Economia

Fitch estima crescimento da economia angolana nos 2,7 por cento este ano

Regina Handa

A agência de notação financeira Fitch Ratings prevê para Angola um crescimento económico de 2,7 por cento este ano e 2,5 por cento em 2024, ano em que a dívida pública deverá ficar nos 54,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).

17/01/2023  Última atualização 08H28
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"A Fitch estima que o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de Angola tenha acelerado de 0,7 por cento, em 2021, para 3,1 por cento em 2022, principalmente devido ao robusto desempenho da economia não petrolífera, mas também devido ao regresso ao crescimento positivo do sector do petróleo; prevemos que o crescimento económico desacelere para 2,7 por cento este ano e 2,5 por cento no próximo, principalmente devido a um declínio na produção", diz a Fitch Ratings.

Na nota que acompanha o anúncio da decisão de manter o rating em B- e melhorar a perspectiva de evolução para positiva, os analistas da Fitch escrevem que "a actividade nos sectores para além do petróleo deve continuar robusta, reflectindo a despesa do governo nos esforços de diversificação e a descida das pressões sobre a inflação".

A Fitch estima que a inflação tivesse caído de 28,8 por cento, em 2021, para 22,2 por cento no ano passado, "sustentada numa apreciação do Kwanza e no fortalecimento do peso dos alimentos na cesta básica (para 55 por cento), e deverá desacelerar ainda mais para uma média de 14 por cento em 2023 e 11 por cento no próximo ano".

A descida do preço do petróleo face aos valores registados no ano passado, influenciados pelos impactos da guerra na Ucrânia, deverá fazer a balança corrente passar a negativa, com valores de -0,8 por cento e -1 por cento em 2023 e 2024, quando no ano passado teve um excedente de 1,7 por cento.

"Isto acontece devido à descida da receita do Governo para 21,1 por cento do PIB em 2023 e 19,3 por cento em 2024, que compara com a estimativa de 23,6 por cento em 2022, o nível mais elevado desde 2015, com os preços do petróleo a caírem de 100 dólares por barril, no ano passado, para 85 e 65 dólares neste e no próximo ano", escrevem os analistas.

A dívida pública, por outro lado, deverá continuar a trajectória descendente que iniciou em 2021, passando de 77,4 por cento, nesse ano, para 60,3 por cento no ano passado e 54,4 por cento no próximo ano.

"A queda do rácio da dívida sobre o PIB em 2022 foi principalmente motivada pela substancial apreciação do Kwanza, e esperamos que o declínio adicional até 2024 seja sustentado num forte crescimento do PIB nominal e em excedentes primários orçamentais", ou seja, um saldo positivo das contas públicas antes de serem calculados os juros da dívida.

Apesar da melhoria, os riscos persistem, alertam os analistas, notando que "a maturidade média da dívida externa aumentou para 10 anos no final de 2021, quando em 2018 estava nos cinco anos", o que significa que os juros terão de ser pagos durante mais tempo, e cerca de 80 por cento da dívida é externa, a que se junta o facto de "os juros serem elevados relativamente aos seus pares, com o rácio de receitas sobre a dívida a ser de 17 por cento em 2022, bem acima da média" dos países a que a Fitch dá uma nota B, que usam 11,5 por cento das suas receitas para servir à dívida.

No que diz respeito à capacidade do Governo para implementar as políticas públicas, a Fitch considera que a vitória do MPLA em Agosto do ano passado garante continuidade, e não esperam dificuldades de governação.

 

Rating mantém em B-

A Fitch Ratings melhorou também, hoje, a perspectiva de evolução do rating de Angola para positiva, mantendo a opinião sobre a qualidade do crédito soberano em B-, abaixo da recomendação de investimento.

"A perspectiva de evolução positiva reflecte a recente queda abrupta da dívida pública, grandes excedentes da balança corrente e riscos de financiamento mais baixos, sustentados por um ambiente petrolífero mais favorável", lê-se na nota que acompanha a decisão de manter o rating em B-, dois níveis abaixo da recomendação de investimento, ou seja, 'lixo', ou 'junk', como é geralmente designado.

Especialistas defendem mais investimentos para tornar economia nacional robusta

 

Os economistas José Panzo e Nevanda José destacam que a estimativa de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de Angola, divulgada pela Fitch, mostra a necessidade de se apostar cada vez mais no sector produtivo e na diversificação da economia nacional para se gerar mais riqueza.

Em entrevista ao Jornal de Angola, o economista José Panzo disse que o crescimento de 2,7 por cento da economia nacional este ano, é sinónimo de que o Executivo  tem investido na melhoria das infra-estruturas públicas, em capital humano, bem como a promoção da educação, quer a nível do ensino, quer através da promoção de programas específicos de formação profissional.

Segundo acrescentou, este resultado é também resultado da criação de condições, para reter o capital humano existente, evitando a fuga de quadros qualificados, para outros países, assim como a promoção de actividades geradoras de externalidades positivas, satisfação e como o desenvolvimento de produtos, desenvolvimento de novas tecnologias e promover a investigação aplicada.

Avançou que este crescimento deve-se também com as políticas de promoção da eficiência dos mercados, tais como "políticas de promoção de concorrência; fornecimento de bens públicos, eliminação de externalidades negativas e dos efeitos negativos, provocados pela intervenção do Estado".

Para ele, é necessário promover a poupança nacional, através de um défice orçamental público, os aumentos nos níveis de poupança são necessários para financiamento, de todos os investimentos acima referidos.

"O Executivo fomenta o crescimento económico nacional com vista a melhorar a qualidade de vida da população angolana como um todo. Por isso, o mesmo realiza investimentos em medidas para permitir o crescimento da Economia. De certa forma, é facto que quando o Executivo pouco intervém no mercado, mais próspero ele será", disse.

Explicou que o crescimento se distingue de desenvolvimento por significar um aumento quantitativo da produção, cujas consequências serão o enriquecimento da nação e a elevação do nível de vida, mas sem a preocupação da melhoria das condições de vida da sociedade.

"Contrapõe-se, por isso, ao desenvolvimento, que, para além do crescimento propriamente dito, pressupõe a sua repercussão sobre a qualidade de vida das pessoas e o sistema social em geral, ou seja, toma em atenção a estrutura de repartição dos rendimentos a par do aumento do Produto Nacional Bruto (PNB)", revelou.

 O crescimento económico "é o aumento sustentado de uma unidade económica durante um ou vários períodos longos. Sua avaliação faz-se através da análise de certos índices como: Produto Interno Bruto (PIB) ou Produto Nacional Bruto (PNB)".

 

Sector não petrolífero

O economista Nevanda José disse que as estimativas da  Fitch, apesar de serem apenas uma previsão com os devidos fundamentos baseados nos indicadores macroeconómicos, é necessário que a actividade no sector não petrolífero se mantenha robusta.

"Se olharmos para as perspectivas dos mercados internacionais,claramente, é uma notícia que serve de alerta ou mesmo uma chamada de atenção para quem toma decisões sobre a vida do país, tendo em conta o nível de credibilidade que a referida agência ostenta no mundo sobre as questões económicas e financeiras", aponta em entrevista ao Jornal de Angola.

Nesta perspectiva, indica o economista, "é necessário que a actividade no sector não petrolífero se mantenha robusta, reflectindo a despesa do Governo nos esforços de diversificação da economia e descida da pressão sobre a inflação". Segundo Nevanda José, "se comparamos com  2022, quando a Fitch tinha estimado um crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de Angola para 3,1 por cento, para 2023 verifica-se, claramente, uma análise pessimista, com um crescimento económico desacelerado de 2,7 por cento".

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