O continente africano é marcado por um passado colonial e lutas pela independência, enfrenta, desde o final do século passado e princípio do século XXI, processos de transições políticas e democráticas, muitas vezes, marcados por instabilidades, golpes de Estado, eleições contestadas, regimes autoritários e corrupção. Este artigo é, em grande parte, extracto de uma subsecção do livro “Os Desafios de África no Século XXI – Um continente que procura se reencontrar, de autoria de Osvaldo Mboco.
A onda de contestação sem precedentes que algumas potências ocidentais enfrentam em África, traduzida em mudanças político-constitucionais, legais, por via de eleições democráticas, como as sucedidas no Senegal, e ilegais, como as ocorridas no Níger e Mali, apenas para mencionar estes países, acompanhadas do despertar da população para colocar fim às relações económicas desiguais, que configuram espécie de neocolonialismo, auguram o fim de um período e o início de outro.
Como ponto de partida, vale referir que estamos perante um tema delicado, já que as causas da indisciplina ultrapassam o âmbito escolar, pedagógico, psicológico, psicanalítico e mesmo social, ou seja, estamos perante um fenómeno que não se pode estudar de forma isolada (Aquino, 2000).
Por isso, ao nos propormos analisar a indisciplina e a violência na escola, fazemo-lo conscientes de que o presente trabalho pode vir a suscitar outros debates, embora, a acontecer, seja uma mais-valia, tendo em conta que outros ângulos do mesmo tema serão aflorados e podem vir a ser úteis para os decisores do país, por altura da criação de políticas públicas voltadas à educação e às famílias.
De qualquer modo, é mister referir que o nível de violência na escola que chega até nós por meio das redes sociais e pelo Instituto Nacional da Criança, seja o da menina que esbofeteou a colega num colégio em Benguela, seja do grupo de alunos que agrediu, com socos e pontapés, o colega, no interior do Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEL), seja o caso do professor que dava aulas de pornografia aos alunos do I Ciclo, ou ainda o da aluna de 14 anos de idade abusada sexualmente dentro da escola Angola e Cuba, no município do Cazenga, por três colegas e, tantos outros, constituem violência extrema, que indicam que, mais do que alfabetizar ou formar, é preciso humanizar o espaço escola (da Silva, 1995).
É uma incúria permitir que a escola se transforme num campo de batalha, seja por situações causadas por alunos, seja por professores.
Sem estratégias claras para humanizar esse espaço onde os educandos passam a maior parte do seu tempo, corremos o risco de, volta e meia, assistirmos a cenas dessa natureza dentro da escola.
Tentar humilhar com castigos ou tomar decisões precipitadas e ditatoriais não resolverá esse problema que, como veremos mais adiante, a sua solução não depende exclusivamente das acções e medidas tomadas pela escola (Otchinhelo, 2018). É preciso repensar a intervenção da escola no tratamento de casos de indisciplina e de violência na escola no Século XXI.
As direcções de escola não devem ter vergonha de chamar especialistas que estudam essas matérias para, nos casos mais graves, encontrarem soluções concretas para os casos mais graves.
É de uma ingenuidade gritante quando a escola toma decisões sobre casos de indisciplina de forma amadora e ao calha, ou seja, uma intervenção que do ponto de vista de resultados tanto pode dar certo, como pode agudizar ainda mais o problema.
Só criando a cultura da paz na escola é que será possível construir uma mentalidade estudantil voltada para a humanização desse espaço de interacção social com base nos pressupostos hermenêuticos dos adolescentes e jovens actuais sobre a realidade concreta da vida (Nodari, 2011).
Entretanto, vale lembrar que casos de indisciplina e de violência não são novidades no espaço escola.
Sobre indisciplina na escola, quem da geração anterior a de 2000 não se lembra da "maria das dores” e dos muitos castigos que não adianta reproduzir aqui e que, por meio das leis, se esfumaram completamente no começo dos anos 2000? Portanto, a indisciplina não é um fenómeno novo na escola e muito menos o é a violência.
A guerra atroz que durou mais de trinta anos em Angola é o melhor exemplo de violência que podemos citar. Mas temos outros como novelas, filmes, vídeo-games e outro tipo de entretenimento que são claramente formas de violência vivenciadas por alunos e que naturalmente influenciam as suas atitudes nos momentos de fúria e tensão dentro da escola (Henning e Abbud, 2010).
Desobediência ou falta de modelos?
Como ponto de partida e sem querer fazer meia culpa à sociedade, lembro que "ninguém dá o que não tem”. Isso para referir que muitos desses adolescentes envolvidos em situações infraccionárias na escola são órfãos de modelos socio-morais em casa e na sociedade.
Partimos dessa reflexão para compreensão da análise que se segue tendo em conta que as experiências de vida, principalmente no contexto familiar, e os modelos sociais são determinantes no comportamento que os alunos adoptam, especialmente fora dos olhares dos pais (Gonçaves, 2013). Com base nisso, o leitor poderá ter uma visão holística sobre as causas que dão origem à indisciplina e à violência na escola.
Como já referimos esse fenómeno é um problema que ultrapassa a dimensão escolar para a sua resolução. Para além da necessidade de uma actuação interdisciplinar, e até multisectorial, temos insuficiências no que diz respeito aos modelos comportamentais na sociedade.
É preciso não esquecer que crianças e adolescentes aprendem mais a observar, do que propriamente ouvir um conselho ou reprimenda (Bandeira, De Moura e Vieira, 2009). É com base no que os adultos fazem que as novas gerações constroem as suas identidades sócio-morais (Continua).
José Otchinhelo| Jornalista e pedagogo
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