Economia

Importação de alimentos custa ao país 2,8 mil milhões de dólares

Ana Paulo

Jornalista

Angola gastou, em 2022, um total de 2,8 mil milhões de dólares com a importação de alimentos.

02/02/2023  Última atualização 09H51
© Fotografia por: Vigas da purificação | edfições novembro

A informação foi avançada, quarta-feira, em Luanda, pelo director de Estatística do Banco Nacional de Angola. Joel Futi apresentou os números quando abordava sobre a Conjuntura  Económica Nacional aos operadores da indústria alimentar do país.

Conforme detalhou, do ponto de vista do volume de importação de bens, o indicador registado é de 13,6 por cento, isto é, representando um volume de importação de bens alimentares de cerca de três milhões de toneladas de bens.

Com relação aos custos dos bens alimentares, Joel Futi explicou ter havido um aumento ainda maior em cerca de 40 por cento. Significa que, neste sector, existem dois efeitos, nomeadamente, o da quantidade que aumentou em cerca de 14 por cento e, certamente, o preço, que também aumentou.

Ainda de acordo com o director de Estatísticas do BNA, as importações de bens alimentares, em 2022, tiveram uma tendência de aumento. O registo é de cerca de 46 por cento.

"Tendo em conta aquilo que é o segmento dos alimentos, os bens alimentares tiveram também uma evolução estável com um aumento na parte final do ano, fruto da pressão da quadra festiva, porque muitas empresas tendem a colocar os produtos em reservas em níveis altos, para a posterior não sofrerem risco de rotura durante época”, frisou.

No que toca aos bens alimentares essenciais, Joel Futi destacou como principais o arroz, coxa de frango, óleo de palma, óleo alimentar e açúcar. Todos estes produtos, disse, registaram aumento com excepção do sal. Esta subida, traduzida para o peso, refere-se a um aumento de cerca de 420 mil toneladas, que em termos de valor isso gira em torno de 535 milhões de dólares, correspondendo a 54 por cento.

 

Compra de arroz

Na questão das quantidades, o país importa cerca 600 mil toneladas de arroz, cerca de 200 toneladas métricas de óleo de palma e quase 300 toneladas de coxa de frango. No caso da farinha de trigo ronda nos 106 mil toneladas e a massa alimentar 14 mil toneladas.

Os níveis de baixa importação são absolvidos ou compensados pela produção, realçou Joel Futi.

"São quantidades acentuadas que mostra a necessidade também de se investir no segmento da produção, ao invés de continuarmos, recorrentemente, a importar esses bens. Sabemos que algumas empresas têm já estratégia de investir na produção dos mesmos localmente”, frisou.

Joel Futi reconheceu, no entanto, que o país já representa uma produção satisfatória para atender o mercado.

"A economia internacional teve alguns factores que influenciaram negativamente nos preços dos alimentos”, afirmou. De acordo com aquele responsável do BNA, os operadores de bens alimentares representam mais de 55 por cento do cabaz do Índice de Preços no Consumidor (IPC).

Com relação às perspectivas, tal como anunciado na última reunião do Comité de Política Monetária, o BNA alinha uma taxa de inflação até final do corrente ano em torno de 9 a 11 por cento e também que a economia cresça este ano em torno de 3,3 por cento.

Compras de divisas

Com relação à compra de moeda estrangeira, Joel Futi  reconheceu  que houve um período de algum "stress”, época em que a compra de divisas teve uma redução, sentiu-se uma pressão na taxa de câmbio, mas que, rapidamente, a situação foi revertida, tendo já voltado nos níveis habituais. Houve ainda, segundo disse, um aumento substancial em Novembro, sobretudo, quando o Tesouro Nacional voltou a intervir de forma regular no mercado cambial.

Estes factores fizeram com que os bancos realizassem uma compra em 2022 de cerca de 15,6 mil milhões de dólares.

Segundo Joel Futi, o valor é referente às compras de divisas ao Tesouro Nacional, empresas do sector petrolífero, diamantíferas e outros clientes, licenciados a operar no sistema FXGO da Bloomberg.

Nesse capítulo, os registos assinalam um aumento de 65 por cento em relação ao ano transacto, período que se contabilizaram vendas de 9,4 mil milhões de dólares.

"Houve melhores condições para termos um mercado cambial estável e mesmo a nível dos preços internos a taxa de câmbio tem um peso significativo. Logo, havendo esta estabilidade no mercado cambial e uma apreciação da taxa de câmbio, certamente, os preços também tendem a estabilizar”, apontou.

 

Indústrias moageiras

No encontro do BNA com os operadores económicos do sector alimentar, o vice-presidente da Associação das Indústrias Moageiras de Angola (AIMA), Kidy Aragão, realçou que o resultado é positivo, porque o banco central, como entidade reguladora, tem criado políticas monetárias necessárias para a produção nacional e da parte dos operadores, sobretudo, no sector da produção de cereais no país, têm-se beneficiado de todas as políticas gizadas.

"Já vivemos momentos muito difíceis, mas, actualmente, começamos a ver conjuntura mais favorável em termos de política monetária. Contudo, faltam ainda as políticas fiscais que devem acompanhar o dinamismo que tem sido aplicado pelo BNA, para podermos ter um mercado cada vez melhor e atrair-se futuros investimentos visando ao melhor desenvolvimento do país”. Disse.

Kidy Aragão disse falar-se de mais de 12 unidades fabris, que actuam no segmento das moageiras.

Para ele, se as referidas unidades tivessem em pleno funcionamento isto geraria uma produção de farinha de trigo em torno de 1,3 milhões de toneladas, quantidade muito acima daquilo que é consumida no mercado nacional.

As unidades em funcionamento, segundo avançou Kydy Aragão, são seis unidades de moagem de milho em grandes escalas.

 

Dados mais actuais

Actualmente, defendeu o operador, Angola já deveria falar-se em exportação deste produto.

"É aqui onde o Executivo deve criar condições e balizas para que os operadores económicos neste sector consigam começar a exportar esse produto”, disse.

O gestor destacou ainda que, o processo de exportação só será possível se haver de facto competição, concorrência que também só será possível se haver um aumento considerado em termos da produção nacional, sobretudo, os operadores económicos que devido a baixa de preço ainda fruto da importação da farinha trigo não conseguem produzir nem sequer 60 por cento da sua capacidade.

A título de exemplo, as Grandes Moagens têm uma capacidade de produção de moer o grão de trigo de 1 200 toneladas/dia. A moageira Kikolo e a Carinhos têm a mesma capacidade. No caso da Induve, produz 700 toneladas. Já a Naval mostra-se com 500 toneladas métricas.

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