Cultura

Hermenegildo Muondo destaca papel da música na valorização das línguas

Katiana Silva

Jornalista

O músico Hermenegildo José Muondo “Yetu”, um dos dez finalistas da 26ª edição do Festival da Canção de Luanda, cuja gala está agendada para o dia 22 do corrente mês, defendeu que tenciona conquistar o troféu com a música “Kudimuka”, palavra em kimbundu que na língua portuguesa significa “Esperteza”.

12/09/2023  Última atualização 09H00
Músico Yetu aposta na valorização das línguas nacionais nas suas composições © Fotografia por: Luis Damião | Edições Novembro

Em entrevista ao Jornal de Angola, o músico explicou que a canção foi inspirada na música "Birin Birin”, de Rui Mingas, detalhando que no seu caso a canção "Kudimuka”, cuja letra e a composição são suas tendo contado com a produção de Azevedo Clássico, reflecte problemas sociais, religiosos, amorosos e fraternais, dependendo do contexto de quem a vai interpretar.

Yetu justifica a aposta nas línguas nacionais por acreditar que a arte pode jogar um papel importante na transmissão de valores culturais, sobretudo na valorização das línguas nacionais.

"Desde os tempos mais remotos, a arte sempre foi tida como um dos elementos basilares para transmissão de valores culturais. No caso da língua é muito importante, porque existem alguns provérbios que têm mais impacto cantados nas línguas nativas do que traduzi-los para uma outra língua. No caso da música ‘Kudimuka’, toda a música é feita e interpretada em kimbundu e ela traz uma natureza descritiva sobre o filosofar dos provérbios dos Ambundos”, defendeu.

Sobre as referências, estilos e tendências de que tem preferência no mercado musical angolano, o candidato aponta semba, bolero, rebita e kizomba, manifestando o foco nas tendências da geração actual que cultiva a música nacional e a funde com outros estilos mundialmente consumidos, como tem acontecido com o jazz.

"Tenho como referências nacionais os músicos Rui Mingas, Elias dya Kimuezo, Paulo Flores, Bonga Kwenda, Yuri da Cunha e Dog Murras. Internacionalmente, tenho como expoentes os músicos africanos modernistas como o congolês Fally Ipupa, o moçambicano Mr. Bow e o nigeriano Mr. Flavour”, partilhou.

Hermenegildo Muondo sustenta que estes artistas são importantes por ver neles uma clara defesa da africanidade nas suas músicas, cantadas em prol das suas origens e evocando a riqueza das línguas e tradições culturais do continente africano.

Natural de Malanje

Hermenegildo José Gonga Muondo, natural de Malanje, município de Kalandula, é músico, compositor e interprete. Alia o canto à docência, na qualidade de professor, mestre em Ciências da Educação, no ramo de Ensino da História.

Começou a sua carreira artística em 2000, fazendo estilo o kuduro. Da sua carreira destaca-se a participação nos concursos pré-escolares, nas campanhas de sensibilização de luta contra o VIH-SIDA, realizadas pela UNICEF, nos anos de 2007 e 2008, na província do Uíge, onde foi classificado em segundo lugar na edição Província1 com a Música intitulada "SIDA”. 

Ainda na província do Uíge participou numa das primeiras edições do concurso do Top dos Mais Queridos, ficando em segundo lugar. Participou igualmente na quarta edição do concurso de Luanda Gentes e Música, realizado no município de Viana, em Luanda, onde foi classificado em terceiro lugar.

A 26ª edição do Festival da Canção de Luanda tem como tema "Ambiente em sintonia” e é promovida pela emissora Luanda Antena Comercial. O Festival da Canção de Luanda surgiu seis anos após a criação da primeira rádio privada do país, a Luanda Antena Comercial (LAC), a 25 de Setembro de 1992, na fase da abertura democrática em Angola. Maria Luísa Fançony, Mateus Gonçalves e José Rodrigues - o trio que encabeça a LAC - como resultado das experiências adquiridas na Rádio Nacional de Angola (RNA) em concursos e eventos musicais, lançaram em 1998 a festa setembrina da música.

O guitarrista e compositor Carlos Praia foi o vencedor da edição 2022 com a composição "Caçula”, uma letra do poeta e jornalista Carlos Ferreira "Cassé”, defendida pela jovem Zinga Sona, que também levou para casa o prémio relativo à "Melhor Voz”.  Nesta edição, foram ainda premiadas "Nós e a Rua” de Rosa Aires, em parceria com Scoth Cambolo, que ficou com os prémios "Melhor Letra” e "Unitel-LAC”. Naurica foi a "Melhor Intérprete”.

A caminhada para a final

O músico Yetu contou como foi o processo da caminhada que lhe conduziu à final do Festival da Canção de Luanda, detalhando que para chegar à final deste grandioso e renomado concurso, teve de seguir todo o instrutivo linear que regula o festival, desde a produção musical, género, tempo, sem esquecer os detalhes, uma vez que tem clara noção de que não pode faltar o toque de um instrumento nacional.

"De acordo com o quarto artigo das normas que regulam o concurso, foi muito difícil para mim mandar dactilografar a letra da musica e a autobiografia, mas tive de o fazer visto que é uma regra muito importante a ter em conta. Feito isso, candidatei-me via online, depois mandei os documentos no físico, uma vez que me encontrava na província do Uíge. Depois de algumas semanas, para minha felicidade fui contactado via telefónica que tinha sido apurado para o festival da Canção de Luanda”, recordou.

Para o músico, estar na final do Festival da Canção de Luanda, uma vez que é o único festival que o país tem que dá mérito aos compositores, intérpretes e produtores, representa o florescer e o princípio do brotar da sua carreira artística, visto que sempre almejou participar no concurso e dar o seu melhor.

Na actuação no próximo dia 22, Yetu promete dar o melhor de si e fazer com que os seus admiradores se orgulhem do seu desempenho.

"Para mim, a música significa uma das melhores formas de exprimir o que vivemos e o que nos rodeia. Sonho construir uma carreira sólida, visto que cheguei até este nível e já não tenho como dizer o contrário”, exprimiu.

Dentre os grandes sonhos, o artista ambiciona demarcar as décadas dos anos 2000 como um dos melhores artistas do mercado nacional, seguindo o exemplo de como foram os grandes vultos da música angolana dos anos 1960 a 1970, considerado o período de ouro.

 

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