Sociedade

Ilda Valério: Uma mulher entregue às causas de Deus e da sociedade

Arão Martins / Benguela

Jornalista

As mulheres devem viver sempre felizes, independentemente daquilo que se tem ou não, defendeu a pastora da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA), em Benguela, Ilda Valério. Para ela, a mulher tem que se sentir bem.

19/03/2023  Última atualização 07H00
© Fotografia por: Arão MartinS | Edições Novembro

Explicou que foi casada e viveu bem com o reverendo Estévão Cassinda de Almeida (em memória), relação que gerou oito filhos e 13 netos.

O importante, disse, é ter Jesus nas nossas vidas, porque ele mesmo declarou que veio para que tenhamos vida em abundância. A vida com Jesus, garantiu, é de felicidade.

Aconselhou as mulheres a aceitarem Jesus como mestre, salvador e pertencer a uma igreja, desde que fale de Deus, o criador, o Mestre e o Salvador, que, também, cura.

As mulheres, defendeu a reverenda Ilda Valério, devem conservar os seus lares, cuidar os bens dos maridos, como uma responsabilidade divina que se recebeu.

 
Consagrada primeira pastora em Angola

Consagrada desde 9 de Junho de 1974, no templo do Instituto Curie, na Missão do Dondi, no Huambo, Ilda Valério, de 76 anos, foi a primeira pastora da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA).

Actualmente, a pastorear o pastorado de Cassoco, em Benguela, tem sob sua responsabilidade as igrejas de Emauchi, bairro da Goa, e Boa Esperança (Camponte City), arredores da terra das Acácias Rubras.

Já exerceu funções de pastora na Missão do Cuito (Bié) e Huambo. Professora de profissão, Ilda Valerio já deu aulas em escolas do II e III níveis. Cita, como exemplos, a Escola 314, na cidade do Cuito, Bié, e a Escola Ndala Candumbo e o Liceu do Huambo. 

Filha de um camponês que viria a ser elevado à evangelista com ordens sacras, a sua história, disse, é longa.

A IECA, conta, até 1974, só tinha pastores e a selecção de uma menina para estudar Teologia no Seminário era novidade para a comunidade cristã que indicava jovens para o efeito, onde o nível de escolaridade era tido em conta pelo Seminário Manuel Unido (uma união entre a Igreja Metodista e a IECA), que preparava pastores.

Nascida a 8 de Julho de 1946, no município do Andulo, província do Bié, pelo seu contributo na vida pastoral, a reverenda Ilda Valério foi, por diversas vezes, homenageada como mulher de mérito, pelo Governo Provincial de Benguela e em Luanda. Por algumas ocasiões já lhe foi, inclusive, atribuído o título de diva do povo.

Confessou que sente-se honrada e grata a Deus e às pessoas que consideram a sua vida religiosa como influenciadora de boas práticas e acções positivas a outras mulheres.

"A nossa Igreja também mandava meninas para serem educadoras cristãs (uma profissão equiparada a uma professora cristã)”, disse, acrescentando que, "a Igreja, também, seleccionou-me e fui recomendada para ser formada pela Escola de Teologia como educadora cristã, no Seminário Emanuel Unido, na Missão do Dondi”.

 Explicou  que a formação para educadora cristã era de três anos, diferente da de Teologia, que exigia quatro anos e, seguidamente, o estágio.

Conta que, quando o grupo terminou os três anos, para receber diplomas, a direcção da escola "chamou-me para me dizer que ia terminar, mas, continuaria na turma dos rapazes, em virtude de ter havido um projecto-piloto de formar uma jovem mulher para ser consagrada ao Santo Ministério”.

Confessou que nunca pensou que naquela altura  uma mulher poderia ser, também, pastora. Acrescentou  que, no fim da formação, depois do estágio, aconteceu a consagração e pela primeira vez a Igreja consagrou uma mulher pastora.

"Fui a primeira pastora angolana e o ganho foi uma grande alegria para a família e para a própria igreja”, recorda, frisando que,  o sentimento é de muita felicidade e de gratidão eterna à Deus, já que, seguidamente, a igreja, enalteceu, foi consagrando mais mulheres, o que permite, hoje, conferir um número maior de pastoras, apesar de, ainda, estar abaixo do de homens. Já existem  40 pastoras da IECA.

 
Moldar as mulheres

No âmbito do Março Mulher, a reverenda Ilda Valério defendeu o redobrar de acções que visam moldar as mulheres, por causa das responsabilidades que têm com as famílias.

Disse que todas as pessoas jovens ou adultos, saíram de uma família e é responsabilidade das mulheres, se não do casal, cuidar dos filhos, porque só assim se prepara a sociedade.

"Se não investirmos nas crianças ou na juventude, estamos a preparar uma sociedade enferma”, disse a pastora, acrescentando que está muito  preocupada com o consumo desregrado de álcool.

"Vejo jovens, meninas e rapazes, a consumir álcool de uma maneira assustadora”, lamentou, afirmando que o álcool destróe  a saúde, área financeira, comunhão entre as pessoas e a dignidade humana.

Referiu que se as mulheres, também, estão a consumir muito álcool, o que constitui  um grande perigo para a sociedade. Por isso, defendeu, é preciso trabalhar muito para se inverter o quadro.

A igreja, reconheceu, tem trabalhado, falando, anunciando em palestras, encontros e nos estudos bíblicos para evitar que a sociedade se destrua, apesar da teimosia reinante.

Segundo ela, ainda assim, tendo em conta a existência de um Deus criador e dono de tudo, há esperança que um dia outras pessoas de direito sejam tocadas, para, também, arranjarem programas para evitar que as pessoas continuem a consumir muito álcool.

Ilda Valério lamentou,  também, a tendência crescente de casos de separação, defendendo o diálogo frequente na resolução dos problemas, para que o número de famílias desestruturadas pare de aumentar.

Para a pastora, nas igrejas, também, encontram-se famílias desestruturadas e é preciso orar muito, para que a sociedade não enverede por comportamentos que pouco dignificam o bom nome.

"Mesmo as famílias que se intitulam cristãs têm muitos problemas, porque não estão a acompanhar a sério as escrituras sagradas, que orientam como devemos cuidar as nossas famílias, orientar os nossos filhos e como comportar-se para que haja harmonia entre o casal”, disse a primeira pastora da Igreja Evangélica Congregacional em Angola.

Informou que, antes da entrevista ao Jornal de Angola, registou-se o caso de uma mulher, membro da igreja, que abandonou, em pleno mês de Março, o marido e os filhos, alegando que o dinheiro que lhe era entregue pelo parceiro não chegava para quase nada, mesmo depois de lhe ter sido esclarecido que o dinheiro não é mais do que uma família.

A reverenda reconheceu que o dinheiro é para ajudar a suprir algumas necessidades, porém, nunca deve superar o valor e a dignidade humana.

A violência doméstica na sociedade, considerou, é uma pandemia e o abuso sexual de menores é um mal que deve ser banido.

Para ela, a igreja deve participar na sensibilização e mobilizar as mulheres a denunciarem tais actos, de modo que os prevaricadores sejam responsabilizados.

Reconheceu que as igrejas têm feito muito, porém é imperioso redobrar tais acções para que os casos deixem de aumentar de forma preocupante.

"Consideramos estes males (violência doméstica e abuso sexual de menor) como maldição, porque não é possível um pai violar a filha”, reprovou, frisando que a pessoa perde a sua dignidade quando se pratica tal acto.

Defendeu a participação de todos para que casos do género deixem de ser praticados nas comunidades. Acrescentou que a igreja deve continuar a trabalhar e toda a sociedade deve estar envolvida no combate a este mal que considerou vergonhoso, para uma sociedade "como a nossa”. 


Período de responsabilidade 

Além de  trazer almas à salvação, disse, ao longo deste período longo como pastora, também, constituiu uma grande responsabilidade incutir a boa nova no seio das mulheres.

Explicou que a boa nova no seio das mulheres trouxe desenvolvimento, na medida em que a igreja não fala apenas da vida espiritual, mas, também, da vida social, para o desenvolvimento das comunidades, das mulheres e dos jovens.

Na Igreja da IECA, referiu, os primeiros missionários, reza a história, começaram a trabalhar com as mulheres e jovens, ensinando a Bíblia e outras técnicas da vida, para o desenvolvimento social do ser humano e, sobretudo, dos angolanos.

Para ela, foi positivo anunciarem Jesus aos angolanos, porque, de contrário, seria uma falta enorme.

Desde a consagração, frisou, aconteceram muitos milagres. Explicou  que quando foi consagrada já possuía um nível académico considerado aceitável, na altura, por concluir com sucesso o 5º ano do Liceu.

Naquela altura, lembrou, já era uma admiração, porque, para além de ser pastora, já tinha ficado, durante 9 anos, no Seminário Emanuel, na Missão do Dondi, Huambo, onde foi transferida, devido o contexto na altura e já formou, segundo ela, muitos pastores que estão a espalhar o evangelho, até nos dias de hoje.

Indicou que alguns alunos eram maiores de idade e outros nem por isso, mas, todos eles estão em serviço da igreja. Reiterou que foi professora do II e III níveis de ensino, durante vários anos na Escola 314, na cidade do Cuito, Bié, na província do Huambo e, actualmente, em Benguela.

Como pastora e professora,  disse, já formou vários pastores que actualmente pregam, igualmente, o evangelho, referindo-se, como exemplo, à secretária geral do CICA, reverenda Deolinda Dorcas, e ao reverendo Américo Cassikissa Lutero.

Disse que existem outros pastores noutras províncias por si formadas, sem esquecer um conjunto de entidades com quem partilhou a mesma turma na Missão do Dondi.

Sair do Bié, seguidamente do Huambo e depois de Benguela, referiu, foram experiências um pouco duras. Conta que saiu do Bié por motivos de transferência para o Huambo, em 1979, para dar aulas no seminário, preparando pastores.

Reconheceu que as mudanças foram uma experiência "dura”, porque do Cuito (Bié) ao Huambo, a distância, indicou, é pouca, porém, levava-se muito tempo, porque era obrigatório, de voo, escalar Luanda para depois aterrar na cidade do Huambo, onde viria a ser transferida, seguidamente para Benguela, onde está desde 1988.

A pastora Ilda Valério lembrou que a viagem do Huambo à Benguela, que durou três dias, foi feita em coluna e pela graça de Deus, atingiu-se o destino, mesmo depois de muitas vicissitudes, próprias daquele tempo. É dar graças a Deus que cuidou.  


A igreja que temos hoje

A igreja foi sempre ela e o que faz a diferença são as pessoas, disse, reprovando opiniões segundo as quais a igreja está mal. "Não.

"A igreja de Cristo nunca fica mal. Os que estão a errar são as pessoas”, disse, sublinhando que os crentes é que não estão a seguir os ensinamentos do Senhor Jesus.

Reafirmou que a igreja sempre foi a mesma. Segundo ela, o problema são as pessoas que não estão a considerar a seriedade do ensino de Jesus.

"Se todos considerassemos, teríamos uma outra forma de viver e de encarar a vida e as coisas. Os nossos filhos, quem sabe, nos aceitariam melhor do que agora”.

Exemplificou que há pais que estão na igreja e os filhos estão na rua.

Reafirmou que no seu lar aprendeu muito e recebeu muita ajuda no Ministério, pois, ele (esposo),  também, era pastor.  

A pastora Ilda Valério gradeceu a estima que recebe do Governo Provincial de Benguela. Disse que todos aqueles que partilham as bênçãos não lhes faltará nada.


Cuidar bem dos filhos é uma dádiva  

A pastora da IECA em Benguela defendeu ser importante que as mulheres dediquem tempo para cuidar dos filhos, como dádiva de Deus.

"Devemos cuidar bem dos nossos filhos, pois, quando assim acontece, estamos a preparar bem o futuro da nossa família, da igreja e do país”, adiantou, salientando que se todos os filhos praticarem o bem o país, também, vai ser abençoado.

As  mulheres,  acrescentou, também, devem trabalhar para recuperar a sua dignidade. "Tenho visto mulheres que enveredam no consumo de bebidas alcoólicas e na prostituição, o que não dignifica.

"Estou a suplicar às minhas irmãs que devem considerar a sua responsabilidade como mulheres e, também, preocupar-se com a sua formação académica e profissional”, aconselhou.

Disse que a paridade é muito debatida nos dias de hoje. Para ela, igualdade sim, porém, é preciso formação, de maneira que quando uma mulher é indicada para um cargo no Governo ou na igreja esteja preparada e tenha competência para o efeito.

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