Economia

Falta de chuvas periga agricultura familiar na região planáltica do Huambo

Fernando Cunha

Jornalista

A falta de chuvas que se verifica há mais de três meses na região centro do país deixou as famílias produtoras e as cooperativas de camponeses da província do Huambo em situação de incerteza relativamente à produção agrícola no ano em curso.

04/02/2021  Última atualização 19H05
© Fotografia por: DR
Em 2021, se a natureza jogasse favoravelmente, a exemplo dos anos anteriores, a classe camponesa da região planáltica previa colocar no mercado produtos alimentares no valor de dois mil milhões de kwanzas. O prejuízo geral calcula-se em torno dos 81 milhões de kwanzas.

Aurélio Naúma André é um ex-militar que, em 2007, foi contemplado com um lote de terra de seis hectares na região da Betânia, na Chipipa, para nele efectivar o seu projecto agrícola familiar. Hoje, com mais de 250 hectares de terra, o agricultor dedica-se à produção, em grande escala, de batata rena, cebola e repolho, produtos que necessitam de rega sistemática.

A zona em que se situa o seu "território produtivo” foi bastante afectada pela falta de chuva nos últimos três meses, período que considera ser o mais relevante no processo de produção. Hoje por hoje, Aurélio Naúma André, com mais de 93 por cento da produção perdida, calcula prejuízos em torno dos 35 milhões de kwanzas.

"Só de Outubro a data, o prejuízo em torno daquilo que foi o meu investimento anda em torno dos 35 milhões de kwanzas. "Se durante o mês de Fevereiro existirem chuvas em abundância, é possível que até Junho possamos recuperar algum valor investido, com a plantação de uma segunda safra. Mas isso não passa mesmo de previsões”, afirma de forma desolada Naúma André.

Entre 2019 e 2020, a província do Huambo colocou no mercado nacional, mais de três mil toneladas de produtos hortícolas diversos, segundo dados avançados pela associação de camponeses. Em 2021, independentemente das dificuldades financeiras e do aumento dos preços dos fertilizantes – um saco de adubo é vendido nos circuitos comerciais a 35 mil kwanzas -, espera-se alcançar o dobro das quantidades a colocar no mercado. 

Entretanto, a natureza os trai todos os dias desde Outubro passado. Num ano em que a agricultura familiar foi apontada pelo Executivo angolano, como sendo o maior desafio para o futuro, tendo em atenção o alcance da segurança alimentar, o aumento da produção e da produtividade interna, para que, de acordo com as previsões oficiais, a mesma se tornasse mais competitiva, a falta de chuvas e de sistemas de regas fiáveis na produção dos camponeses individuais ou reunidos em cooperativas, torna o alcance desse desiderato difícil.

A produção agrícola familiar e também nas cooperativa associadas de camponeses na província do Huambo, cobriu, segundo dados estatísticos oficiais, até 80 por cento das necessidades alimentares em 2020. Em 2021, previsões estimavam que fosse chegar aos 93 por cento, agenda que os homens do campo da região acreditam ser impossível de alcançar, mesmo que a natureza seja generosa nos próximos tempos.

Rui Fernando Tchimbongue, da associação de camponeses da província do Huambo, que actua agricolamente nas regiões de Catabola e da Chilata, ambas comunas do município do Longonjo, tem mais de 800  hectares de milho destruídos por falta de rega permanente, o que representa, segundo contas deste agricultor, qualquer coisa como 77 por cento da produção deste cereal.

"Está a ser uma temporada difícil. Um verdadeiro desastre para os camponeses e empreendedores do agronegócio na região da Catabola e da Chilata. Fizemos investimentos consideráveis, alguns dos quais com recurso ao micro-crédito. Isso faz-me prever que não conseguiremos honrar muitos dos nossos compromissos este ano, mais a mais quando para o sector foi reservado qualquer coisa como 0,6 por cento do OGE”, aponta o também agrónomo Rui Fernando Tchimbongue.

Relativamente aos apoios institucionais, que possibilitem fazer face ao momento menos bom com que se debate a maioria dos camponeses da província, Rui Fernando Tchimbongue manifesta-se apreensivo. Diz ele que o Orçamento Geral do Estado prevê uma dotação de 0,6 por cento do PIB, valores que considera irrisórios e explica-se: 

"O global do OGE contempla ao sector uma dotação de cerca de 0,6 por cento, número irrisório para desenvolver a agricultura e superar o défice alimentar em Angola. Quanto mais para nos apoiar neste período de estiagem. Se quisermos alcançar a segurança alimentar, mantermos os índices de produção e de produtividade interna, a agricultura necessita de cerca do 10 por cento”.

Dados contidos no OGE para 2021 estimam para o fomento da agricultura em todo o país um valor aproximado de 40 mil milhões de kwanzas, respeitante a 0,27 por cento do PIB, sendo que o orçamento provincial é estimado em 134 mil  milhões de kwanzas.    

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Economia