Economia

Falta de embarcação cria dificuldades ao Centro de Salga e Seca do Tômbwa

O Centro de Salga e Seca do Tômbwa, província do Namibe, aponta a falta de uma embarcação próprio como a principal dificuldade no exercício das actividades com vista a garantir uma produção de qualidade e a um preço mais acessível ao mercado.

01/04/2023  Última atualização 11H35
A actividade pesqueira é das principais ocupações de muitas famílias da zona litoral do país © Fotografia por: Edições Novembro

A informação foi avançada ao Jornal de Angola pela presidente da Cooperativa.

Ernestina Chipita, líder da cooperativa fundada por 35 mulheres, também fez-se presente na 5ª edição da Expo-Indústria, uma realização do Ministério da Indústria e Comércio, em parceria com o Grupo Eventos Arena.

De acordo com a responsável, apesar da cooperativa ter o apoio do Ministério da Indústria e Comércio e da Administração do Tômbwa, o grupo encara a falta de matéria-prima como o principal obstáculo para que o negócio possa florescer e prestar um melhor serviço em prol do crescimento económico da comunidade e consequente bem-estar das populações.

Ernestina Chipita informou que a mercadoria processada naquela unidade produtiva tem como principais destinos as províncias de Luanda, Bié, Huambo, Lubango, Lunda-Norte e Lunda-Sul, na qualidade dos principais mercados de aquisição do peixe seco do centro. Todavia, considera que a cooperativa poderia ter um alcance mais abrangente, o que passa por atingir uma maior franja do mercado nacional para evitar a importação de produtos que Angola pode produzir em grande escala, porque "é um dos objectivos preconizados pelo Executivo".

Para que tal aconteça, disse, é necessário que haja mais investimentos e mais abertura aos créditos concedidos aos empresários, cooperativas, isto é, ao sector privado em geral.

 

Carrinhas de congelação

A empresária frisou que uma embarcação de até 20 mil toneladas seria de grande valia para o centro,visto que a maioria dos empresários ligados à actividade pesqueira possui as próprias carrinhas de congelação- isotérmicas, além de estruturas em terra, ao contrário das cooperativas que vivem de favores.

"Temos enfrentado muitas dificuldades para exercer a nossa actividade. É preciso andar atrás dos empresários, pedindo favores para podermos vender o peixe por falta de condições",disse.

De acordo com Ernestina Chipita, nesta actividade, estão também as "bimbas”, que são pequeninos e rudimentares botes confeccionados pelos próprios utentes, geralmente em esferovite ou outro material, de metro ou metro e meio, também chamadas bóias, cuja produção é residual e escapa ao controlo das autoridades.

Produção diária

A produção diária de cada chata está à volta de quatro a seis caixas de peixe, de 35 quilogramas cada uma, o que perfaz 140 quilogramas/dia.

"Há consciência e evidências de que a pesca artesanal está a crescer muito, porém escasseiam os dados. A responsável tem como referência o ano de 2015, em que havia 186 chatas. A tendência é crescer mais”, sublinhou.

Conforme fez questão de lembrar, quando os pescadores não conseguem vender e para não perderem, entregam à Associação da Mulher Processadora de Salga e Seca, fundada há quatro anos, constituída por seis cooperativas e 61 membros. O trabalho deste grupo de mulheres é adquirir o peixe, transformá-lo em salmora; seguem-se sete etapas de pré-tratamento do produto e por fim a comercialização.

Financiamentos são precisos

Os pescadores artesanais têm carências de vária ordem. Além das infra-estruturas apropriadas (centro de apoio), precisam de linhas, gaiolas (meio de captura), redes, estremalho, motores de 40 cavalos HP, entre outros materiais para faina, além de que os combustíveis não são subvencionados.

Ernestina Chipita reiterou ainda a necessidade de um barco para a associação, para o qual o pedido de financiamento já foi encaminhado: "Estar a depender é complicado. Às vezes passamos quase 15 dias sem conseguirmos tratar 200 quilogramas de peixe e temos rendas por pagar, trabalhadores, energia e água. Sem produção, não será possível”.

Questionada sobre o que gostaria de ver melhorado no futuro, pediu mais apoio ao Executivo no sentido de persuadir as empresas a vender peixe à associação.

"Apoio das empresas, para nos venderem com facilidade; ou uma embarcação”, acrescenta. Sobre o dia-a-dia, Ernestina Chipita relata que . "Temos dificuldade na aquisição do peixe. Quando vamos às empresas comprar não somos atendidas com sucesso, porque os armadores já têm os seus próprios clientes”.

Como não podia deixar de ser, está em sintonia com as companheiras: "Temos dificuldades em obter matéria-prima. Mas, com uma organização, creio que o governo vai nos ajudar nesse aspecto.”

Na expectativa da chegada de uma embarcação a mulher processadora, apesar das dificuldades actuais, terminou a conversa com optimismo, no discurso e no semblante; e esperança nas palavras. "A nossa vida vai mudar”.

A pesca artesanal tem merecido apoio do Ministério de  tutela, atenção particular, pelo número de operadores envolvidos, a influência na vida das populações e a sua contribuição na estratégia de combate à fome e redução da pobreza.

No município estão registadas 196 chatas (35 delas inoperantes), envolvendo 579 marinheiros, perfazendo um agregado familiar de 3.345 pessoas. Cada chata tem uma média de quatro a cinco marinheiros. Nisso estão envolvidas mais de 161 mulheres no transporte e processamento de pescado.



Yola do Carmo e Hélder Jeremias

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Economia