Cultura

Governo do Zaire projecta construção de casas da cultura

Jaquelino Figueiredo | Mbanza Kongo

Jornalista

A direcção da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos do Zaire projecta construir, ainda este ano, casas de cultura a nível dos seis municípios da província, visando resgatar e valorizar os usos e costumes da região.

10/01/2023  Última atualização 08H05
Cemitério dos antigos Reis do Kongo acolhe habitualmente realizações de cerimónias de pedido de bênção aos ancestrais locais © Fotografia por: Garcia Mayatoko | Edições Novembro

A informação foi prestada, segunda-feira, ao Jornal de Angola, em Mbanza Kongo, pela directora do Gabinete Provincial da Cultura no Zaire, Nzuzi Makiese Wete Kady, no âmbito do Dia da Cultura Nacional, que avançou que o projecto consta do Orçamento Geral do Estado de 2023, daí acreditar na sua materialização.

"A província do Zaire não dispõe de casas da cultura, mas acreditamos que este ano teremos em cada município uma infra-estrutura, desde que não mexam o orçamento. Submetemos uma proposta de um projecto ao Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística (GEPE), para a construção de casas da cultura a nível dos seis municípios”, avançou.

A par da construção das casas da cultura em todos os municípios, referiu que a nível da cidade de Mbanza Kongo está em reabilitação o Cine Clube local, cujas obras decorrem a bom ritmo, e cujo processo de resgate e valorização permitirá dar  outro impulso ao mercado.

"Apesar de haver muitos fazedores da cultura, numa primeira fase, com o Cine Clube reabilitado, acreditamos que vai resolver, em certa medida, a problemática que o sector da cultura enfrenta, sobretudo na exibição de espectáculos de teatro, filmes e outros manifestações”, acrescentou.

Quanto à música tradicional da província, Nzuzi Makiese Wete Kady lamenta o facto de a província do Zaire não estar bem representada, visto que depois da morte do músico Madiata a região ficou órfã neste domínio, apesar de haver outros que são capazes de resgatar aquele elemento cultural.

"Depois da morte do mais velho Madiata, a província ficou sem a música tradicional que muita falta nos faz e deixou muitas saudades. Entretanto, temos alguns mais velhos que trabalhavam com o falecido e estão a tentar resgatar esse estilo da música tradicional, esperando que o testemunho seja passado aos mais novos para a sua perpetuação”, frisou.

Nzuzi Makiese Wete Kady reconhece ser um processo a passagem de testemunho do estilo musical tradicional aos jovens, razão pela qual  garante que o gabinete que dirige tudo fará para resgatar a música, cuja importância considera bastante relevante.

"A passagem de testemunho é um processo, mas o Gabinete Provincial da Cultura no Zaire está a trabalhar para encontrar outros mais velhos para passar o testemunho aos jovens. Infelizmente, depois da morte do mais velho Madiata é que sentimos a falta desse estilo musical.O gabinete não vai parar, tudo fará para resgatar este estilo, por ter muita importância na história de Mbanza Kongo, principalmente, enquanto Património Mundial da Humanidade”, garantiu.

A descoberta de outros mais velhos que podem passar o testemunho, garantiu, vai ser extensiva aos demais municípios, porque, também, existiram ou há quem, de facto, ainda cante música tradicional da província.

"O projecto vai ser extensivo aos demais municípios da província, porque, também, tiveram e há, ainda, aqueles mais velhos que fazem a música tradicional, pelo que vamos acompanhá-los para que não morram sem deixar o testemunho, cujo estilo conta a história real da vida dos nossos povos”, assegurou Nzuzi Makiese Wete Kady.

 

Preservação da língua kikongo

A directora do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos do Zaire, disse que a preservação do manancial cultural da província passa, também, pela perpetuação da língua local, o kikongo, e suas vertentes, que deve ser ensinada à nova geração.

"Nós somos uma província rica em cultura e turismo. Devemos continuar a conservar, a proteger e a valorizar aquilo que é o nosso manancial, tal como a nossa língua kikongo, pelo que apelamos à juventude a conhecê-la e a falar convenientemente, bem como a nossa maneira de vestir, dançar, a nossa gastronomia e a respeitar os monumentos e sítios históricos, nomeadamente da Yala Nkuwo, Kulumbimbi e outros”, apelou.

Quanto à língua, frisou, vai trabalhar com as famílias, no sentido de continuarem a ensinar os mais novos a falarem o kikongo, porque joga um papel muito importante para a preservação da nossa história e da própria língua em si.

"Os mais velhos devem incutir aos mais novos a importância de falar a nossa língua e a preservarem os nossos usos e costumes, cuja história da província tem sido seguida por muitos cidadãos nacionais e do mundo, pelo que, devemos continuar a proteger e a valorizar a nossa tradição. Os nossos monumentos e sítios históricos, nomeadamente o Kulumbimbi, a Yala Nkuwo, da Mamã Mpolo e outros, devemos, também, continuar a preservá-los e valorizá-los”, aconselhou.

 

Rentabilização dos monumentos históricos

Os monumentos e sítios históricos da província do Zaire precisam de ser rentabilizados, tendo em conta a sua importância cultural no conjunto nacional, cuja concretização eleva o interesse dos turistas e investigadores, mas o processo está condicionado à aprovação de um estatuto próprio.

"Quanto à rentabilização, é um projecto que estamos à espera do reconhecimento do estatuto orgânico do Museu dos Reis do Kongo, também existe outro projecto para a construção de um novo museu que vai aglutinar o património do antigo Reino do Kongo, portanto, acreditamos que depois da aprovação do estatuto, avançaremos para a rentabilização do património cultural da província”, acrescentou.

A rentabilização, como frisou, deve ser acompanhada também de outros projectos que permitam ao turista, investigador ou ao visitante comum, a desfrutar de outras nuances que a província dispõe, com destaque para a gastronomia, danças e outros elementos que fazem parte da cultural local.

"Nós temos um projecto   que foi trabalhado durante o ano 2022 e acredito que vai ser concluído no presente ano. Portanto, aqueles turistas que visitam a província, em particular Mbanza Kongo e que precisam conhecer a história local, futuramente, vão encontrar algo diferente, desde a gastronomia local que hão de encontrar nas barracas e restaurantes”, avançou.

Segundo Nzuzi Makiese Wete Kady, os recursos a arrecadar com as futuras cobranças vão, igualmente, servir para alguns projectos de manutenção dos próprios monumentos e sítios da província, que, actualmente, muitos apresentam já sinais de degradação profunda.

"Nós não temos como fazer a manutenção, tanto do Museu dos Reis do Kongo, do Kulumbimbi e outros monumentos e sítios se não tivermos recursos resultantes das cobranças durante as visitas, à semelhança do que acontece noutras paragens. Por isso, acreditamos que, este ano, haverá a aprovação desse estatuto e a partir daí passaremos a cobrar, tanto no Museu, como noutros para que estas receitas  possam ajudar nas manutenções necessárias desses monumentos culturais”, garantiu.

Quanto ao projecto de construção do futuro Museu do Reino do Kongo, assegurou que já existe, carecendo apenas de aprovação, em função de alguns acertos que estão a ser feitos, bem como deverá ser submetido antes à apreciação de outros países que faziam parte do então Reino do Kongo.

"Acreditamos que este ano será aprovado um estatuto sobre o Museu dos Reis do Kongo, mas antes deverá ser submetido à apreciação de outros países que integravam o antigo reino, nomeadamente os Congos Democrático e Brazzaville, bem como uma parte do Gabão, para também emitirem a sua opinião a respeito, no sentido de evitar que seja apenas um projecto de Angola”, frisou.

 

Museu dos Reis do Kongo

A recuperação de algumas peças que faziam parte do acervo cultural do então Reino do Kongo constitui um processo difícil, sobretudo daquelas que se encontram noutros países, tanto nos dois Congos, como na Europa.

"O acervo a ser recuperado futuramente, cujo processo reconhecemos ser moroso, mas acreditamos que vai acontecer, porque aquelas peças pertenciam ao então Reino do Kongo, por isso, temos fé que serão recuperadas. Elas não estão apenas nos congos e no Gabão, encontram-se também na Europa e, mesmo durante o tempo de conflito armado, aqui em Mbanza Kongo também  houve roubo do acervo”, apontou.

Nzuzi Kady espera que os detentores tragam as peças, visto que o seu lugar é no museu, onde as pessoas possam visitá-las e conhecer a importância de cada peça museológica.

"Pela sensibilização que temos vindo a fazer, algumas pessoas trouxeram, mas para aqueles que se encontram fora é um processo contínuo”, acrescentou.

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