa, o que dificulta a participação dos
pais no processo de aprendizagem dos filhos. Os filhos não falam português e se falam não é o português que a
escola legitima. Cria-se um conflito muito grande, que faz as crianças desinteressarem-se
pela escola. Há aqui uma situação que os nossos decisores das políticas
educativas, a começar pelo Ministério da Educação, precisam de ter em atenção.
E por outro lado percebemos que as escolas rurais nem sequer estão mapeadas
pelo Ministério da Educação. Não existe um mapeamento das escolas rurais
existentes em Angola.
O
Ministério da Educação desconhece as escolas rurais?
Não
existe um mapeamento de quantas escolas rurais existem e de como é que essas
escolas funcionam e qual é o projecto do Estado para que essas escolas se
mantenham. Por exemplo, estive no Bié em 2022, no primeiro trimestre e depois
voltei no terceiro trimestre. No primeiro trimestre encontrei alunos mas no
terceiro trimestre encontrei a escola fechada.
Porquê?
Os
alunos abandonaram a escola porque era a época da plantação. A escola fechou
totalmente. Os professores faltavam, ninguém prestava contas a ninguém.
Os
professores não eram residentes na comunidade?
Não,
o que também é um perigo. Daí surge a necesssidade do MED olhar com atenção
para os professores que dão aulas no contexto rural. Ou precisa criar condições
para que os professores residam nessas comunidades ou o Estado precisa criar
políticas que permitam dar alguma verba adicional para que esses professores
consigam se deslocar com frequência à área onde estão colocados. O que foi que
eu fiz? Reuni com a comunidade para perceber o motivo que estava por trás
daquilo. (Isso aconteceu na localidade de Ngunda, município do Cuito). E
consegui perceber que, primeiramente, havia o desagrado pelas políticas
educativas e a forma como se leccionava. Temos um plano curricular que não
agrada à comunidade, temos disciplinas que não servem para aquilo que ela
pretende. Por exemplo, é preciso ter uma disciplina de plantação, uma
disciplina ligada à colheita dos alimentos... Essas disciplinas têm mais a ver
com aquilo que a população faz e precisa. A escola não proporciona isso. A
escola proporciona um modelo curricular que extrapola os objectivos da
comunidade. Logo, a comunidade não vai permanecer na escola.
"O
ensino nas áreas rurais precisa de ser
feito nas línguas nacionais”
Há
uma questão que você defende muito nos seus textos, que é a questão do ensino
das línguas nacionais. A questão que se coloca é se o ensino todo deve ser
feito nas línguas nacionais ou se as línguas nacionais devem constituir
disciplinas específicas?
Tenho
debatido sempre essa questão porque julgo que as ideias que se constroem em
torno do ensino bilingue em Angola são falsas.
O que é o ensino bilingue?
O
ensino das línguas nacionais não torna o ensino bilingue. Não é possível chamar
ao ensino "bilingue” quando eu coloco a língua nacional como disciplina. Isso
não vai resolver o problema que temos.
No
contexto urbano também não faz sentido que uma determinada língua nacional
entre no ensino como disciplina específica?
Para
começar pode fazer sentido somente no contexto urbano. Por exemplo, você vive
numa área rural, pensa numa língua nacional e está a ser obrigado a desenvolver
um texto em língua portuguesa. Que resultado é que terás no texto em língua
portuguesa? Zero, porque estás a pensar numa língua e a esforçares-te a
traduzir numa outra língua que nem sequer dominas. Por exemplo, a questão da
matemática. Em kimbundu dizemos "dikuinhi jiadi” e em português "vinte”. Só a
forma de contagem dos números já extrapola o princípio normativo daquilo que é
a língua nacional e daquilo que é a língua portuguesa. Estamos aí dentro de um
conflito muito grande e é preciso nós aceitarmos que o ensino para as
realidades rurais precisa de ser feito nas línguas nacionais. Não é que deva
haver uma disciplina em línguas nacionais, o ensino deve ser feito nas línguas
nacionais. Ensinar matemática, história, biologia, geografia e outras
disciplinas nas línguas nacionais. Isso de modo contextual. Onde se fala
umbundu ensina-se nessa língua, onde se fala kimbundu ou cokwe idem e assim por
diante.
Compreende
que esse tipo de ensino tornaria muito mais complexo o recrutamento e a
formação dos professores?
Esse
é um falso problema. Os ISCED formam professores e nessa formação devia haver
uma componente ligada a isso. É um problema que precisa de ser reajustado.
Infelizmente os ISCED só formam professores para a área urbana. Tirando as
línguas nacionais que são dadas em alguns ISCED e na Faculdade de Humanidades,
estamos diante de um problema muito sério. Por exemplo, no ensino de
matemática, história ou de língua portuguesa, estão a ser formados professores
sem uma componente que lhes permita responder às necessidades do ensino nas
áreas rurais. Desenvolvi um estudo em Cabinda, no qual perguntei a alguns
estudantes do ISCED, que já são professores, como é que lidam com essas
situações em sala de aula. Eles não falam a língua ibinda. Disseram-me que têm
tido dificuldades até de interagir com os alunos, "porque eles apresentam
dúvidas que nós, às vezes, não conseguimos responder”. Um ainda me disse "olhei
para um aluno e vi que ele estava aflito. Perguntei-lhe o que se passava, em
português, e ele ficou seriamente a olhar para mim e depois disse ‘unkóia’”. O
aluno estava dizer que a cabeça lhe estava doer, mas o professor não
compreendeu o que o aluno estava a dizer, até que um outro aluno informou ao
professor o que o colega estava a dizer. Quer dizer, estamos diante de uma
situação que precisa da nossa atenção como educadores.
Todas
essas questões, aparentemente específicas do ensino em contexto rural, acabam depois por impactar na questão do
desenvolvimento rural, da agricultura e da diversificação da economia?
É
claro que não se alcança o desenvolvimento quando estamos a negar a língua da
comunidade. O subdesenvolvimento da área rural ocorre ou piora porque queremos
transformar a área rural em área urbana. Precisamos de dar às comunidades
rurais as ferramentas para que elas desenvolvam o que sabem fazer lá onde
vivem. Aí assim, estaríamos a criar as premissas para o desenvolvimento do
país. Enquanto pensarmos em, primeiro, impor-lhes uma língua, que é a língua
portuguesa para depois exigir-lhes outra coisa, estaremos a regredir. É preciso
haver a criação de políticas de apoio às comunidades rurais, de maneira que ao
desenvolverem a agricultura de subsistência consigam desenvolver também o
espaço onde vivem.
A
Lei de Bases do Sistema Nacional de Educação, na sua opinião, não acomoda
devidamente a questão das línguas nacionais no ensino?
A
Lei de Bases do Sistema Nacional de Educação ou o estatuto das línguas
nacionais? Há um estatuto, que se pressupõe haver, das línguas nacionais e
existe a Lei de Bases da Educação que também acaba por não ter em atenção o
contexto rural, deslegitima e
marginaliza o contexto rural.
Tudo
isso como?
Quando
temos na Lei de Bases elementos que não reforçam a diversidade linguística,
significa dizer que estamos a assumir que o país é monolingue. Por exemplo,
quando dizes que "as línguas nacionais poderão ser ensinadas, mas por
intermédio de um outro decreto/lei”, que nem sequer existe, estamos
indirectamente a dizer que não se pode ensinar as línguas nacionais. Este é um
grande problema porque é a partir da lei que deveríamos ter bases para que os
professores usassem a línguas nacionais. Ao fazer uma pesquisa de campo,
deparei-me com professores a falarem em umbundu na sala de aula, mas ao me
verem calaram-se, com receio que eu levasse a informação ao Ministério da
Educação de que falavam em umbundu para esclarecer as dúvidas dos alunos. A
questão é que se aí, naquele contexto, você como professor não esclarecer a
dúvida do aluno na língua nacional, ele dificilmente permanece na escola,
porque ele está insatisfeito. É preciso
que a nossa lei seja inclusiva, que não exclua ou marginalize outros grupos
sociais, para termos um país mais coeso, equitativo e bom para viver.
"Angola
tem um português angolano que precisa de ser normatizado”
Em
relação ao estatuto das línguas nacionais, o que há lá que não se adequa àquilo
que poderia permitir um maior desenvolvimento e inserção das línguas nacionais
no ensino e na vida pública?
O
estatuto das línguas nacionais como tal não existe.
Não
existe?
Não
está escrito’
É só um nome. Se está escrito ninguém o aprovou. Então não existe. Só podemos falar de um estatuto quando ele já está aprovado e posto em circulação.O estatuto das línguas nacionais é um documento que foi remetido à Assembleia Nacional desde a década de 80 e nunca de lá saiu.
A
Constituição do país reconhece a importância das línguas nacionais...
Não
basta reconhecer. Além de reconhecer é preciso dizer onde as nossas línguas vão
ser utilizadas. O estatuto é que viria dar esse peso, esse valor às línguas
nacionais. Por exemplo, o meu filho vai aprender kimbundu, mas vai utilizar
essa língua onde? Quando fiz um estudo sobre os hospitais, encontrei uma
paciente que só falava kimbundu e mandaram-lhe voltar pra casa, disseram-lhe
"vai buscar o teu neto para vir aqui nos esclarecer o que você está a sentir”.
Isso foi em Malanje. E a tradução do neto poderia nem sequer reflectir o que a
velha de facto sentia. Estamos diante de uma situação que precisa de ser
revista. É preciso aceitarmos que Angola é um país de diversidade linguística e
em que o estatuto das línguas nacionais é fundamental. Precisamos de perceber
que não podemos dar um tiro no escuro. Por exemplo, temos agora a Constituição
em várias línguas nacionais e perguntei a alguém, com responsabilidades
políticas, onde vai ser utilizada essa Constituição em línguas nacionais? Em
lugar algum, porque as línguas nacionais nunca foram utilizadas nos espaços
públicos oficialmente. Nos tribunais não são utilizadas, nem nas escolas...
Precisaríamos primeiro de ter o estatuto das línguas nacionais e depois a
Constituição traduzida nessas línguas. Aí os tribunais já poderiam utilizar a
Constituição nessas línguas quando houvesse necessidade e o país iria andando.
E não fazer o contrário.
Há
uma realidade a que não se pode fugir. Com ou sem estatuto oficial, as línguas
nacionais têm uma enorme influência sobre o português em Angola, de tal modo
que já tornam esse português bastante peculiar, diferente, e que talvez já
demande uma gramática com regras próprias. Haverá já necessidade de
normatização e legitimação desse portuguẽs? Como é que você vê essa questão?
Angola
tem um português angolano, sempre defendo isso. Nós não falamos português de
Portugal ou do Brasil, falamos o português angolano. E existem muitos
elementos, tenho pensado muito nisso, que já nos levam a pensar na questão da
normatização do português angolano. Vários pesquisadores já desenvolveram
estudos, quer a nível morfológico, quer a nível fonético, quer a nível
fonológico. É preciso que o Estado olhe para isto de modo benéfico. Quando
olharmos para a necessidade da criação da norma do português angolano como algo
benéfico para o país, vamos nos preocupar em criar projectos, que envolvam
outros pesquisadores, e a partir daí começarmos a construir a norma do
português angolano.
Isso
seria benéfico para o país em que sentido?
Se
formos às escolas, veremos que a disciplina que os alunos dizem que menos
gostam é a língua portuguesa. E nós ainda não paramos para tentar compreender o
porquê disso.
É
opinião comum que se deverá à falta de hábitos de leitura...
Paremos.
Eu também tenho esse problema, o português europeu para mim também é difícil. E
não é que eu não tenha hábito de leitura. Há aí uma situação que precisamos de
compreender. Nós falamos tendo em conta a influência das línguas nacionais. A
construção do raciocínio é feita com marcas das línguas nacionais, estas estão
sempre na nossa organização discursiva.É normal que entre nós se diga "me dá”.
Mas se estiveres numa prova e puseres "me dá” é um problema sério, é
considerado errado, terias de meter "dá-me”. Estamos diante de uma realidade
que conflitua muito com aquilo que a gente é, sobretudo quando o professor não
consegue fazer ver ao aluno o que é a forma canónica, que se usa nos documentos
e etc... No dia-a-dia a maioria das pessoas diz "me dá”. Como dizia, precisamos
de aproveitar o que temos de bom para podermos normatizar o nosso português. E
hoje estamos a ser muito influenciados, sobretudo pelo Brasil. E acabamos por
ir adoptando marcas do português brasileiro.
E
aqui vamos entrar na questão do Acordo Ortográfico que Angola não adopta mas
que entretanto entranha em nós seja pela linguagem reinante nas novas
tecnologias de informação e comunicação, seja pela hegemonia editorial de
Portugal e do Brasil. Como é que se resolve isso?
Primeiro,
o Acordo Ortográfico apresentava algumas debilidades para o nosso contexto. Era
preciso que se adequasse essas debilidades, uma delas era que se devia incluir
o "Y” no alfabeto. A resistência de Angola à adesão ao Acordo Ortográfico
também tem implicações negativas porque nós somos dependentes de Portugal e do
Brasil, que são os países que nos fornecem livros. Ora, se somos tão
dependentes, é preciso arranjar um meio termo para sairmos dessa situação
quanto mais cedo. Nas escolas os professores já não sabem se estão a usar a
norma portuguesa ou brasileira.
(Abriria um parênteses para dizer que essa confusão também já se nota nos jornais). Mas não é só a dependência editorial de Portugal e do Brasil. Você vai ao Google ou aos correctores automáticos dos programas de edição de textos e a norma prevalecente aí é a do português segundo o Novo Acordo Ortográfico...
Pois. O que é que Angola está a pensar fazer diante disso? Não se ouve falar disso. Estamos descansados e as situações vão se alastrando.
No
fundo, o Novo Acordo Ortográfico está oficiosamente em vigor entre nós?
Implicitamente
está em vigor em Angola. Precisamos é de criar um mecanismo para tentar
amenizar o conflito e compreender os benefícios e os problemas que podem
resultar da adesão ou não ao Novo Acordo Ortográfico.
Interesse
pela língua kimbundu no Brasil
Quais
são os seus planos para assim que terminar o doutoramento? Vai apostar mais na
pesquisa ou na docência?
Desde
sempre dei aulas, mas também voltado para a investigação. O meu ambiente de
investigação é a área rural porque sinto que a área urbana já está "repleta” de
pesquisas. É preciso compreender os fenómenos que ocorrem nas nossas áreas
rurais. Gostaria, primeiramente, de fazer parte de uma comissão de mapeamento
das escolas rurais e compreender quais sãos os problemas que as escolas rurais
atravessam em Angola para podermos encontrar mecanismos que visem acabar com o
abandono escolar e proporcionar um currículo específico para cada região.
Ainda relativamente ao ambiente escolar rural. Pelo que disse no início desta conversa, a escola actual não promove, ou não legitima, a língua das comunidades, menoriza-a ou ignora-a, impondo-lhes uma outra língua...
Esse é um grande problema. Precisamos de compreender que as escolas para as áreas rurais precisam de ser contextuais. Se não compreendermos como é que funciona a comunidade, não adianta sequer colocar lá uma escola. E é o que acontece. Vi o caso de uma escola bem construída, com carteiras e tudo mas que os alunos deixaram de lá ir. Mas na outra escola com paredes de barro os alunos permaneceram até terminar o ano lectivo. Às vezes nós construímos uma escola sem compreender primeiro a população que lá está, como é que funciona, quais são as tarefas que ela faz, os meses em que está mais ocupada e daí criarmos uma política de inserção do ensino. Se não tivermos em atenção esses elementos será um projecto frustrado, teremos mais uma escola abandonada.
Na
sua formação no Brasil, tanto no mestrado como agora no doutoramento, tem dado
aulas de kimbundu. Como é que surgiu essa ideia?
Tendo
em conta a influência da língua kimbundu na formação do português brasileiro e
o interesse de muitos brasileiros pela língua kimbundu, surgiu a necessidade de
formular um projecto, isso em 2017, que deu abertura ao primeiro curso de
kimbundu na Universidade Federal de Santa Catarina. Dei o curso três vezes. E
também já dei três vezes na Universidade Federal de Catalã.
O
curso tem a duração de quanto tempo?
Em
2017 teve duração de um semestre. Agora, mais recentemente, o curso é mais
intensivo e com duração de um mês. São aulas extra-curriculares, pois somente
os interessados é que fazem o curso. A intenção é dar o básico: saudações, como
é que se escreve em kimbundu, a norma alfabética, como é que se diz o tempo...
De
onde parte o interesse dos brasileiros por aprenderem o kimbundu?
Primeiro
é que eles dizem que são africanos. Esse princípio de auto-aceitação como africanos
já os motiva. E muitos participantes desse curso são pessoas que estudam
sociologia, linguística. E como houve, no tempo da escravidão, a deslocação de
muitos africanos para o Brasil, muitos querem compreender melhor a questão das
línguas africanas. Por exemplo, extractos da língua kimbundu são usados no
candomblé, nas igrejas de matriz africana no Brasil. Isso leva muitos a
interessarem-se pelo curso de kimbundu.
PERFIL
Ezequiel Pedro José Bernardo, nasceu em 1981 em Luanda. Professor do ISCED/Cabinda, é licenciado em Língua e Literaturas em Língua Portuguesa pela Faculdade de Letras, actualmente de Humanidades, da Universidade Agostinho Neto e mestre em Sociolinguística e Dialectologia pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. Actualmente faz o doutoramento em Sociolinguística na Universidade Federal de Catalã, Brasil.
Autor do Livro "Na Terra de Quem”, poesia, (2006), exibiu a exposição fotográfica "O choro da Flora” (2007) e participou na exposição fotográfica denominada "Africanidade”, realizada no Brasil, estado do Rio de Janeiro, na qual expôs fotografias sobre o alembamento entre o povo Mukongo. Tem publicado artigos em jornais e revistas nacionais e internacionais.
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LoginEm entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, fez a radiografia do sector, dando ênfase aos avanços registados em 22 anos de paz. Neste período, houve aumento do número de camas hospitalares, de 13 mil para 41.807, e da rede de serviços de saúde, que tem, actualmente, 3.342 unidades sanitárias, das quais, 19 hospitais centrais e 34 de especialidade. Sobre a realização de transplantes de células, tecidos e órgãos humanos, a ministra disse que, com a inauguração de novas infra-estruturas sanitárias e a formação de equipas multidisciplinares, o país está mais próximo de começar a realizar esses procedimentos
Assume-se como uma jornalista comprometida com o rigor que a profissão exige. Hariana Verás, angolana residente nos Estados Unidos da América há mais de 20 anos, afirma, em exclusivo ao Jornal de Angola, que os homens devem apoiar as mulheres e reconhecer que juntos são mais fortes e capazes de construir uma sociedade equitativa e próspera. A jornalista fala da paixão pela profissão e da sua inspiração para promover as boas causas do Estado angolano, em particular, e de África, em geral.
Por ocasião do Dia Nacional da Juventude, que se assinala hoje, o Jornal de Angola entrevistou o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Isaías Kalunga, que aconselha os jovens a apostarem no empreendedorismo, como resposta ao desemprego, que continua a ser uma das maiores preocupações da juventude angolana.
No discurso directo é fácil de ser compreendida. Sem rodeios, chama as coisas pelos nomes e cheia de lições para partilhar com as diferentes áreas e classes profissionais. Filomena Oliveira fala na entrevista que concedeu ao Jornal de Angola em Malanje sobre a Feira Agro-industrial, mas muito mais da necessidade de os organismos compreenderem que só interdependentes se chegará muito mais rápido aos objectivos.
O Festival Internacional de Jazz, agendado para decorrer de 30 deste mês a 1 de Maio, na Baía de Luanda, tem já confirmada a participação de 40 músicos, entre nacionais e estrangeiros, e o regresso da exposição de artes visuais com obras de 23 artistas plásticos, anunciou, sexta-feira, em conferência de imprensa, no Centro de Imprensa da Presidência da República, CIPRA, o porta-voz da Bienal de Luanda, Neto Júnior.
A judoca angolana Maria Niangi, da categoria dos -70 kg, consegui o passe de acesso aos Jogos Olímpicos de Verão, Paris'2024, ao conquistar, sexta-feira, a medalha de ouro no Campeonato Africano de Judo que decorre na Argélia.
A representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Angola, Denise António, destacou, sexta-feira, em Luanda, a importância do Governo angolano criar um ambiente propício para a atracção de mais investidores no domínio das energias renováveis.
O Governo do Bié iniciou a montagem de um sistema de protecção contra descargas atmosféricas nos nove municípios da província, pelo elevado número de pessoas que morreram nas últimas chuvas, devido a este fenómeno, garantiu, sexta-feira, o governador Pereira Alfredo.
Nascido Francis Nwia-Kofi Ngonloma, no dia 21 de Setembro de 1909 ou 1912, como atestam alguns documentos, o pan-africanista, primeiro Primeiro-Ministro e, igualmente, primeiro Presidente do Ghana, mudou a sua identidade para Nkwame Nkrumah, em 1945, com alguma controvérsia envolvendo o ano de nascimento e o nome adoptado.
Em quase toda parte da cidade de Luanda, bem como em outras cidades de Angola, é comum ver mototáxis circulando. Em busca de melhores condições de vida, Augusto Kalunga viu-se obrigado a se tornar um mototaxista, superando o preconceito de familiares e amigos para garantir o sustento da sua família e cobrir outras necessidades.