Cultura

Festival Internacional de Teatro e Artes de Luanda junta vários grupos da lusofonia

Matadi Makola

O palco do Elinga Teatro é cenário, a partir de hoje até ao próximo dia 31, da sexta edição do festival, que celebra as artes cénicas e partilha de experiências com grupos da diáspora

21/05/2024  Última atualização 09H41
Actrizes do Elinga na peça “As Bondosas” que explora um aspecto da tradição que está a desaparecer nas cerimónias fúnebres © Fotografia por: DR

O emblemático grupo Elinga Teatro celebra, hoje, 36 anos de existência com a  concretização da 6ª edição do Festival Internacional de Teatro e Artes de Luanda, a ser acolhido na sua sede, na Baixa da Cidade. Grupos de Angola, Brasil, Portugal e Guiné Bissau cumprem a agenda de espectáculos deste festival que tem trazido a Luanda grandes figuras do teatro lusófono, num ambiente de intercâmbio cultural e de formação na área das Artes Cénicas.

Segundo o programa, a instalação da artista angolana Ana Sanches e a inauguração da exposição fotográfica "Viver Angola”, do artista Rodrigo Subtil, ambas a partir das 17h, marcam o dia da abertura do festival, que culminará, às 20h, com a exibição da peça "A Panela de Koka Mbala”, do Grupo Experimental Teatro, um dos pioneiros da arte cénica em Angola no período pós-independência. A peça foi escrita pelo dramaturgo congolês Guy Menga e reflecte as vivências do reino de "Koka-Mbala”, liderado pelo rei Binstamou. Amanhã, às 20h, está prevista a exibição do grupo Aurora Negra, oriundo de Portugal. Na quinta-feira, igualmente às 20h, será exibida a peça "Má Informação Congénita”, do grupo angolano Desejados da Kianda. Por sua vez, na sexta-feira, às 17h, abre o ciclo de formação com a mesa-redonda sobre teatro contemporâneo e tradição. No mesmo dia, às 20h, a actriz brasileira Lorenna Mesquita exibe o monólogo "Forbela Espanca: Entre Dores e Amores”, adaptação da sua obra "Endiabrada Bela”, no qual o espectáculo é baseado e cuja segunda edição será apresentada ao público luandense nesta mesma noite.

Depois da realização de uma oficina no período da manhã, o teatro infantil terá lugar no dia 25, às 16h, com a exibição da peça "Zezinha no Circo”, do grupo português Teatro da Garagem. Às 20h, o mesmo grupo volta ao palco para exibir o monólogo "Segundo Acto”, de Carlos Pessoa. A agenda continua no dia 26 com duas oficinas e a exibição da peça "Mayombe”, levada à cena pelo grupo angolano Enigma Teatro. A festa continua no dia 27 com a exibição grupo angolano Vozes d´África, detentor do Prémio Nacional de Cultura e Artes na disciplina de Teatro. No dia 28 de Maio, às 20h, o actor da Guiné-Bissau, Ângelo Torres, leva à cena no palco do Elinga a peça "Amílcar Geração”. A internacionalização desta festa continua com a exibição, no dia 29, às 20h, da peça "Os Javalis”, do grupo brasileiro Teatro Nú. O Elinga Teatro, o grupo anfitrião, exibe, no dia 30, às 20h, a peça "Navita, a Filha Amaldiçoada”. O festival encerra no dia 31 com a exibição de duas peças de grupos angolanos, sendo uma delas o monólogo "Sou Feio”, de Beto Cassua.

Vale recordar que a edição passada, realizada de 20 a 28 de Maio, rendeu homenagem ao actor Virgílio António, reflectindo o seu reconhecimento nas artes cénicas, pela qual se dedica inteiramente desde 1994, quando chega ao Elinga Teatro, através de uma oficina dirigida pelo eminente director angolano Rogério de Carvalho.


A história do nascimento do Elinga

Contou José Mena Abrantes que decorria o ano de 1987 e, acidentalmente, enquanto deambulava numa das artérias de Luanda, cruza com o romancista Artur Pestana "Pepetela”. O escritor partilha a José Mena Abrantes "Mena” que tinha sido convidado a lançar uma das suas obras em Itália e que a editora tinha proposto que  levasse também a mesma obra já encenada. Pepetela levava Mena em grande consideração, muito pelo desempenho obtido no grupo de teatro da Faculdade de Medicina. Entusiasmado, não titubeou em convidar Mena a montar um espectáculo para ser levado a Roma. "Eu acho que tu tens condições para montar a minha peça. Vê se no próximo ano consegues monta-la para irmos juntos”, foi nestes termos que o dramaturgo viu-se persuadido pelo romancista.

Um ano depois, exactamente em Abril de 1988, o acaso volta a fazer das suas e Mena reencontra Pepetela, que imediatamente mostrou-se preocupado em saber como decorriam os ensaios da peça. Sem saber bem do assunto e só para não discordar do escritor, ardilosamente o dramaturgo respondeu: "Sim, está a andar”, quando ainda nem o grupo de actores tinha sido reorganizado. Um mês depois, na azáfama de ir à Europa, o Elinga nasce a 21 de Maio. Da fase embrionária do Elinga, ainda com ligação ao extinto Xilenga, apontou os nomes de Orlando Sérgio, Nani Pereira e Pulquéria Van-Dúnem como os únicos sobreviventes. A obra que incita o nascimento deste grupo de teatro é "Revolta da Casa dos Ídolos”, de Pepetela, estreada nas cidades de Messina, Roma, Nápoles e Torinto, isto em Maio de 1988.

Actualmente sob direcção de Anacleta Pereira "Nani”, o nome do grupo Elinga deriva da língua nacional umbundu e significa acção, iniciativa, exercício. O Elinga Teatro foi criado em 1988, sendo o sucessor de uma série de grupos de teatro que partilharam entre si o mesmo director artístico e uma parte considerável do corpo de actores, respectivamente o grupo Tchinganje (1975/76), o Xilenga- Teatro (1977/80) e o Grupo de Teatro da Faculdade de Medicina de Luanda (1984/1987).

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