Os sucessos de Sam Mangwana prenderam, sexta-feira, no bairro Miramar, em Luanda, a plateia no encerramento da Temporada 2023 do projecto “Show Intimista da Brasom”.
O espectáculo, que celebrou a rumba africana, teve um dos momentos mais significativos no decorrer do terceiro bloco quando o apresentador Zeco Castelo Branco convidou Bornito de Sousa, antigo Vice-Presidente da República, para entregar o diploma de participação a Sam Mangwanda.
Este músico agradeceu o gesto e a presença do Procurador-Geral da República, Hélder Fernando Pitta Grós, o antecessor, o magistrado jubilado João Maria de Sousa, os membros do corpo diplomático e amigos.
Sem citar nomes, realçou que foi importante ver na assistência cidadãos com responsabilidades no Estado e na sociedade que tiraram parte do seu tempo para prestigiarem o concerto.
Em declarações ao Jornal de Angola, anunciou que pretende entrar em estúdio para produzir músicas novas mantendo a essência de Mangwana. "Acontecem muitas coisas, o artista tem a responsabilidade de fazer chegar isso às pessoas. Vejamos o caso das religiões, a cada dia surgem novos profetas, o nome Deus é falado sem contenção, bem como a fuga da paternidade”.
A organização fez um balanço positivo desta temporada na voz de Ilídio Brás, argumentando que o artista foi escolhido pela importância e contributo à música africana, "assim como o seu patriótico”.
Adiantou que este ano foram realizados os seguintes concertos
Em Julho, com Eduardo Paím e convidados: Sabino Henda, Robertinho e Djanira Mercedes, em "Recordar Criações de General Kambuengo, e o segundo aconteceu em Março, no "Especial Março Mulher” com Clara Monteiro, Érika Nelumba, Nicinha Rocha, Lila Burity, Raquel Lisboa e Djanira Mercedes.
"Pátria Querida” abre o concerto
A música instrumental abriu o concerto com Teddy Nsingui a solar numa combinação rítmica da guitarra angolana e congolesa, porém, foi ao som da patriótica e declaração de amor, "Pátria Querida”, que Sam Mangwana cantou o primeiro tema.
Este serviu de ponte para recordar o que aconteceu ao chegar aos Camarões depois da primeira digressão, em 1980, e a criação de "Bana na ba Cameroun”, homenagem a uma das terras onde viveu.
Com o rumba do rapaz que apenas queria amar foi a génese da rumba congolesa para interpretar "Felicité”, também conhecida por "Parafifi”, um clássico de Tabu Ley Roucheraux, seu mentor. Neste tema, encontramos o teclista Genial, a justificar o nome com desenhos harmoniosos.
O mesmo veio a acontecer aquando da execução da mistura de romance e patriotismo, "Galo Negro”, uma história de amor contada à linda morena pelo combatente das matas.
Ao longo do concerto Mangwana reviveu "Cantos de Esperança” e falou da importância da aposta na agricultura, que traz em "Lubamba”, com Teddy Nsingui inspirado, passeou pela "Fatimata”, tema muito apreciado pelos convivas.
Outro momento mágico aconteceu ao som de "Georgette”, uma das músicas mais emblemáticas da carreira do cantor Mias Galhetas, no baixo, entre as várias execuções dos clássicos que Sam Mangwana gravou com Yo Kassa ya Bongo, em "Suzana Coulibaly”, justificou ser um dos maiores baixistas da nossa praça. A música foi gravada na Nigéria, e que no início dos anos 80 conquistou toda a África e segundo o autor foi inspirada na estrela nigeriana, Prince Nico Burga autor do sucesso "Sweet Mother”.
Outra música das viagens e aventuras de Sam Mangwana que não ficou de fora foi "Amor A Guatemala” onde o artista agradeceu todo o carinho que recebeu da amiga Elma, cidadã deste país, que apoiou numa digressão nos Estado Unidos da América, na companhia de Ricardo Lenvo.
Em "Amor a Guatemala”, Elma foi cantada com sentimento que justifica toda a inspiração que resultou neste "Rumba Ya Mangwana”, como canta o "Pombo Viajante”.
Histórias das parcerias com outros artistas também foram partilhadas, em "Azda” com Teddy Nsingui. Um original de Francó que respondeu a uma campanha publicitária de uma concessionária de automóveis no antigo Zaíre.
O fecho aconteceu com a dançante "Tio António”, a festa do regresso do antigo contratado em São Tomé e Principe, que parou com a aldeia natal no Uíge. Teddy Nsingui teve tempo de mostrar o lado de cantor ao reviver Francé em "Badengo”.
Sam Mangwna teve como coristas Lino, Milla e Augusto Cambila para evidenciar as vozes que marcam a rumba.
O Conjunto Dizu Dietu acompanhou Mister Kim, que fez um "medley” com músicas de Carlos Burity e fechou com Mito Gaspar. Com direcção artistica do guitarrista Teddy Nsingui, estiveram em palco Raúl Tollingas (dikanza), Mias Galhetas (baixo), Bucho (percussão), Nejó (ritmo), Guilor (bateria) e Genial (teclados).
Sam Mangwana: "O Pombo Viajante”
Samuel Mangwana, mais conhecido por Sam Mangwana, nasceu a 21 de Fevereiro de 1945, na então Leopoldville, actual Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. Os pais são oriundos de Mucaba, província do Uíge.
Fez a estreia profissional em 1963, com a banda de rumba African Fiesta, do Congo-Kinshasa, liderada por Tabu Ley Rochereau. Mais tarde, atravessou o rio Congo para Brazzaville onde formou um grupo de curta duração denominado "Los Batchichas”. Trabalhou com agrupamento Negro Band e a Orchestre Tembo. Mais tarde, regressa a Kinshasa onde juntou-se a Tabu Ley, cuja banda era conhecida como African Fiesta National.
Em 1967, Sam Mangwana saiu novamente para formar o Festival des Maquisards. A banda incluía artistas notáveis como os vocalistas Dalienst e Madilu System, o guitarrista Dizzy Mandjeku e o guitarrista solo Michelino. Dois anos depois, Sam Mangwana gravou com o guitarrista Jean Paul "Guvano” Vangu, até 1972.
Em 1972, ingressou no TP OK Jazz , liderado por Franco. Mangwana actuava, frequentemente, como vocalista principal nas composições do guitarrista Simaro Lutumba. A popularidade aumentou durante este tempo, e a aproximação a Simaro rende-lhe três sucessos: "Ebale ya Zaire”, "Cedou” e "Mabele”.
Sam Magwana deixou o OK Jazz e juntou-se à banda de Tabu Ley, Africa. Em seguida, partiu novamente, desta vez mudando-se para Abidjan, na Costa do Marfim, na África Ocidental. Em 1978, formou a banda African All Stars.
Em 1979, a banda African All Stars desintegrou-se, foi o momento em que Sam Magwana se tornou um artista a solo tendo gravado nesta época, com apoio de várias combinações de músicos, os temas "Maria Tebbo” (1980), com remanescentes dos All Stars, "Coopération” (1982) com Franco, "Canta Moçambique” (1983) com Mandjeku, e os discos com o saxofonista Empompo Loway com os nomes "Tiers Monde Coopération” e "Tiers Monde Revolution” foram destaques da sua carreira na década de 80.
Devido às frequentes idas e vindas, ganhou o apelido de "pombo voyageur” (pombo viajante). A partir de 2000, Mangwana já passava a maior parte do tempo no país, saindo periodicamente para realizar concertos na Europa.
Da sua vasta discografia, o destaque vai para "Maria Tebo” (1980), entre os demais álbuns que cimentaram a carreira internacional nas décadas de 80 e 90. Depois de conquistar a África e o mundo como expoente da música congolesa, relançou a carreira no mercado angolano. Os temas "Galo Negro”, de 1996, é o marco dessa fase, enquanto "Querida Pátria”, de 2005, foi lançado depois do regresso ao país, onde vive grande parte do tempo.
Em finais de 2019, optou por outra viagem, para divulgar o álbum "Lubamba", lançado em 2017, último trabalho de estúdio.
Depois de algumas aberturas na época da pandemia, Mangwana promoveu, em França, o álbum "Lubamba”. Em Fevereiro de 2021, esteve no Festival "Au Fil des Voix”, acompanhado por quatro músicos: Jean-Emile Biayenda, Colin Laroche de Feline, Valérie Belinga e Isabel Gonzalez. Depois de concertos intimistas e entrevistas na imprensa francesa e africana, que marcaram o regresso do artista, esteve no Festival Rio Loco, em Toulouse, 360 Paris Music Factory, Festival Les Nuits Du Sud Vence, Concert em New Morning, Festival Moz’aique (Le Havre), Festival Fiest’A, e no Festival Jazz sous les Prommiers (Coutanças).
Este ano foi homenageado pelo Conselho de Administração da Rádio Nacional de Angola na Gala do Top dos Mais Queridos realizada no dia 6 de Outubro na Tenda do Centro de Convenções de Belas.
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