Mundo

Etiópia: Massacre em Merawi pode ser investigado

Uma onda de assassinatos em massa, perpetrada em Janeiro deste ano, em Merawi, Noroeste da Etiópia, que terá causado à morte de mais de 80 pessoas, está a ser alvo de fortes críticas da Amnistia Internacional que exige uma investigação internacional para determinar os autores.

14/04/2024  Última atualização 11H49
Exército etíope é o principal suspeito das mortes em massa na Região Noroeste do país © Fotografia por: DR

O caso, descrito pela ONG como um massacre, teve lugar no quadro de um violento confronto entre o Exército federal etíope e milícias Fano, que atacaram o Comando Militar na cidade de Merawi, localizada a cerca de 35 quilómetros da capital do estado de Amhara, Bahir Dar, de acordo com fontes locais e médicas em declarações ao serviço da BBC em amárico.

Na sequência dos confrontos, os militares do Exército Federal são acusados de lançarem uma busca de casa-em-casa para encontrarem milícias, tendo, em consequência, segundo a Amnistia Internacional, morto uma série de civis, como retaliação. AI dá conta de, pelo menos, 50 pessoas mortas, mas ONG etíopes elevam o número para 90. A intervenção militar terá beneficiado do Estado de Emergência decretado pelas autoridades federais na região, numa alegada tentativa de conter os níveis extraordinários de violência.

A Comissão Etíope dos Direitos Humanos tem conhecimento de que "mais de 80 pessoas morreram em resultado destas buscas 'casa-a-casa', incluindo duas mulheres", sublinhou a AI num comunicado divulgado ontem. A Associação Amhara da América, por sua vez, confirmou, pelo menos, 90 mortos e identificou 47 deles como vítimas de uma "matança indiscriminada" pelos militares após "baixas significativas" sofridas pelo ataque das forças milicianas, segundo a AI. "As forças etíopes efectuaram execuções generalizadas e dispararam sobre qualquer pessoa na rua", acusa o comunicado da organização.

Na "ausência de qualquer esforço credível por parte das autoridades etíopes para investigar o que aconteceu", o director regional da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral, Tigere Chagutah, apelou a uma investigação internacional para apurar responsabilidades, depois de mais de uma dúzia de entrevistados - incluindo sobreviventes, familiares e fontes médicas - terem descrito execuções sumárias levadas a cabo pelos militares nas ruas de Merawi, onde deixaram os corpos espalhados.

A Amnistia alerta para o facto de "as execuções em larga escala se terem tornado um fenómeno horrivelmente comum na Etiópia", sobretudo desde o início da guerra no estado de Tigray, iniciada em Novembro de 2020, que se prolongou durante dois anos.

Neste estado, vizinho de Amhara e palco de um dos conflitos armados mais sangrentos da história recente de África - o Governo etíope estima em 100 mil o número de mortos, mas os mediadores da União Africana referem cerca de 600 mil -, as Nações Unidas registaram mais de 48 "massacres em grande escala" durante o conflito, que terminou com a assinatura de um acordo de paz na África do Sul, em 2022.

Detidos suspeitos de assassinato

A Polícia etíope anunciou, ontem, a detenção de 13 pessoas suspeitas de envolvimento no assassinato, na terça-feira, de uma influente figura da oposição etíope em Oromia, noticiaram os meios de comunicação oficiais do Estado Regional, citados pela Reuters.

Bate Urgessa, 41 anos, líder da Frente de Libertação Oromo (OLF), um partido na oposição, foi encontrado morto a tiro na manhã de quarta-feira em Meki, cidade localizada a cerca de 150 quilómetros a Sul de Adis Abeba, disse um porta-voz do partido. Lemi Gemechu disse que bate tinha sido detido na terça-feira a noite, num hotel, por membros das "forças governamentais", mas não deu mais pormenores.

Tariku Dirbaba, chefe da Polícia da zona administrativa de Shoa Oriental, onde se situa Meki, referiu que "a unidade que investiga a morte de Bate Urgessa" "já tinham detido 13 suspeitos", noticiou a Oromia Broadcasting Network (OBN), o órgão de comunicação social do governo regional. Não foram fornecidos pormenores sobre a identidade dos suspeitos detidos.

Oromia, a maior e mais populosa região da Etiópia, tem estado sob o domínio de uma insurreição armada desde 2018, acompanhada de assassinatos por atacantes não identificados.  A Comissão Etíope dos Direitos Humanos (EHRC), uma instituição pública, mas estatutariamente independente, apelou a "uma investigação rápida, imparcial e exaustiva, para garantir que os responsáveis sejam responsabilizados".

O embaixador da União Europeia (UE) na Etiópia, Roland Kobia, o homólogo britânico Darren Welch, o gabinete do Departamento de Estado dos Estados Unidos em África transmitiu, na rede social X, o apelo do EHRC para uma investigação à morte de Bate Urgessa, reiterando a necessidade de "justiça e responsabilização". Urgessa foi libertado sob fiança em 6 de Março, após ter estado detido durante 15 dias.

A OLF abandonou a luta armada em troca de uma amnistia, do reconhecimento legal e do regresso dos dirigentes do exílio, graças à abertura da arena política que acompanhou a chegada ao poder do actual Primeiro-Ministro, Abiy Ahmed, de origem oroma, por laços paternos.

Desde então, a OLF acusa o Governo de Abiy Ahmed de ter encerrado muitos dos seus escritórios, de ter dificultado a participação nas eleições e de ter prendido vários dos seus dirigentes, alguns dos quais estão presos há vários anos, sem julgamento.

Recusando-se a entregar as armas em 2018, parte da OLF dividiu-se e criou o Exército de Libertação Oromo (OLA), classificado como "organização terrorista" na Etiópia, com acções contra as forças do Governo Federal e Regional, em Oromia, uma região com cerca de 40 milhões de pessoas, a maioria das quais são oromo.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Mundo