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Insegurança nas escolas trava acesso à educação

Dezenas de milhares de crianças na Nigéria estão sem acesso à educação porque as autoridades continuam sem proteger as escolas dos ataques de insurgentes e outros grupos armados, especialmente no Norte do país, denunciou, ontem, a Amnistia Internacional, noticiou a Lusa.

15/04/2021  Última atualização 06H35
Pelo menos, dez milhões de crianças em idade escolar estão fora do sistema de ensino © Fotografia por: DR
A actividade continuada do grupo radical islâmico Boko Haram e de outros insurgentes, no Norte da Nigéria, sem uma resposta adequada das autoridades em quase uma década "provocou o encerramento de centenas de escolas, com consequências desastrosas para a juventude, numa região onde a insegurança já é extrema”, acusa a organização quando se assinalam sete anos desde o rapto de 279 raparigas numa escola em Chibok, no sul do estado de Borno, Noroeste do país.

A maioria das raparigas raptadas pelo Boko Haram escapou ou foram libertadas mais tarde, mas mais de 100 permanecem em cativeiro. Tem havido mais raptos em larga escala de crianças em idade escolar na Nigéria, das quais centenas foram mortas, violadas, forçadas a "casamentos” ou obrigadas a juntar-se ao grupo armado.

"As autoridades nigerianas não conseguiram proteger os estudantes face aos recentes ataques às escolas, demonstrando claramente que nada aprenderam com a tragédia em Chibok”, denuncia Osai Ojigho, directora da Amnistia Internacional (AI) da Nigéria. Segundo a activista, "a única resposta das autoridades para proteger a população escolar, ameaçada por insurgentes e pistoleiros, é fechar os estabelecimentos, colocando o direito à educação cada vez mais em risco”. "Entre Dezembro de 2020 e Março de 2021, houve relatos de, pelo menos, cinco casos de raptos no Norte da Nigéria. A ameaça de novos ataques levou ao encerramento de cerca de 600 escolas na região. As medidas que as autoridades estão a tomar para controlar a situação não estão a funcionar”, afirma, ainda, Osai Ojigho.Em 2018, a AI revelou que as forças de segurança nigerianas não reagiram a avisos que receberam de que os combatentes de Boko Haram se dirigiam para a cidade de Dapchi, no estado de Yobe, onde mais tarde raptaram 110 estudantes de uma instituição pública de ensino superior.

Desde então, a organização documentou, pelo menos, cinco outros raptos de alunas entre Dezembro de 2020 e Março de 2021. "A frequência destes ataques demonstra como as escolas se tornaram inseguras na Nigéria, enquanto a falta de responsabilização perante a Justiça apenas serviu para encorajar os seus perpetradores”, aponta a AI.

No passado dia 11 de Dezembro, de acordo com testemunhos recolhidos pela AI, centenas de homens armados invadiram sete dormitórios de estudantes numa escola secundária em Kankara, estado de Katsina, Noroeste da Nigéria, e levaram cerca de 300 estudantes a pé para um local desconhecido, onde os mantiveram cativos durante seis noites, até que os libertaram, a 17 de Dezembro. Geração em riscoO ataque levou os Governos dos estados de Kano, Kaduna, Zamfara, Jigawa e Katsina a ordenar o encerramento de escolas, aumentando, assim, o número de crianças fora do sistema de ensino na Nigéria, que a ONU estima em 10,5 milhões.

A 17 de Fevereiro último, 27 alunos foram raptados por pistoleiros da residência de uma escola secundária em Kagara, Estado do Níger, sendo libertados dez dias mais tarde. Num outro ataque, nove dias depois, centenas de estudantes femininas foram raptadas de uma escola secundária para raparigas em Jangebe, estado de Zamfara. Depois de quatro dias de cativeiro, 279 meninas foram libertadas, a 2 de Março, mês em que outras duas escolas foram atacadas no estado de Kaduna, Noroeste da Nigéria, e numa delas foram raptados 30 estudantes. "Estes ataques a estudantes, professores e instalações mostram um total desrespeito pelo direito à vida e à educação por parte de bandidos e insurgentes, bem como pelas autoridades nigerianas, que não conseguem detê-los”, sublinha o comunicado da AI.Osai Ojigho alerta que "as autoridades nigerianas arriscam-se a perder uma geração, ao não providenciarem escolas seguras numa região já por si devastada pelas atrocidades de Boko Haram”. "Ir à escola não deve ser algo que possa custar a vida. 

O Governo deve demonstrar empenho em proteger o direito à educação, investigando devidamente estes ataques”, afirmou  a directora da AI. O UNICEF estima que, pelo menos, 10,5 milhões de crianças entre os 5 e os 14 anos de idade estão fora do sistema de ensino na  Nigéria. Após o encerramento de escolas em todo o Norte do país, os relatos de casamentos e de gravidez precoce entre raparigas em idade escolar têm aumentado.

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