Cultura

Grace Évora elogia trabalho de jovens instrumentistas

Analtino Santos

Jornalista

Grace Évora levou as principais músicas da carreira no Show do Mês, sexta-feira, onde o artista ficou rendido pelos jovens instrumentistas angolanos que o acompaharam no Royal Plaza.

27/11/2023  Última atualização 09H32
© Fotografia por: DR

A Nova Energia, promotora do evento, prestou homenagem aos artistas Rei da Costa e Sara Tavares enquanto Cristo foi o convidado do show.

Ao longo das duas horas e meia de música ao vivo, Grace Évora não escondeu a satisfação de ser acompanhado por jovens angolanos na secção de sopros e de cordas, algo que no seu país não acontece. O também produtor musical enalteceu o esforço que tem sido feito na formação musical e reconheceu os resultados durante a actuação.

O Show do Mês tem lançado muitos jovens, principalmente nos sopros, com o quarteto Efraim (trombone), Tchinguma e Magno (trompete) e Rigoberto (saxofone) e nas cordas Willquer (guitarra d’arco), Raimundo (violino) e Gabriel Tita (violoncelo).

Outro artista que esteve em destaque foi o guitarrista e solista Dimitri Padre na banda dirigida pelo teclista Benny Macanzo, que teve Mampuya também nas teclas. Sem as presenças regulares, estiveram em palco Tonico Padre (ritmo), Francisco (baixo), Jack Nsaka (bateria), Bernas (percurssão), Omar (percussão ligeira), e nos coros Raquel Lisboa e Alexandra Bento.

A homenagem à criatividade artistica de Rei da Costa, uma das principais referências da cultura do leste, e responsável da revolução da chianda, foi reconhecida na voz de Branca Celeste, natural da Lunda-Sul. A esolha recaiu "Namuleleno” original do grupo Os Moyowenos, por ser  considerado o cartão-postal da chianda, estilo que a sua implementação está ligado a Rei da Costa e o grupo Sasha Cokwe.

Depois da cantar e dançar com os bailarinos trajados de muquixe, Branca reconheceu a influência do artista e das várias formações do Sasha Cokwe, no incentivo de outros artistas na aposta e inovação dos ritmos do antigo reino Lunda Cokwe.

A segunda homenagem, aos artistas falecidos no passado domingo, Raquel Lisboa e Alexandra Bento foram chamadas para interpretar Sara Tavares. As duas cantoras interpretaram "Balancê” e "One Love”, temas que a semelhança do trabalho do anterior homenageado influenciou e incentivou uma geração de artistas.

O impacto da música de Sara Tavares em Portugal foi determinante para o surgimento e afirmação de músicos com origens africanas e dos Países Africanos de Lingua Oficial Portuguesa, (PALOP) com tendências ritmicas da chamada "word music”, com as fusões entre  sons africanos e de outras regiões.

 
Celebrar dois povos

Grace Évora voltou a participar no Show do Mês depois da passagem em 2019 com dois concertos. A abertura foi ao som de "Kate tem Razão” assim como "Isolada” temas que confirmaram as declarações de Salú Gonçalves: "Luanda foi culpado pelos sucessos dos artistas dos PALOP”.

Como radialista, recordou que as novidades musicais eram trazidas pelos pilotos e pessoas que viajavam e desta forma chegou o disco de Livity, banda de Grace Évora.

Do tempo dos Splash levou "Compreensão” um original do histórico grupo cabo-verdiano "Bulimundo”. Na fase inicial o artista explorou os temas "Aportunidad”, "Imovél”, e apresentou  como remédio para corações apaixonados as músicas "Ramed Di Amor”, "Nos Romance” e saiu desta linha para a motivacional "Tristeza dis Mundo” em que apela as pessoas a ter fé, respeitar as diferenças, ter paciência e com Dimitri a solar o que foi criado por Johnny Fonseca.

A saudade de Cabo Verde está presente na obra de Grace Évora e no alinhamento do Show do Mês encontramos em "Kada Dia” dedicada a Mindelo, a morabeza (ambiente alegres), "Nha terra ka tem chuva” onde fala da ausência deste fenómeno natural que tem levado à emigração. Em "El sabim” é outro tema onde é exaltada em canto o sentimento cabo-verdiano, do mesmo "Distino” que aborda a mágoa profunda de estar afastado das coisas belas da ilha e da "cretcheu” (amor). Benny nos teclados preencheu com solos improvisados a pedido de Grace Évora. 

Em "Novo Amor” provocou uma interação entre Dimitri, na guitarra, e Rigoberto, no saxofone, numa levada mais electroacústica. O artista teve dois duetos, o primeiro com Raquel Lisboa, em "É bô” música que na versão original tem Dina Medina como parceira. Da parceria com o projecto Mobass em "Nha Paixão”, com Alexandra Bento.

Foram vários sucessos de Grace Évora dos discos a solo, com as bandas Livity e Splash e de outros projectos.

O artista optou pelas músicas que o notabilizaram na fase inicial no declinar do concerto. "Bia” abriu a triologia com um andamento de reggae no intro. O romantismo voltou em "Coração Blues”, onde a baiana é evocada e encerrou a viagem com "Lolita”, um dos temas mais apreciados e cantados em uníssono pela assistência.  Foi um encontro marcado pelas afinidades entre os dois povos, que tem a kizomba no cruzamento.

Cristo levou "Meu Bairro” e "Astro da Minha Vida” neste regresso ao Show do Mês, onde já esteve com Maya Cool autor de um dos duetos que marca a presença de Grace Évora com artistas angolanos.

Este foi o quarto concerto da décima temporada do Show do Mês, que este ano teve como proposta inicial As Gingas do Maculusso.

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