Cultura

Falta de salas de teatro preocupa actores no Zaire

Fernando Neto e Jaquelino Figueiredo | Mbanza Kongo

O teatro, desde então, é uma das formas de comunicar, educar ou chamar atenção dos cidadãos, sobre determinados acontecimentos que afectam a sociedade.

27/03/2023  Última atualização 13H00
© Fotografia por: Garcia Mayatoko| Edições Novembro

A nível da cidade histórica de Mbanza Kongo, província do Zaire, os grupos de teatro mostram-se preocupados com a falta de espaços específicos para a exibição dos seus espectáculos dramáticos, soube, ontem, o Jornal de Angola.

A preocupação foi manifestada por fazedores de artes cénicas, no âmbito da celebração do dia 27 de Março, Dia Mundial do Teatro, cuja a inquietação incide nas obras de reabilitação do Cine Clube de Mbanza Kongo, em fase de conclusão.

Para os poucos grupos que ainda resistem ao tempo, as artes cénicas a nível da cidade património da Humanidade (Mbanza Kongo) vão conhecer um verdadeiro impulso, tão logo seja reinaugurado o Centro Cultural "Comandante Bula”, equipado com uma sala moderna para exibição de peças de teatro e que, também, vai permitir a classe ter lucro com as suas actividades.

O actor Belmiro Pedro, um dos integrantes do grupo de teatro "Ndozi Yetu”, que significa em português "nosso sonho”, o mais proeminente da região, desde 2019, disse que a falta de uma sala apropriada para os ensaios e exibição de peças de teatro constitui o principal problema que enfrentam, realidade que pode ser revertida com a reinauguração do Centro Cultural "Comandante Bula”.

"Neste momento, temos ensaiado ao ar livre, o que retira o efeito surpresa e concentração dos actores. Independente das dificuldades que passamos, temos dado o máximo, de modo a entreter os munícipes, sem esperar nenhum benefício, apenas o amor à arte. Os valores simbólicos (500 kwanzas) que cobramos servem apenas para garantir a logística da própria actividade, incluindo a limpeza do espaço cedido pelo Governo Provincial e aluguer de cadeiras. Ficamos confortados ao saber que a população local gosta de teatro, mas sem as condições básicas fica mais difícil”, lamentou.

Segundo Belmiro Pedro, em função da falta de salas apropriadas, o grupo "Ndozi Yetu” esteve mais de um ano parado, mas retomou os ensaios para preparar a estreia de duas peças, antevendo a reabertura do Centro Cultural "Comandante Bula”.

"Trata-se da peça denominada 'O problema', que retrata a história de um senhor ambicioso, que furta dinheiro de um cidadão estrangeiro e põem-se em fuga da aldeia, mas quando regressa, acaba por sofrer as consequências dos seus actos. Uma comédia que vai levar o público a descontrair e sorrir novamente”, acredita Belmiro Pedro, que acrescentou que a segunda com o título "Denominada Causa e efeito”, retrata a história de uma jovem que se envolve com um senhor comprometido. No decorrer do namoro, vê-se grávida, mas o parceiro obriga-a a interromper a gravidez, ela não aceita, apesar de estar noiva do filho do mesmo senhor.

Para António Ndongala, 27 anos, também integrante do grupo "Ndozi Yetu”, a reabertura do Centro Cultural "Comandante Bula” vai colocar o teatro como uma das principais actividades de entretenimento da cidade património mundial da Humanidade.

"O nosso objectivo é tirar a população da monotonia, animar e entreter as pessoas, apesar da falta de apoios dos empresários locais. Se não tiveres amor à arte acabas desistindo, porque quando te dedicas a uma actividade sem fins lucrativos, pelo menos tens que encontrar incentivos na sociedade que, permitam exercer a referida a arte”, disse.

Por seu turno, António Álvaro, funcionário público, residente no bairro Sagrada Esperança, contou que apesar de gostar de teatro, nunca teve oportunidade de assistir uma peça em Mbanza Kongo, por falta de salas para o efeito.

"Obviamente, ainda há que se fazer muito para impulsionar o teatro e, acredito que, o Cine Clube 'Comandante Bula' poderá resolver a situação. Por outro lado, deve-se estimular e incentivar o surgimento de mais grupos, de forma a enriquecer e diversificar as apresentações”, frisou.

António Álvaro frisou que toda actividade que visa ocupar a juventude, considera-se bem-vinda, porque a mantém ocupada, a ajuda acreditar em si, a descobrir o seu talento, a ser mais criativo e a ficar longe das drogas.

Kikangu Wilson, 30 anos, residente no bairro Bela Vista, disse que o teatro constitui uma actividade educativa capaz de ajudar, significativamente, crianças, jovens e adultos a saberem mais sobre a cultura do país e da região em que vivem.

"Em Mbanza Kongo o teatro ainda é muito fraco, por isso, as pessoas de direito deviam capacitar os jovens e incentivar os grupos para se dedicarem a esta arte. O teatro é uma das artes que melhor pode representar a nossa cultura, por isso, merece mais apoios”, defendeu.

 

Construção de casas da cultura

O projecto de construção, no decurso do presente ano, de casas da cultura, a nível dos seis municípios da província do Zaire, com vista a resgatar e valorizar os usos e costumes da região, vai impulsionar a realização de teatro na região, soube, ontem, o Jornal de Angola, em Mbanza Kongo.

Segundo a directora do Gabinete Provincial da Cultura, Juventude e Desportos, do Zaire, Nzuzi Makiese Wete Kady, em entrevista ao Jornal de Angola, no âmbito do Dia Mundial do Teatro, que se assinala, hoje, o projecto consta do orçamento de 2023, daí acreditar na sua materialização. "A província do Zaire não tem casas da cultura, mas acreditamos que este ano 2023, teremos em cada município, uma infra-estrutura, desde que não alterem o orçamento. Submetemos uma proposta de um projecto ao Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística, para a construção de casas da cultura a nível dos seis municípios”, avançou.

A par da construção de novas casas da cultura em todos os municípios, como avançou, a nível da cidade de Mbanza Kongo está em reabilitação o Cine Clube local, cujas obras decorrem a bom ritmo, após a conclusão, o processo de resgate e valorização do sector vai ganhar outro impulso.

 "Apesar de haver muitos fazedores da cultura, numa primeira fase, com o Cine Clube reabilitado, acreditamos que vai resolver em certa medida, a problemática por que enfrentam os homens da cultura, sobretudo a realização de teatros, exibição de filmes e outros”, acrescentou.


Fazedores de teatro no Cunene  clamam por espaços para actividades


A falta de espaços para a realização de teatro e outras actividades culturais, em Ondjiva, no Cunene, está a contribuir para o fraco desenvolvimento das acções culturais na província. Os dados foram revelados, ontem, pelo responsável do grupo de teatro Olonguiso, Jeremias Kangobe

José Kangombe, que falava por ocasião do Dia Mundial de Teatro, que se comemora hoje, pediu ao Governo Provincial a construção de sala específica para os fazedores de teatro poderem realizar as suas actividades,  tendo destacado a  importância do teatro no processo de moralização da sociedade.

O responsável do grupo Olonguiso defendeu um apoio contínuo aos grupos de teatro da província, com vista a realização das actividades, visando a promoção e o desenvolvimento das artes cénicas, e da cultura, em geral. Fez saber que actualmente os grupos de teatro realizam ensaios na sala de conferência da Mediateca António Didalelwa.

"Quem está habituado a fazer o teatro no Cunene e for para aquelas províncias onde existem salas específicas para o teatro acaba por encontrar muitas dificuldades”, disse o responsável do grupo Olonguiso. José Kangombe disse  que os integrantes do grupo Olonguiso são pagos e contam com apoios institucionais, acrescentando que se  estivessem sala própria para teatro  iriam  incentivar muitos jovens a se entregarem à arte.

Referiu que  o teatro visa  promover e incentivar a sociedade a ter o hábito de sair de casa  nos tempos  livres. "Se o Estado construir uma sala própria de artes, os artistas irão tirar dai a sua sustentabilidade. É possível sim ser artista e viver com dignidade fazendo qualquer tipo de arte que está dentro das artes cénicas”, disse Jeremias Kangobe.

O responsável do Olonguiso disse que o grupo já existe há 18 anos e conta com 12 integrantes. N sua galaria tem dois prémios de entidade cultural de âmbito nacional. O grupo participou  em duas edições do Festival Nacional da Cultura (FENACULT) e várias vezes no Festival Internacional do Teatro que é realizado em Luanda. Os actores do grupo, acrescentou, já beneficiaram de quatro formações e estão reconhecido na Associação Angolana de Teatro, da qual são membros.

Adelaide Mualimusi | Ondjiva


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