Coronavírus

GUINÉ-BISSAU: “Longa caminhada” para quem andar sem máscara

A polícia da Guiné-Bissau está a recolher pessoas apanhadas na rua sem máscara, no âmbito do combate à Covid-19, para longe da sua zona de residência, para depois terem de voltar a pé, disseram à Lusa várias fontes.

06/03/2021  Última atualização 14H49
Polícia da Guiné-Bissau está a recolher pessoas apanhadas na rua sem máscara © Fotografia por: DR
Nos últimos dias, com o aumento de casos de infecção pela Covid-19, a polícia intensificou o controlo da exigência do uso de máscara e quem for apanhado é ‘convidado’ a subir para a viatura, para ser transportado para fora da sua zona de residência.
É normal uma pessoa ser apanhada num bairro de Bissau e ser levada até perto de Quinhamel, Prabis ou Safim, localidades a mais de 20 quilómetros da capital, para de lá regressar a pé, contou à Lusa Nico Yé, um jovem do bairro de Calequir, que há três dias "quase” foi levado até Quinhamel.

Nico escapou do castigo que seria ter de andar a pé uma distância de cerca de 40 quilómetros, porque tinha dinheiro para apanhar ‘toca-toca' (transporte inter-bairros), para regressar do Bairro Militar para Calequir.
O argumento da polícia é que quem não tem máscara não pode estar na via pública, disse à Lusa fonte do Ministério do Interior, sublinhando não existir ordem expressa nesse sentido, mas que seria uma "táctica para sensibilizar” as pessoas para o uso da peça protectora.

O Presidente guineense promulgou, em 24 de Fevereiro, o decreto de estado de calamidade no país por mais um mês, devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus e que obriga à utilização de máscara na rua.
O ritual da polícia começa pela abordagem à pessoa encontrada na via pública sem máscara, que convida a usar em caso de a ter guardada no bolso, na mala, na mochila ou no carro. Se a pessoa disser que não a tem, é convidada a comprar no posto de venda mais perto ou num vendedor ambulante.

Se a pessoa não tiver dinheiro (100 francos CFA [0,15 euros] por cada máscara) é logo obrigada pela polícia a subir para a carrinha de caixa aberta, para ser transportada para um lugar distante.
Logo que a pandemia foi declarada na Guiné-Bissau, em Março de 2020, a polícia foi acusada por vários sectores da sociedade de maus-tratos aos cidadãos aos quais infligiu açoites, obrigação de flexões na via pública ou pagamento de coimas por falta de uso de máscaras.

Mesmo com a táctica da polícia de transportar pessoas para zonas distantes da área de residência, guineenses continuam a considerar que a Covid-19 não é motivo para preocupação. "Só apanha quem toma sopa”, "quem vem da terra dos brancos” ou mesmo "quem nunca teve paludismo na vida”, referem cidadãos. O paludismo, ou a malária, é uma doença endémica na Guiné-Bissau.

O Alto-Comissariado para a Covid-19 na Guiné-Bissau tem multiplicado os apelos para a obrigatoriedade do uso de máscara e para o cumprimento das restantes medidas de protecção, incluindo o respeito pelo distanciamento e a lavagem constante das mãos.
Desde que foram detectados os primeiros casos de Covid-19 no país, em 25 de Março de 2020, a Guiné-Bissau registou um total acumulado de 3.282 casos e 48 vítimas mortais.

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