Política

Governador anuncia segunda fase das obras do Memorial da Batalha do Cuito Cuanavale

Carlos Paulino | Menongue

Jornalista

O governador da província do Cuando Cubango anunciou o início para breve da segunda fase das obras de construção do Memorial da Batalha do Cuito Cuanavale, que inclui unidades hoteleiras para melhor acomodação dos turistas.

23/03/2023  Última atualização 07H40
© Fotografia por: Nicolau Vasco | Edições Novembro | Cuito Cuanavale

José Martins fez este anúncio, terça-feira, durante uma excursão turística que as mulheres do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM), provenientes de Luanda, efectuaram ao município do Cuito Cuanavale, para conhecerem o palco de uma das batalhas mais sangrentas do mundo.

Informou que os valores para a construção da segunda fase e que vai permitir a conclusão do Memorial à vitória da Batalha do Cuito Cuanavale constam do Orçamento Geral do Estado (OGE) para este ano do Ministério da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria.

José Martins fez saber que os trabalhos arrancam em breve e contemplam, também, infra-estruturas hoteleiras e de restauração, para dar suporte a todos os interessados em fazer turismo, nos próximos tempos, no município do Cuito Cuanavale.

O governante sublinhou que a medida visa dar resposta a vários turistas nacionais e estrangeiros que visitam o município e que, por falta de pelo menos uma unidade hoteleira, são obrigados a voltar para a cidade de Menongue, no sentido de passarem a noite.

José Martins recordou que, por este facto, as obras do Memorial à vitória da Batalha do Cuito Cuanavale ainda não terminaram, já que foi concluída apenas a primeira fase, inaugurada a 19 de Dezembro de 2017 pelo ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

O Memorial é uma infra-estrutura de imensurável leitura histórica e que se propõe perpetuar a bravura e o sacrifício dos filhos da pátria em prol da defesa e afirmação geoestratégica de Angola e dos países da África Austral, acrescentou.

Por este facto, vai contar com uma área de 60 hectares com diferentes espaços de exposição, biblioteca, restauração e recreação, sem descurar o necessário enriquecimento do museu a céu aberto, estimulando um maior interesse de atracção turística.

"É nesta perspectiva que o Executivo disponibilizou no Orçamento Geral do Estado deste ano verbas que vão servir para erguer infra-estruturas hoteleiras, entre outras, para o município do Cuito Cuanavale para que tenha capacidade de acolher melhor os turistas nacionais e internacionais que tenham interesse de visitar a região”, disse.

Primeira fase do Memorial  

A primeira fase da construção contou com artes e ofícios, desde o tratamento de barro, gesso, fundição e a pintura, de angolanos que estavam em coordenação do mestre António Tomás, com a interacção do Ministério da Defesa Nacional, o Estado Maior General das FAA e do Serviço de Inteligência Militar.

Um dos pontos fortes a destacar é o Monumento da Bandeira, peça proeminente do Memorial com 55 metros de altura que apresenta a bandeira nacional abraçada a uma arma de guerra do tipo AKM, fazendo jus à vitória dos bravos combatentes angolanos em prol da defesa da pátria, símbolo da soberania, Independência, unidade e integridade territorial da República de Angola.

No Monumento da Bandeira há ainda a realçar o miradouro elevado, posicionado precisamente no ponto de mira da arma, local onde se pode contemplar, não só o campo de operações da heroica batalha, no horizonte mais profundo, a beleza paisagística da sede municipal do Cuito Cuanavale.

O Memorial é considerado como um lugar de reflexão e memórias, mas também uma zona de promoção de investigações.

 

Cidadãos defendem elevação de Cuito Cuanavale a património da humanidade

A necessidade de elevação da localidade do Cuito Cuanavale, na província do Cuando Cubango, a património da humanidade foi defendida, nesta quarta-feira, por académicos.

Na referida localidade decorreu, entre 1987 a 1988, a Batalha do Cuito Cuanavale, envolvendo militares das extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), apoiadas pelo regime sul-africano do Apartheid, e das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), vencedoras desta contenda.

Em declarações à ANGOP, o historiador Luís Paulo Vissunjo defendeu que Angola submeta à Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) o processo para reconhecimento e passagem desta localidade a património da humanidade.

Para si, a circunscrição é uma referência na cultura de paz, defendida pela UNESCO. Nesta senda, disse que as autoridades angolanas devem trabalhar para a materialização deste propósito, uma vez que a localidade do Cuito Cuanavale foi palco de uma das maiores batalhas da história contemporânea.

Lembrou que actualmente celebra-se o 23 de Março como Dia da África Austral, um reconhecimento generalizado dos países que integram a SADC. Corroborando da ideia, o antropólogo Diakinini Boholo acredita que os países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) vão apoiar a candidatura, um peso suficiente para tornar realidade essa pretensão.

Para ele, a região Austral necessita de fazer um trabalho árduo para convencer a UNIESCO, que passa pela catalogação de vários factores que este órgão das Nações Unidas exige, para a inserção na lista do Património da Humanidade. Já o secretário executivo do Conselho Municipal da Juventude de Menongue, Adriano Lucas Jaime, pediu maior divulgação sobre o Cuito Cuanavale, incluindo da batalha.

Defende que a batalha do Cuito Cuanavale deve constar do currículo escolar nos países da SADC.

"Devemos divulgar, cada vez mais, o 23 de Março com palestras, colóquios, seminários e outros meios que facilitam a disseminação deste grande feito”, frisou. Em homenagem a Batalha do Cuito Cuanavale, Angola propôs ao Conselho de Ministros da SADC o 23 de Março como data da África Austral.

A mesma foi adoptada a 23 de Março de 2018, por unanimidade, pelos Estados membros da comunidade.

A importância de uma pacata vila

O Cuito Cuanavale é um dos nove municípios da província do Cuando Cubango e é o segundo mais próximo da cidade de Menongue, num percurso de aproximadamente 189 quilómetros, após o Cuchi que está a uma distância de 93 quilómetros.

O município está situado numa área de 35.610 quilómetros quadrados e conta com uma população estimada em mais de 42 mil habitantes, distribuídos na sede municipal e nas comunas do Longa, Baixo Longa e Lupiri. A população tem como principal actividade a pesca e agricultura.

Há 35 anos, era uma pacata vila em consequência do conflito armado que assolou o país durante três décadas e, também, em função da batalha histórica das ex-FAPLA contra as tropas invasoras do regime do Apartheid da África do Sul.

Devido a estes conflitos, o município perdeu quase que na totalidade todas as infra-estruturas sociais herdadas da administração colonial. Muitas paredes foram destruídas com equipamentos pesados de guerrilha, sobretudo, usados pelos sul-africanos que contavam, naquela altura, com armamentos sofisticados.

Com o alcance da paz em 2002, o Executivo angolano transformou o Cuito Cuanavale num município em franco desenvolvimento sócio-económico para que possa corresponder ao valor histórico, construindo e reconstruindo as infra-estruturas sociais, principalmente, nos domínios da Educação, Saúde e outras para acomodar os serviços da Administração local do Estado.

Convite à classe empresarial

José Martins convidou os investidores nacionais e estrangeiros a actuarem no Cuito Cuanavale, de forma a permitir o surgimento de outros empreendimentos ligados ao sector privado, para que este município venha ser um grande local de referência em termos de turismo.

"Estamos numa corrente muito grande de fazer um trabalho para atracção de investimentos para a província do Cuando Cubango e, em particular, para o município do Cuito Cuanavale, pois esta localidade está no roteiro do turismo militar face o seu historial”, esclareceu.

Referiu que o Governo do Cuando Cubango está a trabalhar em estreita colaboração com o Ministério da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, para que os investidores e os turistas, quer de forma colectiva ou individual, possam visitar o Cuito Cuanavale para conhecerem o município histórico, desde a sua gente e potencialidades.

O governador do Cuando Cubando afirmou que o município do Cuito Cuanavale representa o símbolo da vitória das ex-FAPLA contra as forças racistas sul-africanas, acrescentando que tem estado a ganhar, nos últimos tempos, muitas infra-estruturas sociais que substituem os vários escombros resultantes da guerra.

Momento ímpar na história da África Austral

A chefe da delegação das mulheres do SISM, coronel Natália da Silva, disse que visitar o município do Cuito Cuanavale foi um momento ímpar a julgar pelo valor histórico e que faz com que até as pessoas de outros países se desloquem à região, símbolo da luta de libertação da África Austral.

Realçou que, 35 anos depois da Batalha do Cuito Cuanavale, o município mudou em termos de importantes empreendimentos públicos para conferir uma melhor imagem da vila e também dignidade aos seus habitantes.

Natália da Silva sublinhou que os principais pontos da atracção das mais de 80 integrantes do SISM, provenientes de Luanda, foi o Memorial à vitória da Batalha do Cuito Cuanavale, o aeroporto 23 de Março, os três tanques olifantes deixados em combate pelos sul-africanos, o bairro Samaria e o Triângulo do Tumpo.

"Foi um momento de real satisfação e de orgulho visitar o local onde milhares de angolanos deram o melhor de si e arriscaram, inclusive, as suas vidas em prol da defesa do território nacional”, disse.

Natália da Silva salientou que é por isso que no quadro do programa das festividades do Março-Mulher as funcionárias do SISM agendaram uma visita ao município do Cuito Cuanavale para homenagear e honrar os bravos combatentes da epopeia.

O governador do Cuando Cubango, José Martins, saudou a iniciativa das mulheres do SISM que saíram de Luanda para que neste mês dedicado à mulher, também, viessem constatar os principais locais da célebre Batalha do Cuito Cuanavale, com realce para o Triângulo do Tumpo e bairro Samaria.

"Estamos muito gratos por isso e esperamos que esta iniciativa se renove de tempo a tempo, para que possam ajudar a fortalecer as mulheres do Cuando Cubango nos encontros de troca de experiência e de informações para o bem da emancipação e empoderamento da classe feminina”, concluiu.

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