Opinião

Heritage Foundation e a “restauração” da América

Faustino Henrique

Jornalista

Tido como um dos principais “think tanks” conservadores, que por norma e histórico entra em cena em situações de disputa político-eleitoral, em momentos decisivos, nos Estados Unidos quando os republicanos, ciosos da “agenda de regeneração do país”, recorrem ou fazem uso das recomendações da instituição.

07/08/2024  Última atualização 08H52

No início da década de 80 do século passado, Heritage Foundation, organização que tem por missão "formular e promover políticas públicas conservadoras de livre mercado, Governo limitado, liberdade individual, valores tradicionais e uma forte ênfase na defesa nacional” foi instrumental na delineação da Política  Externa do Presidente republicano Ronald Reagan.

Em Janeiro de 1981, o "Mandato de Liderança: Gestão de Políticas numa administração conservadora” foi lançado como uma publicação de 20 volumes em 3.000 páginas, que formulou, entre outros, um conjunto de políticas que, segundo alguns historiadores, levaram à reviravolta que "reposicionaram” os Estados Unidos no mundo ao ponto de sair vitoriosa da Guerra-Fria.

Diz-se que por força da referida iniciativa, em matéria de Política Externa, a Administração Reagan reforçou a agenda de luta anti-comunista em todo o mundo ao ponto de "ressuscitar” os movimentos  anti-governamentais e subversivos em  todos os países de orientação comunista e marxista, tal como Cambodja, Laos, Etiópia, Nicarágua, Líbia, Cuba, Moçambique, apenas para mencionar alguns.

Angola não tinha ficado de fora, na medida em que foi graças às recomendações  da Heritage Foundation, que se transformaram em política de Estado da Administração Reagan, que levaram ao financiamento da rebelião armada, encabeçada pela UNITA de Jonas Savimbi, daí o facto deste se ter deslocado a Washington, em Outubro de 1989, para "agradecer”, na sede da fundação, o papel instrumental que teve na Política Externa do Presidente Ronald Reagan.

Mais de quarenta anos depois, a Heritage Foundation volta à cena e desta vez com um volumoso documento de mais de mais de 800 páginas, de 2023, editado por Paul Dans e Steven Groves, sob o título "Mandato para Liderança 2025: a Promessa Conservadora”, na perspectiva de regresso à Casa Branca do 47º Presidente dos  Estados Unidos e que, tal como em Janeiro de 1981, se espera que grande parte das recomendações seja transformada em políticas pela administração republicana, com Trump.

Redigido por uma dezenas de contribuintes, o documento está assente em quatro pilares, nomeadamente o primeiro, em que, no plano doméstico, se defende "uma visão de consenso de como as principais agências federais devem ser administradas e onde existir divergências o próximo Presidente escolher um caminho”.

O segundo deverá servir como um banco de dados que permitirá que os candidatos construam os seus próprios perfis profissionais e os membros do projecto revisar e expressar as suas recomendações, agrupadas e compartilhadas com a equipa do Presidente eleito, simplificando bastante o processo de nomeação.

 "Montar uma Academia de Administração Presidencial, um sistema on -line para junto do recém –eleito Presidente elucidar como o Governo funciona e como funcionar no governo, com seminários pessoais e treinamento avançado para se definir o que é esperado da liderança sénior”, parte do terceiro pilar e finalmente o  quarto envolve a formação da equipa de transição para todas as agências federais.

No fundo, o "Mandato para liderança 2025: a Promessa Conservadora” é um esforço colectivo de centenas de voluntários que se uniram no espírito de avançar mudanças positivas para a América com uma administração republicana, caso Donald Trump venha a ser eleito em Novembro.

Na América, as linhas divisórias entre os liberais, encarnados pelos democratas, sectores da esquerda e extrema-esquerda, e os conservadores, representados pelos republicanos, entes da direita e extrema-direita, tendo como  substrato a velha ideia que os primeiros são alegadamente os responsáveis pelo declínio a todos os níveis do país e, os últimos, espécies de guardiões dos velhos valores da América.

Apenas para se ter uma ideia de como os conservadores encaram a sociedade americana, actualmente, o documento diz que "hoje, a família americana está em crise. Quarenta por cento de todas as crianças nascem de mães solteiras, incluindo mais de 70 % das crianças negras. Não existe um programa governamental que possa substituir o buraco na alma de uma criança cortada pela ausência de um pai”.

A Heritage Foundation voltou em cena com este projecto que, como refere  no documento, expressam recomendações de consenso já forjadas, especialmente em quatro frentes amplas que decidirão o futuro da América, nomeadamente:

 

1. Restaurar a família como a peça central da vida americana e que proteja os filhos.

2.  Desmontar o Estado administrativo e devolver a autogovernação ao povo americano.

3.  Defender a soberania, fronteira e a recompensa da nação contra as ameaças globais.

4. Proteger os direitos individuais dados por Deus para viver livremente no que a Constituição chama de "bênçãos da liberdade”. 

 

Em resumo, o "Mandato para Liderança 2025: a Promessa Conservadora” defende que o  próximo Presidente – republicano, claro - tenha uma responsabilidade moral de liderar a nação na restauração da América, novamente.

 

             *Jornalista

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