Especial

Fazenda Mumba inova com fomento animal na região Sul

Estanislau Costa | Lubango

Jornalista

O mugir de centenas de bois no espaço destinado à criação de gado bovino, caprino e suíno desperta a atenção dos vários especialistas que tomam contacto, pela primeira vez, com a Fazenda Mumba, designação de uma povoação outrora com um matagal desajeitado e banhado pelo imponente rio Cuvango.

16/05/2023  Última atualização 07H10
© Fotografia por: Edições NovembRo

Consta ainda que o rio Cuvango foi o  principal impulsionador da instalação da Fazenda Mumba, cujos resultados começam a ser cada vez mais evidentes, não só na melhoria das condições de vida das famílias residentes na circunscrição, como também no aumento das infra-estruturas públicas e privadas.

A Fazenda Mumba foi projectada num espaço de 43.000 hectares de terras aráveis, sendo que 20.000 hectares foram já utilizados. A Omatapalo, mentora da empreitada, subdividiu o antigo matagal em vários espaços, de modo a diversificar a produção à escala industrial.

A criação de gado bovino, suíno, caprino, assim como a lavoura de horto-frutícolas, tubérculos e outros produtos do campo já é um facto. O mugir dos bois confunde-se com um espaço pecuário da América do Sul. Constou ao Jornal de Angola que os propósitos dos mentores do projecto são de criar condições favoráveis ao abastecimento do mercado nacional em carne e produtos agrícolas.

O director executivo para o Agronegócio da Omatapalo, Nuno Paulo, explicou que o grupo está desafiado a criar condições produtivas à escala industrial, de modo que se possa reduzir paulatinamente as importações de carne e produtos agrícolas  no  curto e longo prazo. E criadas as condições, pensar na  exportação para os países da África Austral.

Lançada a primeira pedra, em Maio de 2015, as obras incidiram na vedação e desmatação do espaço, construção de infra-estruturas auxiliares, entre as quais dormitórios, refeitórios, armazéns, oficinas, sistemas de produção e distribuição de corrente eléctrica, entre outros.

Os mentores do projecto agroindustrial consideraram a existência do rio Cuvango um valor acrescentado, por atravessar o espaço numa extensão de 22 quilómetros, facto que oferece condições adequadas para desenvolver a cultura de cereais e horto-frutícolas  sem interregnos.

A criação de animais começou com a importação de 400 cabeças de gado bovino de alta selecção, no ano de 2015, cujo suporte técnico e pasto começou com a admissão de 48 técnicos de várias áreas. Actualmente, o número de trabalhadores já atingiu os 700, com realce para os nativos.

Os dados atestam que o actual investimento efectuado pela empresa Omatapalo na Fazenda Mumba ascende os 14 milhões de dólares de um total geral de 30 milhões previstos, para permitir a instalação de uma moagem para a transformação do milho em fuba, assim como uma fábrica de ração para o gado bovino.

Consta que os mentores do projecto estão a dar atenção especial à produção de grãos, nomeadamente  milho, soja, feijão e trigo, para apoiar as necessidades do país e criarem-se condições para exportar o excedente, havendo um grande  empenho para transformar a Região a Sul do país num gigante de produção de milho amarelo e carne bovina.

Este facto já mereceu o apoio e reconhecimento do presidente da Associação Agropecuária, Comercial e Industrial da Huíla (AAPCIL), Paulo Gaspar, ao admitir que a Fazenda Mumba, no município do Cuvango, está preparada para se tornar num dos maiores centros de produção alimentar do país.

"Os 22 quilómetros de travessia do rio Cuvango criam condições para que a produção, tanto de cereais e hortícolas como animal, seja feita sem depender taxativamente das quedas pluviométricas”, disse, apontando os pivots instalados para facilitar a rega e abranger dezenas de hectares.

Considerou que após anos na criação de condições para o fomento e criação de animais, com destaque para o gado bovino, a Fazenda  Mumba começa agora a apresentar os resultados voltados para o bem-estar das famílias, não só nativas como, também, vindas de vários pontos do país.

Para facilitar o acesso, foi aberta uma picada com uma extensão de 52 quilómetros que torna o trânsito mais cómodo e veloz,  assim como incentiva os formandos em agronomia do Instituto Médio Agrário do Tchivinguiro, da Huíla e da Chianga, no Huambo, a aliarem a teoria à prática.


Potencial ganadeiro da região Sul

A província da Huíla figura como a detentora do maior efectivo ganadeiro do país, com mais de três milhões de bovinos, sendo que 90 por cento dos animais pertencem aos criadores tradicionais concentrados nos municípios de Quipungo, Quilengues, Matala, Chibia, Gambos, Lubango, Cacula, Cuvango e Jamba.

Dados do Ministério da Agricultura e Florestas indicam que o país produziu, até ao ano de 2017, mais de 2,1 milhões de quilogramas de carnes diversas, sendo 77. 958 kgs de carne bovina, 41.357 Kgs de carne suína, 93.711 Kgs de carne caprina, 24.847 quiloa de carne ovina e 1,9 milhões de quilogramas de frango.

A Fazenda Mumba já tem montados quatro silos verticais com capacidade para quatro mil toneladas de cereais cada, e outros oito horizontais de duas mil toneladas cada, para armazenar proteína vegetal destinada à ração para os animais.


Disponíveis 8.000 bovinos para abate

Mais de oito mil cabeças de gado bovino de raça para o abate e abastecer os mercados de vários pontos do país estão, neste momento, à disposição na Fazenda Mumba, uma performance que, segundo o director executivo do Agronegócio da Omatapalo, Nuno Paulo,  já é um indicador da presença de carne nacional no mercado.

Nuno Paulo referiu ainda que os actuais resultados demonstram que a produção de proteína animal é de facto o core business da Fazenda Mumba, necessário para estimular o surgimento de novas infra-estruturas comerciais, que se vão encarregar da venda directa, assim como criar condições para maior proximidade com os clientes.

Nos próximos 10 anos, vaticinou,  pretende-se  que a produção de carne se situe nas 8.500 toneladas por ano ano, para a produção de carne limpa na ordem das 600 toneladas, razão para orgulhar a empresa e fortalecer as acções relacionadas com a produção e comercialização de alimentos "Made in Angola”.

Anunciou que 60 bois estão à disposição, por semana, para processar carne necessária para abastecer vários mercados, com realce para as províncias da Huíla, Benguela, Luanda, Huambo, Cabinda, Lunda-Norte e Lunda-Sul. "O actual fomento animal demonstra, anualmente, um crescimento do produto na ordem dos 25 por cento”.

Fez ainda saber que a criação de gado bovino e caprino "é feita através de um processo natural a cem por cento, desde a fase do pasto, onde o feno natural é tecnicamente controlado, abate num matadouro moderno apetrechado com equipamentos diversos, onde se faz o desmanche, conservação,  assim como o transporte da carne e outros derivados”.

Destacou também o árduo trabalho que está a ser desenvolvido para que seja possível dobrar anualmente a criação de animais, com realce para o  gado bovino, suíno e caprino, para cobrir as necessidades de abate e, fundamentalmente, sustentarem os matadouros, onde além do da Mumba, está prevista a construção de outro nos arredores do Lubango.

Explicou que o matadouro do Lubango, além de ser o propósito da empresa, vai atender, também, as dezenas de criadores de gado da região Sul do país, com destaque  para o Namibe e Cunene. "O objectivo é dar mais qualidade aos derivados do gado que vai à mesa dos consumidores”, disse.

Referiu que consumado o projecto do matadouro do Lubango, vão estar criadas as condições necessárias para o abate animal, processamento da carne de acordo com os padrões necessários de sanidade e melhor aproveitamento dos restos, com realce para a pele e chifres.

Para o gestor, a abertura do matadouro industrial nas terras da Chela, com uma capacidade considerável de abate e processamento de carne, vai favorecer um serviço em condições higiénicas e sanitárias, assim como a certificação GLOBAL-GAP do produto final, para servir toda a zona Sul do país.

Importa também realçar que o matadouro, projectado para as terras da Chela, pode, também, dar soluções às inquietações manifestadas, várias vezes, em círculos restritos e actos públicos, pelos membros da Cooperativa dos Criadores de Gado do Sul de Angola (CCGSA).

O director executivo do Agronegócio da Omatapalo, Nuno Paulo, anunciou, também, a produção de leite em quantidades consideráveis para assegurar  a produção de queijo, iogurtes, leite azedo e outros derivados. "Acreditamos que vão surgir indústrias de curtumes para reaproveitar a pele e demais produtos de sobra dos animais”, assegurou.

Para Nuno Paulo, o principal mercado é o nacional, mas estão em curso acções que visam a certificação da carne da Mumba para depois passar-se para a exportação aos países vizinhos. "A aceitação dos nossos produtos no mercado local incentiva a outras projecções”.

É  notável na zona produtiva a existência de duas linhas de criação e fomento animal, sendo a primeira de gado bovino de raça e  a segunda a regional, de gado  adquirido aos criadores autóctones, para manter a linha de abate e fornecer carne e outros derivados sem interrupção.

Para Nuno Paulo, é fundamental desenvolver o conceito de integração para se conseguir atingir os mercados almejados, como forma de produzir a proteína animal a baixo custo, sendo o processo de inseminação artificial o caminho a seguir.

Visionamos, disse, o mercado nacional como sendo o principal, apesar  de  estar  já  em  curso o processo que visa a certificação da carne produzida pela fazenda de modo que, após cobrir o mercado nacional, passar-se  para  a  exportação, numa primeira  fase para  os países vizinhos e depois noutros mercados.


Produção de feno melhora pasto das manadas

O cultivo de mais de mil hectares de feno, cujas colheitas da primeira época atingiram dez mil rolos de capim melhorado, com 300 Kg cada, mereceu o reconhecimento do técnico agrário Jorge Calenga, considerando que a utilização de feno na alimentação do gado bovino e caprino "é a via mais prática, por evitar que o animal se fatigue quando percorre longas distâncias para se alimentar”.

    Jorge Calenga explicou, mais adiante, que o produto é uma alternativa viável para ser usado como forragem para alimentos dos animais nos cochos, caso não haja pastagem suficiente ou o clima esteja desfavorável para o pastejo quer a curtas distâncias como a longas.

Para o especialista, o uso da palha devia ser generalizado no seio dos criadores de gado bovino, para evitar a fadiga dos animais nas distâncias que percorrem para se alimentarem, manter a performance fêmeas prenhas mantidas em estábulo e o facto da palha ser armazenada por longos períodos.

Segundo o técnico, o feno pode conservar o seu valor nutritivo por muito tempo, tendo assim uma óptima aceitação pelos animais. "Os produtores devem dar mais importância ao produto pelo seu valor nutritivo animal e poder ser transportado com muita facilidade”.

Os mentores da Fazenda Mumba dão atenção especial ao feno para evitar que o gado tenha de percorrer longas distâncias para se alimentar e se precaver dos riscos de infecção durante o contacto com outros animais no matagal.


Repovoamento animal com bons resultados

O repovoamento e fomento de animais melhorados levado a cabo pela Cooperativa dos Criadores de Gado do Sul de Angola (CCGSA) desde 2004, com a primeira importação de gado de diversas raças da Namíbia, África do Sul, Botswana, Brasil e França, permitiu o surgimento na região de raças Bosmara, Samandra, Braman, Timbra, Anelor e outras.

O presidente da cooperativa em referência, Salvador Rodrigues, assegurou que as acções  visam o repovoamento e superar a qualidade do gado no seio de dezenas de criadores autóctones, com vista a assegurar,  futuramente, a manutenção animal e abastecer o mercado interno com carne.

Para Salvador Rodrigues, acções do género devem abranger as províncias de Benguela, Cuanza-Sul, Huambo, Bié, Cunene e Cuando Cubango, onde a prioridade deve recair para as localidades mais afectadas pelo conflito armado que fomentou o êxodo das famílias para zonas mais seguras.

Recordou, também, que o gado, sobretudo o bovino, que mais havia era o autóctone que, em certos casos, enfrentava escassez de água e pasto na época de Cacimbo e nos períodos de seca cíclica. "Esta situação ainda tem forçado os criadores tradicionais a percorrerem longas distâncias para se alimentarem e dar de beber os animais”.

Reconheceu que as acções estruturantes levadas a cabo pelo Executivo e diversas fazendas produtoras estão a se repercutir na qualidade e abundância de pasto, água e apoio pontual dos serviços de veterinária com a realização periódica de campanhas de vacinação para a prevenção de várias doenças.

"A riqueza do Sul do país tem quatro patas”, afirmou, para reconhecer o empenho dos  criadores  na  materialização de acções relacionadas com a protecção e o aumento das manadas, já com qualidade e em quantidade. "Já é possível observar gado autóctone que desperta alguma atenção, fruto do cruzamento com touros de raça”.


Talho da Fazenda Mumba requalifica negócio da carne no Lubango

A  reabilitação e apetrechamento com equipamento diverso do primeiro talho da Mumba, aberto há dias na cidade do Lubango, assim como a formação de sete jovens distribuídos em várias áreas, custou à Omatapalo um milhão de kwanzas.

O talho, inaugurado pelo governador provincial da Huíla, Nuno Mahapi Dala, representa uma mais-valia no processamento de carne biológica e respectivos derivados, por colocar à mesa dos consumidores as várias formas de preparação do produto.

O director  executivo da Omatapalo, Nuno Paulo, garantiu que o recinto tem à disposição e a preços acessíveis carne de vaca, cabrito, porco e outros derivados e com condições sanitárias asseguradas. "Os nossos produtos da Fazenda Mumba são naturais”, garantiu.

Nuno Paulo disse que a empresa em referência dá o primeiro passo com a disposição de produtos da carne na cidade do Lubango para fortalecer a proximidade entre os consumidores nacionais e a Fazenda Mumba, por honrar a origem do grupo e possuir a maior unidade operacional e logística.

"Temos no talho alimentos nacionais produzidos na fazenda, com realce para a carne de gado bovino, suíno, caprino, assim como hortícolas e frutas”, disse, para reafirmar que o talho é a primeira unidade de negócios aberta na cidade do Lubango, sendo que o próximo talho será  aberto em 2024, em Luanda.

O empresário Fernando Amaro, que enalteceu a iniciativa da empresa,  considerou  estarem agora criadas as condições para que os consumidores apreciem a carne da Fazenda Mumba, que passa por um processo de preparação desde o abate, corte e selecção para bife, assados e outros.

O especialista explicou que vários consumidores reclamam  carne rija, cheia de nervos, com cheiro e outras anomalias que se podem notar  quando vai à mesa. "O segredo de uma carne boa e apetitosa está na forma como se prepara o animal para abate, acto de abate, corte e separação da carne”. Já o governador provincial da Huíla, Nuno Mahapi Dala, que enalteceu a iniciativa da empresa que está a desenvolver a actividade agropecuária no município do Cuvango, disse que a iniciativa além de criar postos de trabalho, inova a nível da cidade do Lubango na comercialização dos produtos pecuários com qualidade e a preços acessíveis.

Nuno Mahapi Dala aproveitou a ocasião para convidar outros empreendedores a apostarem no mercado da província da Huíla, por ser próspero se se tiver em conta a densidade populacional e a presença permanente de namibianos e sul-africanos.

 

 

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