O continente africano é marcado por um passado colonial e lutas pela independência, enfrenta, desde o final do século passado e princípio do século XXI, processos de transições políticas e democráticas, muitas vezes, marcados por instabilidades, golpes de Estado, eleições contestadas, regimes autoritários e corrupção. Este artigo é, em grande parte, extracto de uma subsecção do livro “Os Desafios de África no Século XXI – Um continente que procura se reencontrar, de autoria de Osvaldo Mboco.
A onda de contestação sem precedentes que algumas potências ocidentais enfrentam em África, traduzida em mudanças político-constitucionais, legais, por via de eleições democráticas, como as sucedidas no Senegal, e ilegais, como as ocorridas no Níger e Mali, apenas para mencionar estes países, acompanhadas do despertar da população para colocar fim às relações económicas desiguais, que configuram espécie de neocolonialismo, auguram o fim de um período e o início de outro.
O crédito da quase totalidade das informações contidas neste artigo deve ser atribuído à organização jornalística independente brasileira SUMAÚMA. Cabe a ela o mérito de ter mostrado não só ao Brasil, mas ao mundo o horror vivido pelo povo Yanomami, residente entre os estados de Roraima e do Amazonas, o qual pode ser considerado estar em vias de ser exterminado, como aconteceu na história a tantos outros povos, devido à acção do colonialismo e do capitalismo predador (não será todo o capitalismo predador, pelo menos quando a burguesia o considera necessário, a fim de defender os seus interesses de classe?).
Segundo uma longa reportagem publicada pelo saite (**) SUMAÚMA no passado dia 20 de janeiro, o número de mortes de crianças com menos de cinco anos por causas evitáveis aumentou 29% no território Yanomami nos últimos quatro anos (período em que o político de extrema direita Jair Bolsonaro esteve no poder). Assim, 570 pequenos "indígenas” (eu prefiro o termo "povos originários”) morreram no período em questão por doenças que têm tratamento, como a malária, dengue, pneumonia, diarreia e outras, ou simplesmente por causa da fome. Os Yanomami são estimados em cerca de 30 mil pessoas. Como, durante a presidência de Bolsonaro, o governo brasileiro ocultou todas as estatísticas negativas, é provável que o número de mortos seja superior.
As fotos exibidas pelo SUMAÚMA, sob autorização dos líderes da comunidade dos Yanomami, por questões culturais (as imagens são um tema complexo para esse grupo étnico-cultural), correram o mundo. É inevitável ficar horrorizado com a visão das mesmas: corpos de crianças e velhos com peles ressequidas, cobrindo unicamente os ossos; costelas que parecem perfurar os corpos minúsculos, contrastando com barrigas inchadas, por causa dos vermes; crianças de três anos de idade com a aparência de recém-nascidos. As fotos mais chocantes, informa o saite brasileiro, não foram liberadas.
Durante os últimos quatro anos, os Yanomami foram literalmente cercados pelo garimpo ilegal, com a cumplicidade e o apoio das autoridades, quer locais quer nacionais. Impedidos de circular, assistiram ainda ao desmantelamento das suas estruturas de saúde, provocando o colapso sanitário das aldeias. Por causa do alastramento do garimpo, os homens, habituais responsáveis pela caça, deixaram as mulheres sozinhas para cuidar das crianças, plantar e pescar, o que desequilibrou dramaticamente o seu modo de vida. Os Yanomami começaram a morrer mais rápido nos últimos quatro anos. Os repórteres do SUMAÚMA captaram e fizeram repercutir por todo o mundo o grito dilacerante desse povo – "Não estamos conseguindo contar os corpos!”
Deisy Ventura, professora da Universidade de São Paulo, onde coordena o Doutorado em Saúde Global, não tem dúvidas: as acções e omissões praticadas pelo governo Bolsonaro configuram crime de genocídio. Em artigo publicado no recente dia 28 de Janeiro, igualmente no saite SUMAÚMA, ela argumenta que, nos últimos quatro anos, a humanidade dos Yanomami foi negada (política que, acrescento eu, não representa senão a extensão da lógica colonial europeia que praticamente dizimou os povos originários das américas), como o demonstra a decisão das autoridades brasileiras anteriores de proteger a vida e a saúde desse povo, como era seu dever legal, apesar de ter pleno conhecimento do que ocorria no referido território.
Para a professora brasileira, não se tratou unicamente, como alguns argumentarão, de negligência ou ineficiência. Deisy Ventura explica que, contrariamente ao senso comum ou, pior do que isso, à estratégia negacionista usada pelas forças de extrema direita em todo o mundo, para legitimarem a sua ocupação do espaço público, os genocídios não ocorrem apenas [sublinhado meu] durante conflitos armados e exclusivamente por meio de assassinatos massivos. "Segundo o direito internacional, a expressão matar pode ser correlata ao termo causar a morte”, explicou ela. É inegável, de facto, que a deliberada omissão de socorro do governo Bolsonaro aos Yanomami, além de revelar a cumplicidade de interesses que o anterior presidente brasileiro não teve pejo em revelar em várias ocasiões, causou a trágica situação em que a comunidade Yanomami se encontra actualmente.
* Jornalista e escritor
** O termo "saite” é um neologismo criado pelo autor, mediante o aportuguesamento da palavra inglesa "site”
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