O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, reconheceu, sábado, no município de Caungula, província da Lunda-Norte, que ao longo dos 22 anos de paz e reconciliação nacional, o país conseguiu alavancar muita coisa, mediante à criação de boas infra-estruturas, tendo apontado a ausência da construção da mentalidade humana como o “elo mais fraco“ nesta importante caminhada para a construção integral da vida dos angolanos.
O arcebispo católico sublinhou que o desenvolvimento deve ser fruto de uma justiça social equitativa, que promova, essencialmente, o bem-estar e o progresso, visando o cresimento com incentivo ao mérito
Álvaro Holden Roberto, filho de Garcia Diasiwa Roberto e de Joana Helena Nekaka, nasceu em Lula, Mbanza Kongo, no dia 12 de Março de 1923. Muito cedo emigrou com os pais para Leopoldville (actual Kinsâsa), provavelmente em Abril de 1925. Visto que Angola estava sob colonização que não oferecia condições sociais, os pais emigraram para Thysville (Mbanza Ngungu), ao longo do caminho-de-ferro Matadi-Leopoldville.
O pai foi funcionário da PetroCongo, mais tarde da Casa Inglesa Ollivant, para depois integrar a Casa Portuguesa Mampeza. A mãe era professora, considerada muito rigorosa no seio da família.
Depois de terminar o liceu, na escola missionária da Baptist Missionary Society (BMS), trabalhou no Ministério das Finanças na cidade de Stanleyville (hoje Kisangani) entre 1940 e 1949, altura em que regressa a Leopoldville a convite do seu tio Nekaka. Nesta cidade, passou a ser jogador do clube Motema Pembe e conheceu Cyrille Adoula (futuro político congolês).
Foi em Kisangani que Álvaro Holden Roberto se uniu a uma muçulmana de nome Fátima e desta união nasceu o seu primeiro filho de nome Jean-Pierre Roberto, em 1950. Este formou-se, com alta distinção, na Academia Militar de Foundouk Jedid, Tunísia. Faleceu em Paris, no mês de Janeiro de 2002, e Holden Roberto lamentou ter perdido aquele que os seus próximos olhavam como seu delfim político. «Jean-Pierre Roberto era um erudito, ‘open-mind’, virtuoso e era uma elite militar de facto», diz-nos o professor Mawete Makisosila, seu companheiro de luta. Ao regressar a Angola, Holden Roberto casa-se com Fernanda Teta Roberto e tiveram um filho, Masevani Roberto, o caçula.
Além de Jean-Pierre Roberto, o então fundador da UPA/FNLA chegou a ter mais filhos, nomeadamente: Catarina Roberto (psicóloga), Julieta Roberta, Carlito Roberto (jurista), Emmanuel Roberto, Holden Roberto Júnior e Milton Roberto.
Holden Roberto foi iniciado na vida política pelo seu tio Manuel Sidney Barros Nekaka. Entre 1949 e 1952, Barros Nekaka influenciou a Diáspora em Leopoldville, embora a adesão dos angolanos tenha sido tímida. Depois disso, ele vai a Matadi, onde se notou uma adesão qualitativa. No dia 10 de Outubro de 1954, foi fundada a União dos Povos do Norte de Angola (UPNA).
Holden Roberto aderiu e ofereceu a sua experiência na administração e, com influência de um agente da CIA, foi indicado como embaixador para publicitar a luta anticolonial nos países africanos, em nome da UPNA. Nessa altura, fervilhavam ideais independentistas no Congo Belga. Kwame Nkrumah tinha ganho as eleições legislativas em 1956, no Gana, e obrigou a independência do país, que se concretizou em 6 de Março de 1957. É assim que Holden Roberto participará na I Conferência dos Povos de África. Nkrumah sugeriu-lhe reformar a UPNA. Holden Roberto prestou-lhe atenção de maneira que, no dia 7 de Dezembro de 1958, o seu movimento passou a ser União dos Povos de Angola (UPA). Beneficiou de uma bolsa de estudo do Governo da Guiné Conacri.
Depois de se formar em Ciências Políticas, representou a UPA na arena diplomática internacional: ONU e não só. Foi nessa época que desempenha actividades políticas clandestinas sob os nomes de José Gilmore, Ruy Ventura e Osusana Milton.
Por razões de saúde de Barros Nekaka, surgem duas ideias. Uma defende que Holden Roberto deveria ser o sucessor do Rei Pedro VII. Acreditava-se que Nekaka – tido como sucessor – terá desistido e indicado o seu sobrinho. Por outro, as reformas que conduziram à UPA, a experiência na administração e a formação em Ciências Políticas privilegiavam «Ruy Ventura» a ser o novo líder da UPA, o que aconteceu em 1960, depois da morte do seu tio materno Barros Nekaka. Os actos de bravura do 4 de Fevereiro de 1961 têm as suas impressões, e a gesta do 15 de Março de 1961 contou com ele como líder que projectou a acção.
Em 27 de Março de 1962, Holden Roberto junta-se ao PDA, liderado por André Massaki e Emanuel Kunzika – para evitar conflitos entre os angolanos do Zaire e os do Uíge – beneficiando, assim, do apoio do Governo congolês, que culminou com a criação do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio). Embora inicialmente a iniciativa tenha sido aplaudida pela Organização de Unidade Africana (OUA), a diplomacia do MPLA fez perceber que o GRAE não era inclusivo. Apesar disso, a FNLA alargou a sua representatividade diplomática, tendo Jonas Savimbi como secretário-geral. Este irá desvincular-se e mais tarde criar o seu próprio partido político, em Março de 1966, a UNITA.
Em Janeiro de 1975, Holden Roberto negociou a independência de Angola em Alvor, Portugal, junto dos líderes do MPLA, Agostinho Neto, e da UNITA, Jonas Savimbi. Com desentendimentos desde Março de 1975, que resultaram em mortes e visto que ainda tinha o apoio da CIA, o que lhe permitiu comprar o jornal "Província de Angola” e a Televisão, Holden Roberto e a FNLA pontificaram-se para ser o Presidente do Governo de Angola no dia 11 de Novembro. Havia muitos seguidores e simpatizantes da FNLA em Luanda. Por falta de "follow-up”, Luanda foi ocupada, molo-molo, pelo MPLA. Entra aqui a figura do general Mawete João Baptista, que desempenhou, entre Maio e Junho de 1975, um papel operacional militar com resultados que favoreceram o MPLA: os militantes e militares da FNLA foram capturados nos bairros de Luanda e muitos deles fugiram da cidade. Será com o auxílio do Presidente zairense Joseph Mobutu que a FNLA tentará alcançar Luanda, tendo sido vencida na Batalha de Kifangondo, na véspera da proclamação da Independência de Angola.
Em 1976, Holden Roberto exila-se em França, mas mantém uma influência na República do Zaïre. Ao regressar a Angola em 1991, viu-se distanciado das negociações de Bicesse. Em 1992, ele liderou a FNLA nas eleições, mas encontrou o seu partido dividido e reduzido a quase nada, em termos de militantes e simpatizantes. Financeiramente, a FNLA tinha perdido a sua independência. Alguns militantes, devido às vicissitudes, criam outros partidos políticos urbanos e periféricos. Foi eleito como deputado no Parlamento de 1992.
Entre 2002 e 2005, a dinâmica política fez ecoar as vozes das novas lideranças na FNLA e as desavenças no processo de transição geracional mostraram a necessidade de reforma ideológica e estrutural. Holden Roberto foi condecorado com a Ordem de Independência pelo Presidente José Eduardo dos Santos, em 2005, pelo Despacho Presidencial n.º 19/05 de 10 de Novembro. No mesmo ano, já pensava reformar-se, organizar os arquivos para (talvez) publicar as suas memórias.
Faleceu em Luanda no dia 2 de Agosto de 2007 como deputado à Assembleia Nacional. O seu corpo está sepultado em Mbânza Kôngo, sua terra natal.
Patrício Batsikama
BIBLIOGRAFIA
BATSÎKAMA, Patrício (2022), Despoder em Angola, Lisboa: Viera da Silva
MARCUM, John, (1969), The Angolan revolution. The anatomy of explosion (1950-1962), Vol. I, Cambridge: Massachusetts Institute of Technology.
NGANGA, João Paulo, (2008), O Pai do nacionalismo angolano – as memórias de Holden Roberto, Vol. I, São Paulo: Parma.
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