Opinião

Fármacos e controlos

Luciano Rocha

Jornalista

Fragilidades no controlo de remédios, designadamente analgésicos e os utilizados para o paludismo, permitem, entre nós, que criminosos enriqueçam à custa de vidas humanas a maior riqueza de um povo, não esqueçamos.

26/01/2023  Última atualização 06H30

O tema não é novo. Ainda há poucos anos andou nas "bocas do mundo” tal o descaramento dos componentes da cadeia de negociantes, com elos que incluem importadores e vendedores de toda a espécie, desde proprietários de farmácias legais, daquelas outras apenas de fachada e de rua.

A par, neste último caso, com a mesma cobertura, também ela condenável, das inefáveis kinguilas, de pernas traçadas, unhas pintadas, em círculos restritos a elas próprias, imunes à repressão policial. Por isso mesmo, "nada de misturas” com vendedoras de fruta, jinguba, castanha de caju, paracuca, alimentos dos sem ganhos para restaurantes.

Os negociantes de vidas humanas atingiram o auge no "tempo das vacas gordas”, quando a nossa sociedade foi, de maneira acintosa, dividida em castas: as dos "todo poderosos” e as dos outros. Foi quando  o erário passou a ser cofre privado de minorias seleccionadas, responsáveis por aquilo que Angola já devia ser, mas continua sem ser.

A arrogância, própria do novo-riquismo, levou os componentes daquelas seitas de pequeno burgueses impreparados a julgarem-se imunes às leis constitucionalmente consagradas, o que os levou, enquanto estiveram na mó de cima, a servirem-se de todos os meios para "encher os bolsos sem fundo”. Era "a grande farra”, com custos incomensuráveis para a maioria dos angolanos.

O sector da Saúde foi dos mais afectados pela rapina. Descrever o estado em que ficou é escusado. Calamitoso é o mínimo que se pode dizer. As marcas continuam nos corpos e mentes de muitas famílias angolanas. Dores e raivas desta índole são constantes. Jamais apagadas, mesmo que, momentaneamente, as causas sejam secundarizadas por outras tragédias. Como foi, por exemplo, o surgimento da Covd-19 que fustigou o mundo. Angola não fugiu à regra. Para surpresa, inclusive de países mais desenvolvidos do que o nosso, foi dos menos afectados devido a medidas tomadas antes das infecções chegarem a nós.

A pergunta que se impõe é quantas vítimas, incluindo mortais, tinham sido evitadas devido à Covid-19 - e pelo paludismo, que continua a ser a maior causa da morte de angolanos - não fosse o estado do nosso sector da saúde que continua, ainda hoje, sujeito à ganância de uns quantos. Não tão poucos como se possa imaginar. 

O  alerta deixado, recentemente, pela directora da Agência de Regulação de Medicamentos comprova aquela sede insaciável pela riqueza a qualquer custo, inclusive, da vida humana.

Katiza Mangueira foi clara ao mencionar analgésicos e medicamentos para o paludismo como os mais adulterados devido, sublinhou, "a fragilidades no controlo” e  haver  "alguns agentes” permissíveis.

Por que o fez agora? Por ter aumentado o número dos que são capazes de tudo por "dinheiro fácil”, mesmo pondo em risco vidas humanas? Por, mantendo-se, entre nós, o perigo de outras doenças mortais, como a Covid-19, embora mais controladas, não nos podemos esquecer que o paludismo continua a ser a doença que mais óbitos causa entre nós? Talvez todas juntas e outras tantas sejam a resposta.

O aviso por quem o devia fazer está feito. Devemos todos - excepção, naturalmente, aos traficantes de vidas humanos cerrar fileiras, não para começarmos a ver fantasmas por todo o lado, mas conscientes  de continuarem por cá muitos "lobos vestidos com pele de cordeiro” . Não se lhes facilite a vida, para não termos, outra vez, raposas a guardar capoeiras.       

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Opinião