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A docente, jornalista cultural, actriz e antropóloga, Agnela Barros, disse, em Luanda, que gostaria de ser lembrada como “Mamã Ciência” por estar sempre ligada ao movimento cultural e artístico nacional.
Em declarações à imprensa, na noite de sexta-feira, no Palácio de Ferro, em Luanda, por ocasião de uma homenagem,promovida pelo projecto cultural e artístico "Angola Reggae Woman”, por ser uma figura incontornável do teatro angolano, pretende continuar a dar o contributo para o crescimento das artes no país.
A homenageada referiu que, ao longo de quatro décadas, esteve sempre ligada às artes e ao ensino antes da independência. Agradeceu a homenagem do projecto "Dread Vision Corporation”, que visa promover o estilo Reggae no universo feminino e realizar casting para captação de vozes e talentos para o Reggae.
De acordo com a professora, com uma vasta experiência no teatro, cinema, televisão, quer em produções nacionais, quer em projectos internacionais, tem procurado partilhar as vivências com outras mulheres, sobre a condição em que as sociedades sempre remeteram as mulheres para segundo plano, em todas as áreas do conhecimento.
Pelo trabalho, entrega e dedicação ao teatro, já foi distinguida com vários prémios, designadamente da Associação Angolana de Teatro, do Festival Internacional do Teatro do Cazenga e do Grupo Kussanguluka.
Com toda essa trajectória profissional nas artes e na academia, disse, tem procurado despertar a sociedade da importância da mudança de paradigma na emancipação das mulheres, o que durante décadas impossibilitou às mulheres de terem outro destaque e afirmação nas artes como um espaço de direito.
Na visão da atriz, ainda existe um caminho longo a percorrer no exercício das actividades artísticas, sobretudo no posicionamento das mulheres dentro das instituições ligadas às artes. "As mulheres devem continuar a trabalhar para conquistar um lugar sólido em todas as áreas do conhecimento”.
Agnela Barros manifestou gratidão pelo tributo, sobretudo por ser feito por mulheres. "Estou feliz por tudo que aconteceu e estou emocionada”.
Tributo às artes
Segundo o organizador do projecto, Rastukah, a homenagem à Agnela Barros, deve-se aos feitos em prol cultura nacional. "Ela sempre se destacou na sociedade angolana e no apoio prestado ao Reggae.”
O organizador avançou que o festival "Angola Reggae Woman” é um projecto de fusão de estilos com base ao reggae. "Pretendemos dar visibilidade nacional e internacional ao spoken woman produzido no país, no sentido de abrir o mercado e trazer novas abordagens artísticas”, concluiu.
O director do projecto fez um balanço positivo da primeira edição. O número de participação feminina tem estado a crescer. Na primeira edição, disse, tive seis meninas e na segunda, houve nove.
O momento cultural esteve sob a responsabilidade das poetisas Alegria de Avehe, Tatiana Duarte, Ginga a Preta, Ndira Sousa, Miura Mukeny, Lordes Zumba, Lua Poetisa, LN Poetisa e Joyce Zau.
Quadro que retrata a mulher africana
No momento da homenageada, foi entregue um certificado de reconhecimento, um pilão e um quadro com o retrato da mulher africana. Momentos de emoção e lágrimas tomaram conta do cenário, em que as poetisas dedicaram o refrão "Negra Soberana Dr. Agnela, a Mamã Ciência”.
Agnela Barros, que nasceu no município do Lépi no Huambo, em finais da década de 50 do século passado, tem um percurso singular, intenso e diversificado. É uma mulher defensora dos valores culturais e dos direitos humanos. Para ela, África está no centro de tudo. Estudou Filosofia, Direito e Sociologia mas optou pelas línguas e literaturas, respectivamente Clássicas, Modernas, Africanas e Crioulística. Licenciada em Estudos Portugueses, é mestre em Estudos de Teatro. Actualmente, é doutoranda em Antropologia, na especialidade de Religião, Ritual e Performances.
Agnela Barros começou a fazer teatro na escola primária e, posteriormente, seguiram-se várias formações em Portugal e Angola, destacando-se a efectuada com o professor cubano Ignacio Gutierrez. Fez parte do grupo de teatro Nzogi. Escreveu a peça "Quando murcham as acácias”, representada nos anos 90. Traduziu a peça "La paix”, montada pelo francês Henri del Camp. Foi directora do Instituto Nacional de Formação Artística (INFA), tendo desenvolvido as escolas médias de Artes, onde estava incluída a Escola de Teatro.
Faz investigação na área de Teatro Africano e fez um trabalho sobre o Tchiloli de São Tomé, publicado no Buala (online). Coordenou vários cursos de teatro, ministrados pelo professor Norberto Matan’Iadi, Rogério de Carvalho e João Mota de Portugal. É directora do Cineteatro Nacional, adstrito à Associação Cultural e Recreativa "Chá de Caxinde”.
No cinema, teve participação em dois filmes de António Faria, antes do 25 de Abril, que foram proibidos pela censura do Estado Novo. Participou do documentário "Escape from Luanda” e é membro da Associação Angolana de Profissionais de Cinema e Audiovisual (APROCIMA).
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