Opinião

Inflação e taxas de juros em diferentes estágios

Juliana Evangelista Ferraz |*

A globalização desencadeou dois efeitos importantes. A expansão geográfica dos mercados e a eliminação gradual das barreiras ao comércio. Factores que aliados a tecnologia, que é garantida por um sistema de telecomunicações que permite o fecho de milhares transacções em apenas segundos, permite uma movimentação rápida de capitais de um continente para outro, sendo o grau de abertura da economia o indicador que determinará a intensidade do nível de exposição face aos riscos, que são cada vez mais assumidos pelas instituições financeiras e empresas.

31/01/2023  Última atualização 06H30

Em Julho/2022, o Banco Central Europeu alterou a política de juros baixos, iniciada após a crise financeira de 2008 (ocorrida nos Estados Unidos da América que historicamente continua a ser uma das maiores crises de todos os tempos) por ocasião da crise da dívida na zona do euro. Assim, com o objectivo de conter o endividamento, a presidente do BCE, Christine Lagarde, anunciou, em Julho do ano passado, o aumento de meio ponto percentual da taxa de juro.

A França sempre foi considerada como uma economia estável, e nunca sofreu fortes alterações de preços. No entanto, em Outubro de 2022, a inflação atingiu os 7,1%, um registo de mais 3,9 % relativamente ao ano anterior. Esta taxa está muito próxima a economias de Espanha e Finlândia que no mesmo período registaram cerca de 7,3% e 8,3%, respetivamente. Já a Letônia e Lituânia, a inflação atingiu níveis consideráveis na ordem dos 22%, o que podemos comprovar que a inflação tem afectado os países mais pobres relativamente aos países com estágios de desenvolvimento e riqueza mais avançados.

Na zona Euro, nos últimos dez anos, a taxa de inflação tem-se relevado estável, oscilando entre (-0,25 e +0,25) pontos, num período em que a inflação era quase inexistente, e passou a oscilar praticamente a partir do final do ano de 2021, com impacto no preço dos alimentos e energia que se tornaram mais caros. Assim, as famílias com menos recursos gastam uma quota significativa dos seus rendimentos com os produtos mais afectados, incluído os custos com a saúde. Portanto, os bancos centrais em todo o mundo estão perante o maior desafio inflacionista dos últimos tempos que exigirá, certamente, uma resposta robusta em termos de política monetária.

Todavia, toda a crise tem um determinado efeito nos mercados, como, por exemplo, o impacto no crescimento mundial, oscilação do preço dos alimentos, energia, entre outros. Isto porque aquilo que é hoje o mercado global, contrasta marcadamente com o que era há 15 anos. Os mercados financeiros são hoje mais sofisticados e têm um alcance e dimensão extraordinariamente maior pelo número de intervenientes e operações transaccionais que comporta, o que de certa forma atenua o efeito de recessão, pois hoje uma crise dos bancos na Europa pode ser facilmente resolvida com injecção de capital proveniente de fundos originários da zona Euro, o que era mais difícil há décadas atrás.

Portanto, apesar deste ano haver uma desaceleração das economias asiáticas pelos pressupostos globais do aumento da inflação e das taxas de juro, os efeitos da perturbação económica não são tão marcantes no Oriente (China e Índia), este ano com taxas de crescimento de (4,8% e 6,8%) acima da média mundial em torno dos 1,9%. Países esses em que os índices de confiança, o investimento e a produção estão a seguir uma trajectória ascendente.

A China e a Índia têm sabido aproveitar as vantagens que decorrem da utilização da tecnologia com vista o aumento da produção, conquistando, desta forma, importantes quotas comerciais em vários segmentos.

Na nossa ralidade é um facto inegável que a tendência de apreciação da taxa média de câmbio do Kwanza, bem como o abrandamento do preço das matérias-primas, contribuíram, sobremaneira, para a redução da inflação em 2022. No entanto, é importante não excluir da análise a questão geopolítica com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia que tem afectado várias economias, principalmente na zona Euro. Dado o nosso registo de dependência do sector petrolífero, e como uma componente significativa de importação de bens e serviços, o que de certa maneira irá incorporar possíveis efeitos recessivos da crise que se anuncia. Vejamos que a interdependência das economias é tão forte que a mínima alteração de conjuntura reflecte-se sobremaneira na cadeia global, causando o pânico dos agentes económicos. Portanto, a potencial recessão está na base do abrandamento do crescimento da economia que poderá impactar nas taxas de desemprego, prevendo-se que esta crise poderá reforçar o número de desempregados com maior incidência nos países desenvolvidos.

 

 * Economista

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