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Etiópia: Rebeldes de Tigray estão a entregar armas pesadas

O porta-voz das forças rebeldes da região de Tigray disse esta quinta-feira que começaram a entregar armas pesadas no âmbito do acordo de paz assinado com o governo da Etiópia no final de 2022. Getachew Reda disse na rede social Twitter esperar que a transferência de armas, confirmada por uma equipa de observadores da União Africana, “ajude em muito a acelerar a implementação total do acordo” assinado há mais de dois meses.

13/01/2023  Última atualização 05H55
© Fotografia por: DR

As forças de Tigray procuram a retirada das tropas da vizinha Eritreia, que lutou ao lado das forças etíopes, mas não fez parte do acordo com vista a encerrar o conflito que dura há mais de dois anos. Segundo um documento, assinado a 12 de Novembro na capital do Quénia, Nairobi, relativo à implementação do acordo, de entrega das armas pesadas será feito em simultâneo com a retirada das forças estrangeiras”. Testemunhas confirmaram à agência Associated Press que combatentes da Eritreia permanecem em algumas comunidades.

Uma delegação do governo etíope, que incluiu o conselheiro de segurança nacional do primeiro-ministro, Redwan Hussein, e os ministros da Justiça, Transportes e Comunicações, Indústria e Trabalho, deslocou-se a Mekele, capital da região de Tigray, a 26 de Dezembro, para a primeira visita oficial em mais de dois anos. Alguns dias depois, a 29 de Dezembro, a polícia federal etíope entrou em Mekele, pela primeira vez em 18 meses, sobretudo para "garantir a segurança das instituições”.

Os rebeldes afirmaram ter retirado 65% dos combatentes das linhas de frente, mas denunciam atrocidades cometidas pelo exército da Eritreia e pelas forças da região etíope de Amhara. O acordo de paz assinado a 02 de Novembro entre o governo etíope e os rebeldes do Tigray prevê o desarmamento das forças rebeldes, o restabelecimento da autoridade federal no Tigray e a reabertura dos acessos e comunicações para a região, isolado do resto do mundo desde 2021.

Os combates começaram em Novembro de 2020, quando o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou o exército para deter os dirigentes em Tigray que contestavam a sua autoridade há meses, acusando-os de terem atacado bases militares federais. A guerra deslocou mais de dois milhões de etíopes e deixou centenas de milhares perto da fome, segundo a ONU. Os dois anos de guerra tornaram mais de 13,6 milhões de pessoas dependentes de ajuda humanitária no norte da Etiópia, incluindo 5,4 milhões em Tigray. O balanço do conflito continua desconhecido, com a International Crisis Group e a Amnistia Internacional a descreverem-no como "um dos mais mortais do mundo”.

Enquanto isso, os chefes da diplomacia francesa e alemã iniciaram ontem uma visita a Addis Abeba na quinta-feira para apoiar a paz em Tigray, mais de dois meses após o acordo que pôs fim ao conflito nesta região do norte da Etiópia. Durante a visita de dois dias, que ocorre logo após os rebeldes de Tigray começarem a entregar suas armas pesadas, Catherine Colonna e Annalena Baerbock devem reunir-se com o primeiro-ministro etíope, os ministros das Relações Exteriores e da Justiça, bem como representantes da União Africana e activistas de direitos humanos. Eles também planeiam visitar um centro de distribuição do Programa Alimentar Mundial para ver a implementação de uma doação ucraniana de 50 mil toneladas de trigo para a Etiópia e Somália, que Paris e Berlim financiaram com 14 milhões de euros cada.

 

Ataque em Oromia para libertar 480 presos

Entretanto, membros do Exército de Libertação de Oromo (OLA) invadiram ontem uma cadeia no sudoeste da Etiópia e libertaram mais de 480 reclusos, disseram as autoridades locais, indicando que morreram cinco guardas prisionais. A acção do grupo armado, segundo o site Notícias ao Minuto, ocorreu na prisão localizada no município de Bule Ora, no sul da região etíope de Oromía.

"Alguns combatentes do grupo rebelde prepararam uma operação de invasão do centro penitenciário, tendo matado cinco guardas e libertado entre 480 a 500 prisioneiros”, disse o vice-presidente da Câmara de Bule Ora, Girja Urago, em declarações prestadas aos meios de comunicação locais. O OLA é uma facção dissidente da Frente de Libertação de Oromo (OLF), partido que abandonou as armas para regressar do exílio por convite do primeiro-ministro Abiy Ahmed, em 2018.

Desde essa altura a facção dissidente, que combate pela autodeterminação do povo Oromo, passou a ser considerado grupo terrorista pelo governo de Adis Abeba.  No ano passado, mais de 720 pessoas morreram em ataques atribuídos aos combatentes do OLA, na região de Oromía, de acordo com dados da Amnistia Internacional.

O Exército Federal da Etiópia anunciou no dia 03 de Janeiro várias operações militares especiais no sul de Oromía tendo recuperado o controlo de várias localidades. Apesar de alguns deputados que representam Oromía terem exigido ao governo a realização de conversações de paz com o OLA, tanto o Executivo Federal como o governo regional recusaram os pedidos. Abiy Ahmed, de etnia oromo, tem sido criticado por não solucionar os problemas da região, marcados por tensões étnicas, que têm provocado vagas de violência no país.

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